quinta-feira, 30 de abril de 2009

Se o traço característico da nossa época é a confusão, distingo perfeitamente na raíz desta confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, entre as coisas e as ideias e os signos que as representam.
roubado do livro O Teatro e o seu Duplo de Antonin Artaud

porque na verdade é uma cegueira ou uma turbulência no olhar que nos acompanha no caminho do tempo. já nada é o que é. já nada se revê na projecção de si. as coisas desintegram-se, desintegraram-se. perdeu-se o nome.
bem, que dia brutal que está hoje!!! fónix!!!

sábado, 25 de abril de 2009

hoje, agora mesmo, acordei com um sonho de um reencontro perfeito, demasiado perfeito. era um sonho demasiado bom para poder ser verdade e por isso acordei. abri os olhos e nada, afinal estava mesmo sozinho. sem o rosto luminoso ao meu lado. é assim, são coisas que me estão no corpo e na vida e com as quais eu não sei lidar. chorei baba e ranho ainda na cama. levantei-me. fiz café. estou a bebê-lo. é insuportável. é não saber como respirar bem a situação. é não ter quem escute. ou quem olhe. de repente sou invisível. desapareci. é um vazio ensurdecedor que se espalha pelo corpo, como se saísse do corpo, como se prolongasse pelo chão e pelas paredes. as paredes brancas que não te dão uma única resposta. tudo desapareceu. é um estar inseguro por dentro e muito muito fraco. e ninguém repara nisso. e não não me estou a lamentar. eu aguento-me. mas foda-se. de repente deixas de ser humano. deixas de saber o que é a vida. deixas de sentir o que é estar vivo. és um calhau. sou um calhau. tornei-me num calhau. estou realmente muito contente, acabei de descobrir o que sou agora, sou um calhau, caros leitores deste blog inútil, estão neste momento a ler uma descoberta matinal reflexiva, num domingo como qualquer outro domingo do maldito ano de 2009 este vosso ser inoperante acaba de descobrir o que é!!! isto é formidável. sou um calhau. ok. foi um sonho. foi só um maldito sonho que me veio atormentar o pouco atormentado e ausente que já andas. mas isso não interessa para nada porque tu és um calhau e aos calhaus não se dá atenções sentimentais porque eles não precisam. isto parece lamento mas não é. um calhau não se lamenta. um calhau está ali. assim. não importa o que sente nem o que deixa de sentir. pronto, acordei com sonhos. e estou acordado. e agora tenho tanta vontade de fazer o que quer que seja como tenho vontade de morrer, ou seja, não tenho vontade de absolutamente nada. não se conhecem neste mundo casos de calhaus com vontades. mas o que interessa isso? o que é que raio interessa isso? silêncio. tenho de aprender a falar com as paredes. mas é assim, cada um tem o que merece. cada um tem o que merece. e agora se me dão licença vou só ali beber um copito de cicuta e já volto.
e se de repente te caísse a pele sintética
ou as lentes desfocadas da protecção ausente
os corpos possuídos e sem direcção
sem direcção
sem caminhos
sem opções
e se de repente te apagassem a luz
ou te tirassem o chão que já nem pisas
o frio a entrar pelo osso de dentro para fora
de dentro para fora
ao contrário
como um bloqueio que não passa

o 25 de abril existiu?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

desabafo grito o que é que isso interessa?

a verdade é que nem todos estamos neste mundo para fazer coisas grandes. há quem já não tenha olhos para lutar. é o abandono das armas. revoluções no sentir. anulação. silêncio. uma boa dose de solidão. uns belos momentos de vazio. palavras nenhumas. paredes brancas. o som não visita os ouvidos. nada chega aos olhos. corpo que anda. entupimento. bloqueio. há sempre quem se afunda nos buracos obscuros do mundo. é a desolação. duros os tempos. duros os tempos. é o fogo que se consome de dentro para fora na ilusão física da vida que caminha. não se pode fazer nada. os braços recusam e a voz não se solta. é o grito interno. o soluço que se torna vómito vazio. de sangue. vómito necessário. é não ter ponto para agarrar antes de partir para o vácuo. algo que suga. só apetece gritar. gritar. mudo. mudo. esquece-te do que és de uma vez por todas. onde é que isso já lá vai.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

e depois tudo se resume ao mais insuportável dos silêncios.

