terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Não me lembro bem do seu nome. A minha primeira mulher. Rapariga abrutalhada do campo, fresca de carácter, rude no trato, uma mulher de pelo na venta apesar da pouca idade que tinha quando a conheci, sairia aos pais certamente, ou aos avós, ou ao rebanho das cabras que guardava pelo monte fora, porque isto há vidas tramadas e a ela tinha-lhe saído uma, já para não falar que me tinha eu atravessado no seu caminho para a tramar ainda mais. A minha primeira mulher do acaso era uma pastora. Encontrei-a no monte numa das minhas passeatas de quando era mais jovem e me dava para isso, pegava na manta e lá ia eu dormir ao relento, respirar ar puro, beber uma garrafa de tinto mau e comer um pão com toucinho. Era a idade da inocência, tinha lido poucos livros e as politiquices não se me vislumbravam no caminho. Lá ia eu pelo monte acima quando vejo uma miúda que falava maravilhosamente para as cabras. Sempre fui dado a visões românticas, sou assim, mesmo velho que não me cheguem com açúcar que eu derreto, bem, lá ia eu quando dou de trombas com este espectáculo impensável e único, uma moçoila brilhante, no meio do nada, meia descascada do tempo, a falar com cabras, a trata-las por tu. Enfiei-me atrás de uma árvore e fiquei à espreita, via tudo com o meu olhar abutre da mocidade. Via-a cagar e mijar ao relento com a naturalidade do hábito. Invejei-lhe a carne tenra e os poucos pelos que a cobriam. Não podia evitar um encontro que o destino ali tinha proporcionado, que me tinha proporcionado a mim, que ela aqui era um apêndice da minha viagem de mendigo. Ela tinha acabado de sentar-se. Dei uma volta grande para lhe poder aparecer pela frente com a distancia suficiente para não lhe pregar nenhum cagaço. Fartei-me de andar. Estava de frente para ela mas era-lhe ainda invisível. Avanço para ela a esbracejar como quem pede auxílio, ou água, ou uma porcaria qualquer desde que sirva de isco ao jogo maldito que lhe servia numa bandeja fria. Ela consegue finalmente ver-me. Retrai-se. Claro, estava ali com as cabras e há muito bandido por aí. Começo eu a gritar-lhe que não tenha medo, que não tenha medo, que estou só de passagem, ela levanta-se, com o cajado na mão como se estivesse disposta a lutar para se defender, coitada, se lhe quisesse comer a bucha já a bucha estava comida, sempre tive calma nesta refeições e sempre gostei do jogo. Vou falar contigo filha. Vou falar contigo e quando estiveres mais calma dou-te o remédio para a tosse que ando aqui há não sei quantos anos a aguentar os sapos na garganta. Quando estiveres mais relaxada já te digo como se apanham moscas. Chego-me mais perto, com o meu ar inocente de jovem meditativo, ela deve achar-me simpático, baixa o cajado e espera por mim, pergunta o que quero, eu digo-lhe nada, que estava só de passagem e se posso sentar-me um pouco a seu lado, ela diz que sim, está no papo, é desta. Lá nos sentamos. Conversa de treta de quem está no monte. Tudo monossílabos. Como se chama disse-me mas não me lembro. Talvez um nome de flor, ou de bicho, não interessa, os nomes são como as recordações mais parvas, esquecem-se e pronto. Ali estávamos nós sentados quando ela me começa a fazer perguntas sobre coisas íntimas, perguntava e ria-se como se soubesse a resposta mas se envergonhasse de a saber. Eu ia respondendo, claro, estavam lançados os dados, era só comer o que viesse. Passados uns momentos estávamos a falar de beijinhos. Ora, agarro-lhe no braço e espeto-lhe com a língua na boca enquanto a puxo para mim. Ela muito corada lá começa a dar à língua também, com a inocência de quem só ouviu relatos, puxo-a para cima de mim, sento-a nas minhas pernas e esfrego-a com as mãos loucas. Aproveito-me descaradamente da sua inocência. Toma lá dedos. Abro as minhas calças e meto-lhe a mão no meu caralho mais do que contente, no meu caralho inquieto, digo-lhe que o meu pardalinho está contente por vê-la e que quer conhecer a sua passarinha. Ela cora, claro, inocência. Lá lhe destapo as pernas. Pernas de menina. Meia dúzia de pelitos que lhe decoram o papo, tiro-a de cima de mim e deito-a sobre a erva. Digo-lhe que o meu pardalinho quer dar beijos na sua passarinha, entretanto vou-lhe dando beijos com a boca no seu sexo tenro, encosto-lhe o caralho à sua cona virgem e ela diz-me: “é por aí que eu faço xixi”, deita-me ali abaixo a altivez, esmorece-me ali a arrogância do sexo, respondo: “não faz mal”. Dou-lhe mais uns beijos na cona despida, levanto-lhe mais as pernas e meto-lho no cu, não teve tempo de dizer nada, deve ter mordido os lábios. Vim-me como um louco dentro de si. Era a primeira vez de ambos. Eu já tinha tido várias companheiras, as mãos muitas vezes, o roçar-me nos sítios até me vir enquanto pensava nas minhas estrelas de cinema preferidas da altura, muitas foram minhas sem o saberem. Mas esta, que eu agora não me lembro do nome foi a minha primeira de carne, não digo real, também as outras tinham sido reais, digo de carne. Vim-me no cu dela. Ela não chorou. No fim perguntou-me se era aquilo que os adultos faziam, eu disse que alguns sim, que outros preferiam apenas esquecer e fechar os olhos enquanto aquilo durava, que para muitos aquilo durava o tempo de uma eternidade aborrecida. Estava a ficar escuro. Tinha de voltar, ela, eu por ali ficaria. Disse-me: “vamos voltar a encontrar-nos?”, eu digo-lhe que só se ela quiser. Ela disse que sim. A minha primeira mulher de consentimento. A primeira que me disse sim, aquele sim que se imagina nas idades da mudança. Voltámos a encontrar-nos várias vezes. Descobrimos o sexo juntos. Fodemos de todas as maneiras e feitios. Cuspimos várias vezes o outro da boca e limpámos o outro outras tantas vezes do sexo, escorremo-nos pelas pernas abaixo enquanto íamos para casa. Era bom. Mas a vida... o monte... o mundo... na verdade o que nós tínhamos era amor, talvez um amor rude, mas o amor não tem de ser delicado, chegávamos e fodíamos e até à próxima vez. Estes tempos arrastaram-se muitos tempos. Já era quase natural. Ela fazia parte da minha vida de poeta, musa das minhas palavras de vento e de chuva, imagem perfeita da beleza pura, inocente, minha, de nada. Um dia passo e vejo-a na fonte a falar com um rapaz, bem vestido, mais novo que eu. Aproximei-me deles e falei-lhe a ela. Ele foi-se embora. No dia seguinte a mesma coisa. No terceiro dia mesmo no momento em que eu chegava ela diz alto para que aquilo soasse nos ouvidos dos três presentes: “Bruno”, nunca mais esqueci este nome, “Bruno, vamos embora que eu não conheço este senhor.” Matou-me ali. Morri uma boa parte de mim nesse dia e eu era ainda novo. Aquela negação pública do amor. Não foi o eu ter sido maltratado na frente de um engravatadinho que a merecia mais do que eu, foi o sujar de uma coisa que era na minha cabeça limpa, foi o acabar da esperança, da descoberta, foi o início desta feitiçaria malvada que não me deixa ter respeito nem acreditar que as mulheres amem. As mulheres querem ser bem fodidas e acreditar em sonhos. Não há cá descobertas. A beleza está na cabeça dos homens. A mulher consegue foder e pensar na cabra que lhe foge naquele momento, não é por mal, consegue fazer isso porque o seu corpo lhe permite. O homem, por muito que queira cumprir calendário... se não levanta o membro é porque não levanta o membro, o homem não tem grande capacidade de esconder o desejo ou o não desejo. É também por este facto que as mulheres conseguem ser mais dissimuladas que os homens, são mais capazes de apunhalar por trás, de esconder tudo até já não haver regresso, de aguentar a foda de um enquanto preparam a cama do outro. Depois desse dia comecei a segui-la sem que ela notasse, encontrava-os nos mesmos sítios em que os dois tínhamos estado, imagens em que nem eu acreditava, ela controlava-lhe os movimentos, encostava-o a árvores e chupava-o até que lhe saíssem todos os órgãos pela ponta do caralho. Como me doíam aquelas imagens, ainda hoje me doem. Mas mesmo assim eu não a largava do olhar, queria saber tudo, investigar tudo, como se precisasse de um termo de comparação, como se precisasse de me provar que eu era melhor que esse Bruno, rapaz finório com tiques de boa educação, cheio de promessas de boa vida no palavreado rebuscado. Passados uns meses andava ela com uma barriga que para todos era considerada uma doença. Ele não quis casar com ela, deixou-a por ali, com uma barriga doença, ela suicidou-se uns tempos depois. A minha mulher que eu não lembro o nome nem me esforço por lembrar. Chorei a sua morte como ninguém sem que alguém percebesse o porquê. Eu era o louco de serviço. Deixei a minha terra e fui para a cidade grande. Precisava de viver. Muito vivi. Mas nunca me saiu da cabeça a pastora. A pastora que eu amei secretamente, um amor impossível como qualquer grande amor. Depois vieram outras mulheres. Mulheres mulheres. Corpos despidos nas noites húmidas. Corpos que se escorriam pelas pernas. Sempre um vazio. Um sexo arrogante com um prazer louco. Descobri drogas. Descobri textos. Descobri gente. Os tempos agora são outros. Estou velho. Vivo de memórias. A pastora que amei como quem ama a vida. A pastora com quem fodi na descoberta que queria foder com esquecimento. Que queria perder o ritual, a nossa bandeira, o nosso amor puro. Ela tinha catorze anos. Eu tinha vinte e cinco. Idade da nossa morte prematura.

