sexta-feira, 30 de outubro de 2009

subiam as águas alagando a terra
corpo antes áspero agora dissolvido
húmus resto da animalidade compacta
língua de miséria afogamento insecto
homicida e suicida na deriva ninguém
necessário virar para o dentro dizem as vozes
a convulsão da natureza chuva ritmos
alucinação física do mundo inquietante
corpo sem cabeça água exagero de palavras
bebedeira vazio bola boca silêncio
dentes na carne sangue palavras duras
terra revelando a insignificância da vida
antes era o deserto explosão agora pântano
ó maldita idade amarga que tudo cobres
obscuro o sentir carne rasgada terra
artifício ou viagem gente massa anonimato
silêncio absurdo que te traz a arma
arma absoluta com a direcção do crime
certeiro eficaz plástico virado para dentro

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

dias normais numa solidão que apanha a cabeça de uma forma estranha. ontem fui ao teatro, solitário. hoje fui ao Cunha, solitário. amanhã será outro dia, provavelmente solitário. uma seca. necessidade urgente de inventar projectos para ocupar o tempo. para ocupar o tempo e por uma necessidade de voltar a funcionar. ando com o corpo emperrado. e mesmo a cabeça está sem linguagem. foi demasiado tempo longe das tábuas. demasiado. estas coisas são físicas. aqui fica o desabafo. preciso de falar de vez em quando. chamem-me egoísta se quiserem.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

tenho andado a escrever em cadernos... por isso é que não meto aqui muita coisa... e também como não tenho internet muito regular... enfim... desculpai-me!!!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

é um fragmento de vida carne dentro
respiração desaparecida na sombra tua
impossível lavar as mãos o olhar vítreo
incêndios e paredes caídas sobre o corpo

um dia vinham músicas distantes era o vento
trazia a voz secreta uma arma louca
os cenários palpáveis futuro de brilho
pés descalços olhos ruína uma barreira

corpos amontoados formando ferrugem
chegou e levou a luz silêncios ó maravilhas
despidas cruas sangrentas unhas

um outro lado do mundo tornado a queda
irmãos de sangue escorraçados viagens
terás cabelos de fogo minha boca ferida

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

e é o esqueleto que se sente demasiado apertado. o ar que falta. falta porque não sai. não renova. apodrece dentro. talvez no fundo de tudo a verdade seja apenas uma: não sabes fazer. e este fazer tantas e tantas vezes se confunde com o verbo da vida que já vais perdendo o rumo no simples caminhar. e o ar que se recusa a sair. se morres o ar sai através de ti. o ar foge-te. tens neste momento o ar prisioneiro na tua caixa forte. guardas aí muitas coisas. esse ar pestilento da tua vida vai enchendo as memórias de ferrugem. é uma espécie de guerra. é um amontoado de pó. pó de ossos. membros fragmentários. cabeça voadora e sem pensamento. lavagem. cidade cinza. solitários. lá vão eles em desfiles. claro que nem tudo é dor. também há sempre a ilusão desilusão da vida. aquela que te embala sonhos intermináveis só para te acordar. sempre para te acordar. chuva na janela. no tecto. escorre pelas paredes de dentro. inunda-te a casa. casa. casa. a casa que não tens.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

desabafo do regresso ao teatro

pois então todo este tempo só ajudou a que um gajo ficasse perro. é voltar atrás. devo estar neste momento muito perto daquilo que se pode considerar um amador. fogo. tenho de dar a volta a isto. estou contente mas cheio de cagufa, claro... quem pensa que é como andar de bicicleta que a tire da chuva, não é mesmo nada assim... claro que ainda é cedo e quero fazer o espectáculo da minha vida, cada um como se fosse o último. disto não posso desistir. era o que mais me faltava. lutar pela vida. lutar pela vida. descobrir o sentido para o que se faz. é o que se me passa na cabeça agora. descobrir um sentido. preciso de voltar a ter método.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

as folhas são demasiado grandes para a vida que temos. o dentro e o fora confundidos. deste-me um beijo. o beijo do tempo. senti-me alheio. alheio a mim.
a fase é lacrimejante. fase de fumo.
cheguei à cidade cinza.