banda sonora dos dias

banda sonora dos dias

quarta-feira, 22 de abril de 2009

esta Europa perde o seu tempo em questões de ideologia, ideologias, ismos, sistemas, abstracções virtuais da vida real das coisas, esta Europa é dependente, orientadora da pseudo-linguagem, defensora do pseudo-direito. esta Europa está segura na sua crise. nem a mais nem a menos. orgulha-se de ser neutra que é o mesmo que se orgulhar de ser vazia. assiste ao desenrolar do mundo em geral porque não quer agir em particular. Europa de tratados e de tratantes. Europa mesquinha. Europa desiludida, sem vida, desiluminada, desmembrada. Europa sem chama e sem fogo. Europa teórica. Europa perdida.

eis que se aproxima um 25...

está a aproximar-se um dos meus temas preferidos da chamada identidade nacional, devo repetir isto, identidade nacional. eis que se aproxima um dos 25's mais famosos de Portugal, talvez este seja mesmo o mais famoso porque ao outro ninguém lhe chama o 25 de dezembro, é o natal e está a andar, este aqui, talvez porque a reflexão sobre o acontecimento ainda seja tão vaga que ainda não permita dar nome à coisa, prefere então ser chamado por aquilo que o define e que na verdade é, um dia, no dia 25 no mês de abril, é simples, o 25 de abril, eu também sou assim a dar títulos às coisas, claro que o artigo antes do 25 lhe dá logo uma identidade única, o 25, bem pensado este truque. portanto, o 25, para mim a maior treta junto com o nascimento de salazar que o rectângulo à beira mar alguma vez viu. todos os anos ao chegar esta data faço a mesma pergunta descarada e nunca ninguém me responde claramente: o 25 de abril existiu? deve ter existido o dia para as pessoas o poderem comemorar, alguns dos quais que hoje são uns carneiros mal-cheirosos até se orgulham de na época serem pessoas activas, até olham com um certo desdém para quem nasceu depois do 25 de abril do famigerado ano de 1974!!! mas uma pessoa não tem culpa, saiu da mãe em 80, é assim... bem, em jeito de composição escolar, o 25 de abril foi muito importante porque se acabou com a ditadura. ditadura? ai, com o regime fascista, porque ditadura... em ditadura vivemos nós, os que nasceram depois do famigerado ano de 1974, porque os senhores que se orgulham de ter inclusivamente sido participantes activos e clandestinos da revolução são neste momento todos uns facínoras que já deviam estar era numa ilha qualquer no Pacífico a apanhar sol na pança e a beber daikiri's. Portugal é um país sem futuro, e o futuro não é tudo, Portugal é um país sem futuro porque também não tem presente. estamos quase a chegar a 25 e vai-se comemorar o 25, uns cravos na mão, a Grândola Vila Morena, o fascismo nunca mais, o há mar e mar há ir e voltar, e depois chega o dia 26 e já se acabou o 25 que para o ano há mais. o país que se orgulha tanto da sua revolução sem fogo está agora metido no mais silencioso medo da vida vivida, o país consciente e político e activo está agora a gozar os ganhos da sua pseudo-revolução porque os sacanas que estão no poleiro e que estãos nas direcções das coisas ainda são os ex-combatentes da clandestinidade, mas que ex-combatentes? mas estão a gozar com quem? uma vez conheci um que se orgulhava tanto que quase rebentava de ter vivido nesse período da história portuguesa, um doa maiores cães que conheci até hoje, sugador artístico do subsídio do zé povinho, digo-vos já, nunca o vi com uma única preocupação artística pelo outro, onde está então a revolução aqui? eu sei onde, na conta bancária, o 25 de abril anda espalhado por contas bancárias. temos um país com horizontes negros, com um desemprego brutal, no limiar da pobreza, com fome escondida ou assumida ou o que quer que seja, e no dia 25 lá se distribuem uns cravos para serem utilizados como bandeiras de coisa nenhuma. e um cravo, que do ponto de vista de poesia e de marketing é uma coisa brutal, espelha aqui a verdade da revolução: que revolução? andavam feitos papalvos a discutir os conceitos de revolução e de evolução, não tinham mais nada que fazer, os papalvos da esquerda e mais os papalvos da direita, com um país morto e quase enterrado, a perderem tempo com jogos de palavras quando a verdade do jogo é muito mais simples: nem revolução nem evolução, a verdade foi a transição do poder, uma passagem normal de um artefacto irreal chamado poder, porque o poder político não existe, o poder político são as pessoas, e as pessoas não se podem eleger em caminhos, nem em ideologias, nem em erros graves que outros não vão pagar. na verdade, Portugal é um país condenado ao esquecimento e ao silêncio. e uma coisa que merece ser dita e com isto acabo este texto: os nossos políticos são uma merda. o 25 de abril existiu?