domingo, 28 de dezembro de 2008

bem, lá passou o Natal na terra, os dias loucos, os exageros diversos da quadra e dos amigos, as arrelias do costume com as coisas do costume. muita coisa que vem para ser pensada. muita coisa que se torna insegura. chega-se a pontos em que não se sabe qual é o ponto em que se está, tenta chegar-se à conclusão que se está no mesmo mas a verdade é que não, tudo se desgasta. é caso para dizer: merda. mas não venho chateado nem triste, venho frustrado, é assim. sem desenvolvimentos de maior na vida. que tenham todos uma época festiva muito boa.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

poema

o meu nome é um enigma. chega de falar de mim. era uma vez uma história. havia ouro nos bosques. crescia nas árvores e apanhava-se no chão. se não tinhas cuidado ao beber a água límpida engasgavas-te com as pepitas livres que te raspavam na garganta. o ouro nos bosques... bela história. era o tempo do ouro. e depois de um tempo vem outro. e depois desse outro. e depois desse vem outro. e assim por diante até à última estação. no meio do mundo há um rapaz preso num tempo. vários rapazes. raparigas. cada um preso no seu tempo. todos esperam a sucessão cíclica da idade. todos com o bosque de ouro na cabeça. com a inocência. o amor. a liberdade. no meio do mundo há um esquecimento. há vários esquecimentos. palavras que voam. músicas que soam. imagens que entram pelos olhos dentro. que batem no fundo do despertar. os nomes são enigmas porque a vida se vai tornando num enigma. em diversos enigmas. os bosques em que há ouro. alguns. ardem. tornam-se silenciosos. o ouro lá anda ainda mas não cai das árvores. já ninguém bebe a água cinza dos regatos. o ouro está lá só como uma semente de alguma coisa preciosa mas já indefinível. está como uma semente de magia. como um recordar ardente. incendiado. exposto. palpitante. à espera da luz. do tempo seguinte. de uma nova melodia que vibre para as árvores. por entre as árvores. com o sol lá fora. em cima. a bater confortável e quente. deitados na erva miúda e fresca das manhãs. a comer maçãs. laranjas. a beber a água límpida que corre até parecer não ter fim. os risos soltos. a campainha da escola ao fundo. o cheiro a café quente. os lençóis frescos do amor. aquele beijo. a memória das mãos nas mãos. das cartas. dos poemas tontos. de chorar de alegria. de chorar de tristeza. do chorar só chorar. do rir. o ouro no bosque é uma casa. vermelha como as casas dos bosques. nada mais tenho a dizer.