terça-feira, 21 de abril de 2009

para não estar sempre a cair nos exercícios irreflectidos do estilo, hoje poderia tentar escrever algum texto que se parecesse mais com um texto, olha, começo mal, já a falar do que vai ser... cala-te boca. bem, quero aqui escrever meia dúzia de patacoadas que sejam como uma espécie de dardos destranquilizantes que me atinjam directamente as veias do braço esquerdo e do braço direito, já que escrevo com os dois no teclado do computador e os sacanas nem sempre me acompanham o fio do raciocínio dito literário, espero que tenham gostado desta frase pindérica. vou tentar escrever alguma coisa que nem seja triste nem seja excessivamente alegre nem seja insuportavelmente neutra, uma vez que não há no mundo nada pior do que coisas excessivamente neutras, o ph das coisas saudáveis que me desculpe mas tenho o problema da boca solta. a boca solta bastantes problemas me trouxe mas é descontrolada e eu não a posso arrancar desta cara laroca que tenho porque iria ficar com um buraco que teria de ser preenchido com alguma coisa. e no lugar da boca que coisa mais colocar do que uma boca? e boca por boca... mais vale ficar a original, pronto, tem os seus defeitos verborreicos mas é a que melhor conheço, é ursa mas é minha, hum... que treta de assunto. não quero cair no rame rame dos dias da cinza. ando com sonhos incendiados, tirem as conotações sexuais desta expressão pouco conseguida e nada original, incendiados no sentido de eléctricos, posso chamar a isto ânsias criativas ou o raio que me parta. importante, hoje falei de teatro. o teatro... esse pulha mal-cheiroso. preciso de uma secretária. não se podem escrever coisas sérias nestas posições e as costas já me detestam. também eu já me detesto. cala-te boca solta. um dia arranco-te. uma secretária e música intensa. música, meus caros, música, música que me cale.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