a fase...



quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

fazer teatro?

há várias razões e todas elas são construções imaginárias. a primeira é porque se começou e se chegou a uma altura em que se lá estava. esse é o início do problema. é aí que começam as razões que decorrem desse acto inconsciente. o teatro aparece. depois está-se nele. depois justifica-se a permanência. a minha primeira razão é porque me vejo como o centro do meu problema e procuro mais respostas do que resoluções. enquanto vou procurando mais respostas mais problemas encontro. é um ciclo. a segunda razão tem uma ligação com uma perspectiva do mundo. aqui tenho sido claro. é a dramaturgia do mundo que interessa. não é que o mundo seja interessante para a cena, é que o mundo é tão pouco interessante que é importante passar a vida a desmascará-lo. desmascará-lo funciona aqui em sentido inverso com o que se imagina do teatro. há quem prefira mascará-lo. há quem use máscaras para voltar ao centro da vida e há quem prefira anular a vida e destruir as máscaras. tudo isto é teoria. realmente, chega-se a um ponto em que não se percebe o que se faz no teatro!!! pior, chega-se a um ponto em que não se sabe se se está no teatro!!! ela anda lá, mas as distâncias, o entorpecimento, o vazio, o não desenvolver problemas!!! é que o não desenvolver problemas é o caminho errado do teatro. fazer teatro é procurar os problemas. já não se trata de enfiar a cabeça no mar das respostas. não há respostas nenhumas. há formas. há perspectivas. há estéticas. o teatro pode muito bem ser virado para dentro. pode ser um enigma individual. muito provavelmente sou muito melhor no teatro do que o que sou na vida... é assim... é a sina!!! porque há questões de sina!!! já nem tenho paciência para joguinhos. o teatro que quero fazer é um teatro assumidamente filosófico, estou-me nas tintas para que seja compreensível, há tanta coisa que não o é, e estou a falar de mim, quantas e quantas vezes não fui eu já incompreensível??? nas minhas atitudes rasteiras, na minha sacanice, na minha velhacaria??? já lhes perdi a conta. e depois tenho as minhas influências reles no mundo artístico... as poesias... os gajos das rupturas... é difícil viver assim... por incrível que pareça vou voltar a fazer o Dostoiévski!!! já ando a meditar o crime!!! já sei que vou voltar ao buraco negro e fundo e que neste momento sinto-me verdadeiramente pronto para o fazer!!! sem falsas modéstias ou arrogâncias!!! neste momento sinto aquele ritmo, aquela palpitação, aquele remoer interno. é um espectáculo que podia ser feito todo numa língua estranha, só com sons do fígado!!! ser actor, para mim, é ter uma necessidade de se lavar. é como quem escreve para exorcizar fantasmas de dentro. a única coisa que aqui poderá parecer estranha é o porquê mostrar uma coisa assim tão egoísta??? é fácil, porque sem o público não seria experiência. sem o público não seria um exorcismo/sacrifício, na verdade o teatro está a um passo do suicídio, é um jogo perigoso, quanto mais perigoso for para quem o faz mais interessa a quem o vê. a história está contada. a Castro: há uma mulher que é morta numa determinada circunstância, quanto mais absurda for a circunstância, mais absurda é a morte da mulher, mais absurda é a solidão dos que ficam, não há rodeios nenhuns no argumento, há linhas de força, uma linha política, uma linha humana, coisas que se perdem e coisas que se ganham, mas a verdade da história é a morte da mulher, só isso é que interessa. no Subterrâneo (nova e mais uma versão), há um marmanjo que está acabado num buraco, a história não é o porque é que ele está acabado, a história é o como é que ele está acabado e diz o que diz!!! com a boca cheia!!! como se tivesse um orgulho secreto no que atingiu, ou não atingiu. fazer teatro é, para mim, simplificar coisas que eu não sei fazer na vida. para mim, é tudo muito mais claro num palco, as linhas são mais rectas, talvez menos interessantes... mas é o que sei... queria era um grupo de actores dos que comessem a madeira e uma sala que eu logo havia de gritar, sobem-me já uns calores, umas ânsias, umas angústias!!! tanta gente sem nada para dizer que se pavoneia por aí, pelas estreias parvónias, que até metem asco com as figuras que fazem... ai... até fumo!!! uns bananas... com a boca cheia de ar, que só querem é dormir sossegados, ir de férias relaxar, dizem uns disparates uns para os outros, riem-se todos, palmadinhas nas costas, fazem umas cenhangas a piscar o olho à moda e ao ministério... era metê-los a carregar baldes de massa logo às sete e meia da manhã que até haviam de ganir!!! e podem muito bem enfiar os prémios que tiveram ou que querem ter pela goela e morrer com eles atravancados na garganta que só conhecem para mandar papaias para o ar, cambada de ciclistas, com o paleio da esquerda unida, meteis-me fastio!!! ai ai ai... qué vivan las vacaciones del teatro!!! na semana passada estive a falar com uma actriz daqui, de vez em quando acontece-me, ora diz-me ela depois de uma converseta bem disposta, boa sorte!!! disse-lhe logo: tu é que precisas, eu estou de férias!!! e, umas semanas antes, ela tinha ido ao restaurante e tinha pedido uma água!!! e eu contei-lhe a piada: sabes o que diz um actor empregado a um actor desempregado??? e ela, não!!! e eu: traz-me uma água!!! hehehe que parvo... mas então... dá-me para isto... o que é certo é que qualquer dia vou ver um espectáculo seu e sei que me vou enervar!!! eu sei... estas coisas enervam-me!!! também a mim tudo me enerva!!! sou um bocado explosivo, fervo em pouca água e por aí em diante... mas hei-de fazer o quê??? enervo-me!!! isto é um problema que eu tenho de resolver sozinho, não vale a pena pedir ajudas. hei-de chegar a um ponto em que me esteja nas tintas, em que aprenda a relativizar, mas até lá... vou fazer o quê? ando aqui carregadinho de ideias, cheio de ânsias, o mundo a girar, eu a girar no mundo, nem sempre os dois na mesma rotação... ó pá, é tramado... mas é o que há. é o que há. sabem o que vos digo? sinto-me velho e cansado. e ainda nem aos trinta cheguei... ele há vidas miseráveis...
por favor, acabem as obras!!! só me apetece gritar. sobem-me logo umas ânsias pela manhã. desato logo a fumar, a fumar, a fumar. a dizer mal do mundo. aquelas marteladas. as maquinarias que parecem metralhadoras... que fastio!!! que já tudo se me enerva. se me fazem ir aí dou-vos umas cabeçadas. chamem a polícia se quiserem. chamem quem quiserem. deixem-me dormir um dia descansado!!! parece que estão a deitar as paredes abaixo. ai que nervos!!! acabem com isso. é com cada salva... só me apetece é tomar comprimidos para esquecer, ou para dormir, ou o que é...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

explodir. fumar. fumar. fumar. explodir. corpo invisível sobre o corpo que funciona como uma massa tensa. andar rápido. não pensar. acção. mundo em fuga. tempo. congestionamento. preguiça. vergonha. tempo. aguentar. explodir. quando? ruído de guerra. saturação. saturação. aguentar. voz. velocidade. libertação sem vista. grito surdo. tímpanos perfurados por máquinas insuportáveis que te fazem levantar da cama e gritar inutilmente para o outro lado. que lado? lado do mundo que não chama mas que te puxa para si. não te pergunta nada. estás no meio da guerra. acordas e estás no meio da guerra. e já não és criança. e ninguém te disse nada. bebe mais um café. fuma mais um cigarro. esquece. esquece. diz bom dia na escada de casa. apanha chuva. chuva. frio e chuva. erosão. respirar. transportes. rostos vazios de medo. olhos infinitos. maquinaria. seguranças com cães. criminosos do pequeno delito. saltar coisas sem pagar. rir da inocência das regras com a consciência do seu lado absurdo. se não houvesse crime. se não houvesse amor. prisões. famílias. casas. coisas estampadas na cabeça. na verdade só estás longe. só apetece explodir. ganas de explodir. de partir pedras com as mãos. como se fosse possível aliviar o corpo à pedrada. metes-te nos caminhos alterados. substâncias. vícios. tens pequenas depravações. olhas inquieto para as imagens. falas coisas. nem sabes bem o quê. ruas de gente. caminhar com vontade de correr. sempre a correr. saltar. voar. a velocidade da libertação. és uma máquina que quer voar. cilindrar a terra infinita.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

só te conheço as linhas. apareces-me em sonhos como algo que voa. sou outra vez criança e não tenho vocabulário. o tempo está parado. já sabemos o que se passa. é o tempo. as coisas movem-se. o toque nos braços. a voz da tua ausência que me deixa incomodado. silêncio quase mortal. espécie de futuro cego. distância. língua. escrever coisas sem o domínio do vocabulário das coisas. um sonho que aparece nos dias frios. que eu não quero que evapore.

sábado, 13 de dezembro de 2008

pois, meus santos, nem sei o que vos diga, o Barça lá ganhou... são as novidades nada novas que tenho. de resto... se passasse menos tempo na internet à espera de coisas já tinha mais amigos e amigas. uma seca. espero não me enervar este natal. ainda que me enerve sempre... mas pronto... espero não me enervar. pelo menos que não me enerve muito. não ando com espírito para me enervar. estou demasiado solto. muita coisa mudou. sinto-me eléctrico. com umas ânsias. até tenho medo. até tenho medo. é que se elas aumentam... é uma seca. é mesmo uma seca. hoje no metro decidi começar a fazer exercício, vou começar a correr. é que sinto os músculos tensos. cheios de energia para explodir. a precisar de guerra. foda-se. não me lixem. que não me lixem desta vez. sei lá eu o que é voltar.

Cadernos de Barcelona

já dormi. o corpo pronto para mais. é o entorpecimento. as questões. o teatro mental que parece não querer ser mais físico. a capacidade de resistir. de desistir. de existir. de insistir. a casa que não vem. a terra longe que cada vez é menos terra e mais bichos.

ontem no restaurante estive a falar com uma família. o pai disse que ia passar uns meses a Portugal. falámos de música. ele conhecia-os todos menos o José Mário Branco. apontei-lhe o nome num papel. saíram encantados e a dizerem obrigado. muitos saem dali a dizer obrigado. é importante servir bem. a mãe perguntou-me o que tinha eu feito no Porto. eu disse teatro. o filho espantou-se. o pai disse é o mesmo que aqui estás a fazer. eu ri-me. eu disse que ficava mais um bocadinho a falar mas não podia que tinha gente a olhar para mim.

estou mais velho. é normal. desde que se nasce que se começa a envelhecer.

faço disparates infantis. digo muitos palavrões. falo sozinho. canto.

quero ter uma banda. tenho saudades da minha música e dos meus livros.

gostava de eliminar tudo o que fiz até hoje a nível artístico e ando a meditar possibilidades para apagar essa história. gostava de ter sido nada. não me orgulho propriamente de nada. só de algumas participações.

vou acabar o ano em modo balanço e isso enerva-me.

estou mais magro. estou mais magro. estou mais magro porque como pouco. como pouco porque tenho preguiça de comer.

tenho cada vez menos coisas para dizer. muita gente achará isso fantástico. eu não acho nada.

merda para o inverno, esse velhaco.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

morreu o Alçada Baptista.
final do espectáculo Quadros do Interior:
"Agora só quero ficar de bem comigo mesmo. Até amanhã. Talvez!?"
nada mais a dizer. a luz apagava-se assim. serenamente.

domingo, 7 de dezembro de 2008

já que é a puxá-la... aqui vai mais uma, esta é brutal!!!