já sabem os meus caros e as minhas caras, que faz parte do processo de auto-ruptura e de engrandecimento da estupidez humana também chamada inteligência, ou vaidade, ou ignorância, ou insignificância, ou arrogância, ou trintaporumalinhância, bem, onde é que eu ia? no processo, portanto, faz parte desse processo de fonfonfon filosófico/tretístico/literário, alguém, não um lugar, já comecei, ter a capacidade de se auto-gozar. o chamado auto-gozo, não pensemos em masturbações ainda, porra, hoje estou sentimentalmente barroco, adiante no tema senhor Pedro Fiuza, adiante no tema... ok, fónix, maldita auto-castração. o meu tema é o auto-gozo não no sentido da auto-ajuda nem da auto-descoberta nem do auto-prazer, é o auto-gozo do auto-escárnio, do auto-maldizer. de repente está um texto chato e sem chama. pseudo-recomecemos. olhe o ritmo senhor Pedro Fiuza, olhe bem, atenção ao ritmo, preste atenção ao ritmo do que escreve, siga a batuta, siga a batuta, coma a batata seu filho da ursa. percebeu? é como o hip-hop, a dança vertiginosa das palavras no vento sôfrego que arranca a pele no momento em que se grita a vida, percebe senhor Pedro Fiuza, tudo isto é poesia, quer falar do auto-gozo? sim. então fale. a sua auto-castração amiga e companheira aqui anda a olhar por si. voltemos ao auto-gozo, hoje, que me sinto esparvoadamente eléctrico, certamente por alguma disfunção hormonal ou por algum engano da cabeça ou pelas passas do charro ou pelo arroz do jantar, bem, hoje só me apatece deitar-me abaixo da maneira que me é mais cara, que é deitar-me abaixo e pronto, depois de lá estar em baixo, está-se lá em baixo, e lá em baixo está-se à sombra, quase sempre é da bananeira seu banana. tens razão. não sei se é pelo aparecimento do bicho branco, o sacana velhaco, mas de repente dei por mim a pensar destrambelhado na morte e no futuro e no presente e no que quero fazer e na vida, essa porca. ora, um mísero pinoco branco dos que não pinocam nada é capaz de deixar um tipo mortiço num estado ainda mais mortiço. não é isto um absurdo gigante? pois claro que é. um pintelho ganhou de repente o tamanho de uma vaca. não sei se a imagem será boa, mas compreendem o medo que tenho ao falar deste tema, deste e de outros, as intimidades são as intimidades, e uma coisa é a poesia e outra coisa é a prosápia, não sei se me entendem o que quero dizer. eu posso escrever poemas enormes sobre o amor, posso usar o amor como referência, aliás falo do amor como podia falar de outra coisa qualquer, mas posso usá-lo como referência, mas há lados que só pertencem a quem os faz, que são sagrados. um pintelho é um pintelho, o eu ser impossível é eu ser impossível, agora, o lado sagrado é o lado sagrado. ponto final parágrafo que raramente faço mas até vou fazer para marcar melhor esta ruptura no texto.
parágrafo. fónix. isto custa. ia no pintelho branco que me fez pensar e no ser absurdo enquanto motivo. é verdade, é absurdo, mas fez-me pensar. eu detesto pensar. detesto. é sempre tão mais simples a curto prazo ser irreflectido. claro que depois ficas com uma chave na mão e sem porta nenhuma para ela abrir. mas também o que guardas religiosamente dentro de ti se pisga num instante de uma respiração. morte por morte venha o diabo e escolha. quem tem medo compra um cão. quem vai à guerra dá e leva. ao menino e ao borracho. é dos carecas. senhor Pedro Fiuza está avisado, o senhor esquece-se, porra pá, o senhor não se controla, o senhor deixa-se ir, eu já lhe disse, ritmo!!! ok. tudo isto para dizer que o maldito pintelho me rompeu a alma. foi um acumular de circunstâncias que levaram ao seu aparecimento. tenho a certeza do que estou a dizer porque é uma coisa que sinto. este pintelho é um sinal do início do fim. do meu fim. isto é horrível. como será possível ir para África careca e com os pintelhos todos brancos? com aquele sol!!! só escaldões no corpo todo!!! já na Europa é tramado e mesmo assim temos tido uns invernos invernosos. é mau na mesma, frio em cima e frio em baixo, um pintelho branco não tem a mesma consistência de um preto ou castanho. é mais fino, quase que mais frágil, quebradiço. por acaso tenho a sorte de não ser muito friorento porque se fosse... casacos e mais casacos, gorros, chapéus, perucas, capachinhos, havia de valer tudo para não rapar frio, fónix, olha olha... estava eu a dizer que estou acabado e que começam a aparecer os sinais da acabadice, não tenho outra vez barriga nem aquelas fuças de bolacha Maria, ainda sou feioso mas há coisas que nem com plásticas se resolvem, em relação à vida ao contrário, é o que é, lá me habituarei a viver sem rumo, as pessoas devem ter todas o que querem e é normal que haja os que caem no famoso saco roto. antes num roto do que num azul, mas enfim... ainda acredito que bahhh já não acredito em nada, mas o tema não é este. um gajo ri-se ri-se mas o pintelho branco está ganho. agora não me apetece escrever mais. quer dizer, até apetece, mas também quero fumar um cigarro e ouvir uma música. depois logo escrevo mais. agora quero esta: a versão dos Psychic Tv dos Pink Floyd, Set Controls for the Heart of the Sun. é o que vou ouvir. mais um cigarrito. amanhã volto ao assunto, ou não, o que interessará isso agora?