realmente há coisas... que meu deus... eu já sei que sou intempestivo, intempestivo é uma palavra horrível, mas quero que se lixe, apetece-me escrever mal e porcamente. há coisas que nem sei como acontecem e nem me quero debruçar muito sobre elas. ando facilmente enervável. vou fazer o quê? nada. enervo-me e pronto, já está, estou enervado, nada a fazer, sou um choninhas. um choninhas enervado. quem me dera ter a capacidade de mandar basófias, seria muito mais feliz, chegava e basofiava, tinha o rei na barriga e vomitava-o de vez em quando. este texto não tem tema. é apenas um rol de fonfonfon pseudo-velhaco. apetece-me dizer mal de coisas. eu tenho estas ânsias e estes apetites. engalfinho-os num caldeirão e zungas cá para fora como uma cuspidela azeda e amarga no formato que assume. ó pá, vou fazer o quê??? sou tonhé!!! sou tónhó!!! sou o que sou, uma treta. olhem, porras para a auto-estima. hei-de fazer o quê? não há retorno. andava aí no fonfonfon do teatro e o caneco, ah e tal e sou o maiór e o diabo a quatro... nada de respostas nem de propostas nem de promessas, eu sou um gajo que precisa de promessas, eu sou um paspalho com a vida ao contrário que precisa de promessas. promessas nada, aceitação. eu não gosto de guardar muito as coisas parvas. eu não tenho medo de carregar nada. só me apetece é ganir, mas ganir alto. um dia meto uma anilha daquelas no nariz, hei-de parecer um porco. juro. é uma tatuagem e um arganel. tatuagens não, tatuagens dão-me seca. só me apetece dizer mal de mim. hoje o Miguel Rainha e a sua malta Pinos Custódios e o caneco que estejam descansados, depois continuaremos nesse programa, hoje quero dizer mal de mim. fónix. é um direito que me assiste. caloteiro, chóninhas, cobardolas, tretinhas, merdicinha, é ganir que me apetece, enfiar uns não sei quantos copos de cianeto e zungas, acordar depois!!! acordar? nicles!!! quero lá eu acordar!!! ontem houve um rapaz que disse que não gostava de me ver no cimo da varanda na posição em que eu estava, claro, estava na posição ideal para o suicídio!!! mas eu quero lá agora suicidar-me??? era o que mais faltava!!! então depois como é que me ria da desgraça??? o suicídio é um aborrecimento e só dá trabalho!!! alguém tem de devolver os livros, pagar as contas, contar à namorada, só chatices, eu não quero morrer. no fundo eu curto este estado de coisas, para já, gosto de trabalhar. e até aqui vou ser lamechas, mas gosto de trabalhar com as pessoas que trabalho. e tenho as minhas falhas, claro. olhem, hoje só quero é ganir. estive um bocadinho no Raval e ainda estava mais aborrecido que eu. seca das secas. é fugir para casa e esperar um mail no computador... mas nada. já ninguém escreve a ninguém. é uma seca. raios partam o messenger. cá fumo uns Fortunas, a puxá-la, daqui a pouco vou temperar um conejo e está a andar. eu, ao fim e ao cabo, gosto de dias em que estou enervado, fico mais desperto. estar desperto é bom. acorda-se enervado. anda-se enervado. ri-se enervado. olhem, tudo nos enerva!!! hahahaha tudo nos mete fastio!!! e está a chegar o Natal, menos mal, o pior para mim sempre foi a Páscoa!!! com as amêndoas e o coelhinho!!! e é daquelas alturas do ano em que tudo me corre mal, antes da Primavera. a Primavera sim, a Primavera é a puxá-la toda. o Verão... eu não gosto do Inverno. preciso de sol. sol é fixe. ahhh e deixem que vos conte, ando com o vício da simpatia!!! ando simpático!!! detesto. ajudo pessoas no metro a carregar malas e tudo!!! que banana!!! é para colmatar as falhas, dirão alguns!! mas desde quando as minhas falhas têm possibilidades de ser colmatadas??? não têm!!! eu sou um rato, esta roubei ao Dostoiévsky, um insecto!!! e mesmo não gostando de o ser, ainda me consigo divertir no meio da minha treta!!! mas hei-de fazer o quê??? as contas vão-se pagando... a da segurança social não, nem quero pensar nisso e quero que esses senhores se lixem que é o melhor que fazem, a segurança social não pago, nem pensar, era o que mais faltava. eu qualquer dia quero ser é espanhol!!! isto de ter fronteiras... a fronteira é a comida, os amigos, a família e a selecção de futebol!!! depois disso tudo é história. a língua... a língua é uma coisa que não tem terra. bem, já desabafei hoje. mando aqui abraços mais uma vez aos que contam.
só me apetece ouvir The Smiths!!! nunca o tal!!! até estou a escrever um post sobre isto, imaginem lá o nível em que esta questão se põe!!! ando pelo metro a cantarolar na cabeça, é na rua, é em todo o lado, não me largam. ontem estava cheio de vontade de ir a um qualquer lugar em que pudesse dançar, apetece-me dançar The Smiths, que nervos... é aquela voz de angústia e de raiva e de sensibilidade que atinge a cabeça, sacana do Morrissey, o gajo é que a sabe toda. The Smiths era a banda perfeita, a música deles tem uma classe do caraças, é altamente. mas é que não me saem da cabeça. aqui vai mais uma e não me levem a mal:


sábado, 6 de dezembro de 2008


desabafo hermético

este mundo tem coisas que não deixam de surpreender. pior que as falsas modéstias só mesmo a arrogância inconsciente. falsas modéstias, pronto, um gajo sente-se pouco solto e cora um bocadinho e faz-se pequeno, a arrogância inconsciente é muito pior, é de uma tontice que vai lá vai. vou aqui roubar uma coisa ao Dostoiévsky, a basófia, os gajos que enchem a boca para dizer os maiores disparates como se fossem verdades absolutas, eu até me passo. até admito que sou um bocadito burro e fragmentado mas não me atirem areia tão grossa para os olhos. é que até me deixam sem saber o que dizer, fico digamos que encavacado. ontem deixaram-me assim, até me encolhi, olhei para o tecto e contei candeeiros. um objecto artístico não tem limites no desenvolvimento. tem limitações de tempo e de espaço que lhe dão a sua resolução final. essa resolução será sempre a sua forma mais perto da forma ideal. ora bem, no meu trabalho como criador acontece-me sempre não ficar contente com nada e até me acompanha sempre uma certa frustração porque há sempre fragilidades que tomam um grau de preocupação muito maior que o lado positivo. por muitas conquistas que se tenham as pequenas derrotas custarão sempre mais. é assim. quando me perguntam como está o espectáculo eu ganho sempre uma vergonha qualquer nessa altura, é como a minha vergonha nos agradecimentos, não tenho jeito nenhum para a parte dos agradecimentos. enfim... mas não quero falar disto. aqui fica este desabafo que não diz nada. só não quero é que me fodam a cabeça com palermices si us plau.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008


quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

domingo, 30 de novembro de 2008

objectivo urgente: escrever em castelhano!!!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

às vezes acredito que se me tivessem dado um piano na altura certa eu não seria nada disto. muitas coisas se passam na cabeça nestes tempos. são onde se medem decisões que podem ter sido totalmente erradas e podem comprometer o futuro. há dias que nem sei o que diga. isso do futuro... então se eu queria era tocar piano. hoje, se soubesse tocar piano, também cantaria. quem canta pode aliviar mais facilmente o seu dentro. no teatro é impossível, há poucas possibilidades de exorcismo. ando com vontade de cantar. parece ridículo, lá estou outra vez com as manias e tal... mas é verdade, apetece-me cantar. ando outra vez mas é com as ânsias de palco. e isso enerva-me. nunca fui um papalvo com ânsias de público e como actor só algumas coisas me deram um prazer que fosse um prazer louco. sou um actor de angústia. essa é a verdade. o meu teatro mental é um teatro de angústia. cada vez penso mais nisto. já a peça da escola vai ser sobre a angústia, sobre a solidão, sobre o isolamento, sobre uma queda. o maldito tema da queda. quando expliquei a minha história, ninguém achou assim particularmente interessante e até me acharam um bocado arrogante ou pretensioso. só gostaram de uma imagem que eu dei que disse que era uma visão e que nem tinha a certeza do que era, que era um apontamento já de encenação de um espectáculo que ainda nem existia!!! tinha a ver com o início do segundo acto, agora transformado em primeiro, começava com uma exibição de solidões. exibição de solidões!!! a papalvice minha do costume. vamos cá recapitular: há um mânfio que vai a um concurso/casting/merda qualquer onde lhe pedem que seja o rosto de uma causa, como qualquer político normal ou como qualquer figura de um programa da televisão realidade muito virtual. pedem-lhe que seja um produto. que seja um produto que venda um produto. a vida por uma causa, o absurdo do Jesus Cristo. ora este produto que é feito para triunfar está dependente em absoluto de uma máquina, uma máquina partidária. há uma tensão na necessidade de triunfo. as coisas de início funcionam e o barco vai quebrando o gelo. o casco começa a estalar. aqui ainda não sei. sei que tem de acabar num tribunal com uma juíza. em que ele é julgado. é a minha historieta. é o esboço da minha historieta. quero que o cenário seja uma espécie de corredor/sala de espera de um espaço estilo pré-ringue de boxe. quero luz fria. preciso de me sentar. ando com saudades de estar sentado. trabalhar sentado. viver o projecto louco. riscar papéis. um computador para montar textos. o meu processo é corta e cola. é chegar ao esqueleto que importa. da porcaria da epiderme até ao centro do esqueleto. só o que conta é o esqueleto. é a última coisa a desintegrar-se. é o último reduto de coisa nenhuma. bem, mas estava a falar da imagem que eles tinham apontado: exibição de solidões. acho que a minha peça é sobre isso. sobre as formas de acabar com a solidão. e agora vou dormir.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

a música de hoje

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

hora a hora deus melhora

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

já sei que quando se fala da Estação Teatrada, vulgo ESTE, e do executivo camarário fundanito, que os meus pelos dos braços se levantam e me dá uma coisa na garganta que só me faz rir à gargalhada!!! mas eles insistem em coisas que, por amor de deus, querem afogar-me de tanto chorar de rir ou quê??? já sei que o grande Nuno Pino Custódio não liga muito aos cartazes, já o disse ele próprio no blog fiuza666, aquando daquele belo slogan "teatro no Fundão. como o Fundão.", que me deixou até incomodado com tamanha profundidade e eloquência, quem se lembraria de um slogan assim??? acho que nem o menino Jesus na sua adolescência precoce quando estava a falar com os doutores mandaria uma dessas, pelo menos a Bíblia não fala disso. é muito possível que o senhor grande Nuno Pino Custódio, quando anda lá pelas lisboas tenha um bocado mais de atenção aos cartazes, não tenho a certeza disto mas é uma teoria que cá tenho e que guardo religiosamente como certa, é assim, cada um faz o melhor que pode pelo que lhe interessa ou pelo que lhe convém. a Estação Teatrada é uma treta, já toda a gente reparou, é de um amadorismo primário em relação a certas coisas que até mete medo. ora agora, o executivo camarário, qual tonto sem dois dedos de testa, aceita um ciclo de cinema mudo proposto pela Estação, não sei quem propôs o quê mas é-me igual, a culpa não morre solteira. a Estação, Teleguine, Fino, Custódio e companhia limitada, levam o ciclo do cinema mudo para a frente, nada de espantar, eles são uma companhia com um certo estilo de representação, o tão famoso TEATRO FÍSICO e a tão famosa TÉCNICA DA MÁSCARA. até aqui nada de mal, eu sempre digo que é bom haver teatro e haver cinema. ora lapso dos lapsos: alguém sabe quando é esse ciclo? há várias teorias e várias possibilidades!!! uma pergunta séria que gostava que fosse respondida: quando os cartazes foram para a rua repararam no lapso? quem tomou a atitude de os colocar? mais uma vez peço o pescoço político do... do... do... do... Miguel Rainha, claro, quem mais??? quem é o programador??? e exijo que se acabem já todas as actividades com os saloios da Estação, é que já é muita treta para o que na verdade aquilo vale. e agora falo aqui bastante a sério e sem ressabiamento: alguém acredita naquela treta? estou-me nas tintas para a quantidade de espectáculos que se apresentam e para a quantidade de público que assiste. o Teleguine é um rato político, saxofonista, formado à base de Gil Nave!!! o Pedro Fino... enfim... li que é dos de interpretação na co-produção da ESTE com a Moagem!!! andam a gozar com quem? já sei que o Pino Custódio é muito bom, já sei disso, e que é uma mais valia e etc e tal, mas não atirem com areia para os olhos do pessoal porque isso é ridículo. até vos digo uma coisa, o PSD pode ganhar as próximas, as pessoas são assim, não reparam no que se passa, mas foda-se, isto tem de mudar mais cedo ou mais tarde. é que esta merda desta tachada já mete nojo. esta tachada só existe porque temos gente incapaz a fazer a porcaria da programação que precisa que outros a façam. e isto é um facto. digam-me sinceramente isto, quantas vezes é que já ouviram ou leram o Miguel Rainha dizer o que pretende? alguém sabe qual é a direcção para onde esse marmanjo quer levar o Fundão? não. ninguém sabe. é um tretas que para ali anda, tem um certo gosto e tal mas não tem estrutura para aguentar com o arcaboiço de uma programação numa cidade destas, é um artista reprimido. eu não estou a dizer que ele seja mau, estou a dizer que ele como programador generalista de uma cidade não funciona. e já toda a gente reparou. a Estação faz espectáculos muito giros mas a Estação não pode ter o monopólio das apresentações. desculpem-me la isto e que me desculpem as pessoas que me são próximas. eu sei que às vezes aqui escrevo de uma maneira tonta em relação a certas coisas, mas é a verdade. é a porcaria da verdade. a Estação??? por amor de deus!!! que treta que para ali anda. Zés Alexandres Baratas??? o pesadelo de todos os adolescentes quando iam ver os espectáculos do GICC!!! porra pá, ele pode ser muito boa pessoa e o caneco, mas como sensibilidade teatral... fónix!!! e digo isto outra vez: fónix!!! mas que merda é esta? o Pedro Fino??? quem é esse gajo??? mas que porcaria de teatro queremos nós para a nossa terra??? se for teatro morto, ok, estamos a bater na porta certa, no rame rame do costume. entre o performance-vanguardismo e o tacho-teatrismo venha lá o performancismo!!! mais vale. é que com isto assim... é bater no ceguinho. olhem, sabem o que vos digo? ide-vos passear, não posso escrever palavrões. ó Pino Custódio para a próxima faz o favor de dar mais atenção aos cartazes, isto também é válido para o Miguel Rainha, ou para o seu superior, ou para o Presidente Manel. em relação a este assunto e faltando um ano para as eleições... espero que haja quem tenha uma reacção. Jornal do Fundão, está na hora.

sobre a tal imagem muito gira do Presidente Manel a ser penteado

apesar de neste blog a coisa ter passado aparentemente despercebida, o que se explica facilmente pela não publicação de comentários anónimos, a verdade é que no blog Pedaços de Alcongosta a coisa parece bastante animada!!! também eu já aqui recebi uns comentários anónimos que não vou publicar, não acho justo publicar comentários assim, desculpem, mas é política deste blog, podem dizer mal do autor, são livres de o dizer, mas assumem quem são para o autor poder responder, é claro como a água, todos temos os nosso telhados de vidro. mas aproveito aqui para responder umas coisas em relação ao que li nesse blog. haver um inquérito por causa de uma imagem assim parece-me um pouco ridículo, há tantas coisas naquele edifício que correm de uma maneira absurda, que perderem tempo à caça de um qualquer atirador furtivo por causa de uma simples imagem que tem um lado apenas cómico... é uma parvoíce daquelas. aliás, como poderia o Presidente Manel abrir um inquérito? para quê? como se o Presidente Manel se preocupasse com o que se passa. adiante. em relação ao eu dizer onde arranjei a imagem... é que nem que se passem todos da mona!!! era só o que faltava era eu agora dizer onde é que a arranjei, daí podem tirar já o cavalinho da chuva que ele pode constipar-se. não digo e podem compreender porquê. era só o que faltava. neste blog sempre se puseram as imagens que se acharam justas para o tempo em que o autor vive. é um blog pessoal. agora virem aí com teorias de Justiça e Tribunais... por amor da santa, era só o que me faltava, só me posso rir desse tipo de afirmações. em relação à máquina partidária/camarária a minha opinião é a mesma desde meio do primeiro mandato, esta Câmara não nos serve. houve uma quantidade brutal de obras, encheu-se o olho com pompa e foguetório, todas as obras tiveram e têm problemas estruturais que não podem ser solucionados. e para o ano o PSD vai falar na obra que fez e é o nosso dever falar-lhes a eles da obra de merda que fizeram. o caso da Moagem, mais uma vez, que é um caso que lhes proporcionou uma arrogância extrema no sentido político, temos de perguntar-lhes: mas a Moagem serve os fundanenses? o Mercado serve os fundanenses? a Praça serve os fundanenses? o Centro Cívico serve os fundanenses? o Parque das Tílias serve os fundanenses? a Casa da RCB serve os fundanenses? a Desportiva serve os fundanenses? esta biblioteca serve os fundanenses? é que na verdade esta Câmara tornou-se numa especialista em assassinar espaços com potencial. fala-se muito do Cinema Gardunha, é um tema recorrente desde que a política percebeu que a Cultura é uma arma de arremesso, o Cinema Gardunha era a grande bandeira do Presidente Manel, entretanto fez-se aquilo da Moagem, que hipoteca completamente o futuro de um espaço com um potencial enorme. explico aqui um problema: ao construir-se a Moagem, fez-se, em teoria, um auditório para espectáculos de pequena e média dimensão. ao pegar no Cinema Gardunha vai fazer-se um espaço com um auditório único: um Grande Auditório!!! a Moagem não serve para espectáculos de média dimensão, que são a maior parte dos espectáculos que se fazem neste mundo. espectáculos de média dimensão num Grande Auditório vazio é a coisa mais absurda que se pode fazer. se a Moagem não existisse, o ideal era um Cinema Gardunha com dois auditórios, que é o normal nestes casos, veja-se o Rivoli, veja-se mais perto o Teatro Municipal da Guarda, que tem uma programação regular no pequeno auditório e leva os chamados grandes espectáculos ao grande auditório. a programação de uma cidade faz-se com espectáculos médios. há a Covilhã onde o senhor Carlos Pinto, que não percebe nada de Cultura, só apregoa os bailados do Leste e as Traviatas. o meu sonho é que o Presidente Manel não faça nada no Cinema Gardunha. mais vale que ele ali esteja assim, ao menos podemos continuar a sonhar com o seu potencial. o caso Moagem, tanto potencial que tinha e tornou-se numa caganita. bem, mas este texto era sobre a imagem. uma coisa vos digo, se me mandarem mais imagens daquelas, a única certeza que tenho é que elas vão ser publicadas. e estou-me nas tintas para as consequências, a não ser que as consequências sejam que o PSD perca as eleições, aí já não me estou tão nas tintas!!! sorte tem o Miguel Raineta que não tenho a sua foto...
abraços a todos.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