domingo, 19 de abril de 2009

já sei que este blog por vezes assume umas características bastante ambíguas, textos demasiado pessoais e etc... etc... mas o que é que se pode fazer??? o autor tem o vício da exposição de si, é uma coisa contra a qual não pode lutar, é realmente mais forte do que ele. ele? ele nada, eu, estou a falar de mim!!! pois, meus caros e minhas caras, leitores e leitoras, o que me terá passado desta vez? uma coisa terrível. toda a gente que me conhece sabe que estou a ficar careca, é insuportável mas é a verdade, careca, lá se me vai o cabelo aos poucos, lá vai caindo sem dizer nada e sem dar satisfações ao dono e o caneco... normal, é a idade que vai aumentando e por aí em diante nas desculpas esfarrapadas do tempo. este texto está sem ritmo. tentarei corrigi-lo ao longo do processo de escrita, mas é que estou numa posiçaão incómoda, falta-me uma secretária. bem, voltando à história, outro dia estava eu na casa de banho de casa, metido nas minhas intimidades, não vou descrever os processos porque não vale a pena, vou só contar o básico... lá estou eu nas intimidades e de repente olho e zunga, alguma coisa anormal me chama a atenção!!! digo, foda-se!!! o que raio será isto!? então não é que tenho um pintelho branco!!!??? um pintelho branco!!! é só um, o que é pior ainda, se fossem mais de certeza que era já uma norma, mas não, é apenas um. ali está ele, imponente, quase magistral, insuportável aos meus olhos. se o arrancar nascem sete, isso não quero, seria aborrecido, nunca o tal, porra, estou velho, velho não, estou a envelhecer, a idade está a chegar-me a todo o lado. não gostei, até saí de casa com uma certa vergonha, parecia que tinha escrito na testa que tinha um pintelho branco!!! detesto-o. está ali, diferente dos outros todos, a armar-se, feito papalvo sacana, como quem diz estás acabado!!! e depois, imaginem, sobressai, tem uma espécie de luz própria, até chega a parecer muito maior do que os outros companheiros de função, é como se fosse o pintelho presidente da junta, o comandante velho das tropas. um pintelho branco é significativo, é uma marca do tempo, já sei que os cabelos e tal e coiso, mas na fase em que um gajo se encontra... um pintelho é um pintelho!!! e o pintelho, que costuma ser usado como unidade de medida para coisas ínfimas assume aqui um gigantismo e uma dimensão inimaginável, é que agora sempre que vou ao wc fazer o que tenho mesmo de fazer não posso consigo ignorá-lo sequer, ali está ele, o sacana, branco, imenso, ameaçador, gozão, é horrível. caros leitores e leitoras, estou pintelhosamente acabado. é horrível uma pessoa sentir-se assim, mas ele ali está para mostrar que isso é verdade, o grande velhaco, a assumir-se, é que nem imaginam, fiquei deprimido uma tarde inteira às suas custas. ora logo agora é que me havia de aparecer uma cena assim??? fogo, já não me bastava esta treta de vazio de sentido e ainda tinha de me aparecer um reles pintelhito exibicionista e vaidoso só para me provocar arrelias e crises de ansiedade!? ó catano, sorte macaca!!!

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sábado, 18 de abril de 2009

mas o que é que isso interessa?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

eram assim os dias. como passageiros. acordavas de manhã e seguias o rumo que o tempo te trazia. já não esperavas nada nem ninguém. já não eras uma sombra. eras um fantasma. conheceram-se numa idade nova. tu um pouco mais velho. o suficiente para que isso fizesse confusão ao que rodeava as coisas. como se isso do amor fosse um qualquer crime que se atirasse à cara dos que se amavam. amavam? amariam? depois do tempo passado e dos sulcos que tens na cara, nessa cara sofridamente triste, já não sei se se amavam. o jogo dela era perigoso, meu caro, o jogo dela era muito perigoso e a fome só a sente quem a tem. quando pensas no que te tornaste nem sabes o que és. um resto. rasto. esqueleto que chora na noite às escondidas dos vizinhos, silenciosamente. é verdade, doem-te as pernas, tens a cabeça líquida, sentes-te sozinho, mas e depois? não é verdade que no fundo de um arco iris há sempre um pote de ouro? só tens de esperar a conjugação certa da humidade e da luz. só tens de esperar o impossível. só tens de voltar a arranjar armas. estás condenado a uma guerra eterna e estás ao mesmo tempo condenado ao esquecimento. mas é como tu mesmo dizes, a fase é de anulação, a fase é de esquecer, mas, foda-se, esquecer o quê? esquecer que és um eterno mendigo da vida? para quê? queres lutar com o inevitável? andas triste? andas deprimido? anda cala-te caralho que há muitos pior do que tu, ah, claro, do outro lado do mundo... és mesmo burro, os livros não te serviram para nada, até já tos querem dividir, convence-te da situação, tu morreste meu cão, tu morreste, com outro tudo será melhor, não se trata de ser diferente, não, trata-se de ser melhor. o que tu queres não interessa. nunca interessou para é que te pões com tretas? já tens idade para sacar a máscara. és o que és. esterco. um rasteiro. quando te dizem que o amor não é tudo o que será que querem dizer? sabes? não? é simples. dizem-te que não serves. isso basta. não serves. TU NÃO SERVES. deixa-te andar por aí com a tua merda de insignificância. de preferência longe. onde nenhuns olhos te vejam.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

a ser insecto
a ser esmagado pela força da vontade
pelo desenrolar maligno do mundo
o menino é obscuro
o menino é malcriado
mas que menino?
já não há cá menino
já não há cá menina
já não há cá nada
nicles
a estrada da ida deixou de ser a mesma do regresso
e estás bem?
é a pergunta frequente
sim, estou muito bem
estou tão bem
ó pra mim tão bem
estou tão insuportavelmente bem
ó tão bem
tão bem que se tivesse uma corda mental já estaria com o cérebro sem sangue
tudo isto do tão bem que estou
o menino espera?
claro que o menino espera
espera até deixar de ser menino
e depois de deixar de ser menino?
depois de deixar de ser menino perde a magia
e a espera passa a ser uma dor
uma ferida
uma cicatriz bem no centro do olhar
quem muito procura nunca encontra a direcção
mas que direcção?
o menino está calado
mas que menino?

terça-feira, 14 de abril de 2009

a ter uma faca gigante nas mãos
uma espécie de faca que mutila
apenas mutila
das que se vai metendo na ferida até chegar ao osso
e nem aí parar
só parar na separação total
absoluta
aniquiladora do tempo
aniquiladora dos olhos que já não podem mais ver
é possível que haja uma verdade louca nas coisas
e que só eu a não conheça
claro que é possível
é demasiado possível
demasiado lamentável também
mas mesmo assim possível
uma verdade no corte fatal do corpo
na miséria da cabeça
na ascensão automática do caos do cérebro
da porcaria atroz das palavras
nestes ressentimentos sanguíneos
nesta camuflagem
fuga
lamento na orientação
respiração frenética em movimentos ansiosos
memória do acordar na merda do hospital
oh como tudo isso é ridículo
absurdo
abstracto
de qualquer maneira foi o fogo que te apagaram
as mandíbulas que te levaram os ombros
ou a vontade
ou a visão
ou o umbigo

segunda-feira, 13 de abril de 2009

amante moribundo do destino da fome
com o sabor triste do acaso na boca
é um vazio que te aperta o estômago
faz-te vomitar o som nulo que te ocupa
que te invade os membros
que te faz olhá-los
que te faz pensar na sua visão carnívora
na sua utilidade expansiva
amante de cartas escondidas
sem diamantes
ou pérolas
ou tesouros
que dia amanhã será nos sonhos que já não tens?
que segredos te escondem as pedras?
que fascínio te provoca a cegueira?
condenado a vagabundo
a ser incerto

domingo, 12 de abril de 2009

há pessoas no mundo que nos ficam atravessadas na garganta como se fossem espinhas. ficam até que se fique com a garganta ferida. depois ou o corpo as cospe ou o corpo as envolve, começam a fazer parte da carne, tornam-se no eu que as acolhe. tudo isto é ridículo. coisas atravessadas são sempre coisas por resolver. são silêncios impostos pelo desenrolar das coisas. a verdade é que é como se tivesses morrido. não me sinto como se tivesse acabado nada. morreste de uma forma brutal. poderia comparar o peso disto com a última cena da Castro. chega o mensageiro e diz a Pedro que ele acaba de perder tudo. como é que ele fica? um vagabundo pedinte no meio dos destroços da gente. sem respostas. com a voz perdida no vento. quando a única coisa que te responde é o silêncio ensurdecedor do nada que te ocupa. tudo isto é demasiado triste. não há nada pior do que isso. podem fazer-se trinta mil coisas. inventar fugas. desenhar corpos. meter conversas em sítios. olhar para as paredes. beber de mais. cair no chão. nada faz passar o estar triste. é uma condição revoltante. tenho pensado demasiado neste tempo e não consigo chegar a conclusão nenhuma. são caminhos opostos. uau. que beleza há então no tempo? o que terá sido tudo isto? enganos da vida? uma cegueira qualquer? já não consigo dormir facilmente. ali fico na cama, de olhos abertos, evito deitar-me, durmo pouco, antes tinha o adormecer mais simples do mundo, agora custa-me. o que é que interessa isso? já nem tenho voz. já nem sei se tenho vida. sinto-me demasiado vulnerável, frágil, desconectado, saturado. mas o que raio importará isso?

sexta-feira, 10 de abril de 2009

banda sonora dos dias

esta é uma boa tradução deste estado inquieto, deste estado de pele em desintegração, destes arranques, desta maldita ansiedade, desta traição precoce da cabeça. rupturas com a vida. anulação. morte prematura. cabeça em silêncio.


já nem me lembrava,
o autor mau feitio deste blog deseja a todos os seus leitores uma santa páscoa, cheia de comidas e companhias e alegrias e etc... etc...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

há os abutres
ah que se fodam os abutres
comedores da carne mórbida do esquecimento
sim, estou pesado
sinto-me pesado
apertado
explosivo
sou assim
sou assim
tenho histerias compulsivas
misérias
fracassos
merda até ao tecto
foda-se acabem com tudo de uma vez
dividam-me o sangue
no meio do esterco em que abri os olhos
revoluções na forma
bahhhhhh
merda para a carne
treta para os orgãos
fogo para a cabeça
não, não tenho nada
umas ilusões guardadas mas sem valor comercial
e isso não conta nestes dias
é a morte do olhar
morte do olhar
dividem-te os restos
com uma merda de um descaramento
paga paga paga paga
paga paga paga paga
come vazio
bahhhh
caralho

cadernos de barcelona

não conseguir escrever textos longos. usar o texto como um disparo. lembrar o chato do Baudelaire. textos tiro. textos disparo. textos estilhaço. estilhaçados, na verdade. na verdade, estilhaçados. sem avanços. suspensos. algures em lado nenhum. no vazio insuportável da cabeça e da vida. ah foda-se.

banda sonora dos dias

quarta-feira, 8 de abril de 2009

banda sonora dos dias

já não sei o que é. havia uma casa que era vermelha. ficava num cimo de um monte e era rodeada de árvores. corriam crianças à porta. todos eram demasiado felizes. era um sonho filme. com a luz certa do sol. as crianças com a roupa clara. uma que era menina tinha um vestido branco e corria à minha volta. atirava-me ao chão. e depois vinha um menino e começava a fazer-me cócegas até me deixar metido para dentro. e depois vinhas tu. e eu puxava-te. estavas estranhamente brilhante nesse dia. eras uma espécie de ponto luminoso que entrava nos meus olhos. de repente estávamos os quatro no chão e ríamos abraçados. todos nos abraçávamos. éramos todos o mesmo. não tínhamos muito, bastávamo-nos. cada um de nós tinha a sua vida que era única mas ali juntos não precisávamos de mais nada.
este espécie de fragmento de película é uma referência nos meus sonhos. ora, como fazer com que uma referência se evapore? se torne de repente pó, cinza, algo menos do que o mero nada? é fazer com que tudo se torne numa inversão estranha das coisas, tudo do avesso, sem nenhum direito que se consiga vislumbrar, ou imaginar, ou mesmo sonhar, é impossível quando já tens a referência, não há nada melhor do que a referência. e nem se trata de referência, trata-se de ser corpo já, de ser sangue, de ser dentro, de ser vida. de ser história.
é obrigar a cabeça a uma forma de solidão. é tornar o dia de cada vez num suicídio lento, difícil, custoso, sem objectivo, sem finalidade. comer respirar com umas evasões pelo meio que se focam nesse mesmo suicídio lento. no queimar da cabeça. quanto mais depressa se queimar a cabeça mais o corpo só tem que aguentar. e um dia está uma chuva terrível e está-se numa cidade qualquer cheia de ladrões algures em África, é-se um vagabundo da vida. tem-se uma mochila com uns cadernos e a roupa que se traz vestida. a fome já aqui deixou de existir. já todos se esqueceram. já tu te esqueceste.
há uma casa que é já azul ou verde ou outra cor qualquer num monte qualquer. e haverá os monstros obscuros da vida que não se souberam colocar nas coisas e que deixaram de lutar porque não queriam lutar, eram monstros que pensavam que se alimentavam de ilusões. o mundo está cheio de histórias assim. da luz à obscuridade. de pessoas que se tornam fugitivas da vida que não podem ter. enfim... já nem sei o que diga. é aguentar. é aguentar.

cadernos de barcelona

que se acabe a cinza
que os pássaros venham
esburacar-me a cabeça
com um bico de osso

terça-feira, 7 de abril de 2009

todas as pessoas têm a mãe mais linda do mundo. e como todas as pessoas também eu a tenho. pois a minha mãe mais linda do mundo faz hoje anos. se estivesse na terra de certeza que lhe dava um beijo grande e bebia um copo com ela... mas não estou, tenho de me ficar pelo telefonema e por andar com ela no pensamento, a vida é assim e ela de certeza que o compreende. escrever poemas ou livros inteiros para uma mãe já está demasiado visto, não vou fazer nada disso, tenho-a só aqui comigo, todos os dias e a todas as horas. parabéns mãe. teremos outras oportunidades para beijos e para copos de alegria. hoje bebo um por ti. nestas coisas da vida as distâncias são tão insignificantes que quase que assustam pela sua presença. o que resta é tentar evitar sentir saudades e continuar a insistir na luta. tudo se há-de resolver algum dia. um beijo gigante e um abraço apertado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009



quarta-feira, 1 de abril de 2009

banda sonora dos dias. este gajo é o maior.