a escola... a escola... modo Fausto.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

começa o Festival de Teatro do GICC. começa com um espectáculo que já faz tempo que me pergunto como é que ainda não foi às terras da Cova. até me perguntei como é que o nosso Grande Programador, também conhecido como Miguel Reis, não o levou ao nosso Grande Auditório, também conhecido como Cidade do Engenho e do Etc e Tal. a resposta à cena do nosso Programador é simples... ele curte é performance!!! mas bem, o que aqui importa dizer é que vem aí mais um festival. um festival que já tem uma história. um festival do Teatro das Beiras, que se tivesse um director artístico e não um Gil Nave podia muito bem ser alguma coisa de marcante. ficam aqui os cumprimentos ao Fernando Sena, o único que leva aquilo para a frente, com a Gena e a Alice, claro, que tenho saudades tantas. o problema do Gicc é a ausência de um sacana de um director artístico com um rumo, porque o músico é um tretas. não percam o primeiro espectáculo, não percam os Montemuro's, não percam o Crawford. ainda bem que há um festival assim na Cova. ó ESTE, isto é mais festival que o vosso Teatro(des)(A)gosto. parabéns GICC. abraços Fernando e aos com que lá me cruzei. sei que sou reles. mas aqui vai uma beijinha. tudo se há-de resolver.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

continuação da luta. um texto do livro desse senhor Herberto Hélder!!! ai se eu os tivesse todos...

(...) e escrever poemas cheios de honestidades várias e pequenas digitações gramaticais,
com piscadelas de olho ao «real quotidiano»,
aqui o autor diz: desculpe, sr. dr., mas:
merda!, 1971 - e agora,
mais de trinta anos na cabeça e no mundo,
e não,
não um dr. mas mil drs. de um só reino,
e não se tem paciência para mandar tantas vezes à merda,
oh afastem de mim o reino,
afastem-nos a eles todos,
atirem-lhes aos focinhos o que puderem dela,
sim até se acabar a mirífica montanha,
ó stôr não me foda com essa de história literária,
o stôr passou-se da puta da mona,
a terra extravaza do real feito à imagem da merda,
e então vou-me embora,
quer dizer que falo para outras pessoas,
falo em nome de outra ferida, outra
dor, outra interpretação do mundo, outro amor do mundo,
outro tremor,
se alguém puder tocar em alguém oh sim há-de encontrar alguém
em quem toque,
dedos atentos atados à cabeça,
luz,
um punhado de luz,
cada lenço que se ata a própria seda do lenço o desata,
a luz que se desata,
aí é que se ouve a gramática cantada, imagine-se, cantada para sempre sem se ver a quem,
baixo ressoando,
alto ressoando,
mexendo os dedos nas costuras de sangue entre as placas do cabelo rude,
rútilo cabelo e o sangue que suporta tanta rutilação, tanta
beltà, beauty, que beleza! diz-se, fique
aí onde está dr. porque para si já se reservou
um quilo, uma tonelada, desculpe,
estou com pressa,
alguém lá fora dança na floresta devorada,
alguém primeiro escuta depois canta através da floresta devorada,
desculpe dr. mas já desapareci como quem se abisma
num espaço de hélio e labaredas,
eu próprio atravesso o incêndio imitando uma floresta,
fui-me embora pela floresta infravermelha fora,
não estou para essas merdas floresta vermelha fora

(Inédito do novo livro livro de Herberto Helder, A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita, edição Assírio & Alvim - e o que dizer do regresso por outro caminho?)

continuação

caro Herberto Hélder, o senhor é velhaco. imagine isto, há um rapazolas que vive em Barcelona que sofre da problemática e que se farta de escrever e dizer merda. o seu livro é lançado para o espaço e esse rapazolas quer ler essa merda que outros escrevem, que por acaso o senhor escreve. esse rapazolas quer muito ler a sua merda. o seu livro não existe. foi açambarcado por leitores e papa-alfarrabistas e professores. açambarcado por gente que o tem encostado à lombada da Rebelo Pinto, não sei se o senhor gosta daquele lombo ou não, para mim aquilo nem sequer é merda. há gente que neste momento guarda o seu livro como se fosse um tesouro, que faz com que seja pior que um livro hermético, que faz com que seja um livro fechado, que o tem com tamanha insignificância nas palavras que até mete nojo. isto é tudo uma questão de nojo. o senhor neste momento está cheio de manias de escritor. deve querer apanhar. que raio de atitude é essa? se esse livro me viesse parar às mãos não tenha dúvidas que o colocava logo na internet, o senhor neste momento merece uma dessas piratarias gráficas. não vale a pena andar a destruir árvores para uma elite mascarada de treta. o senhor é de uma direita camuflada que se tornou ao longo do tempo num verdadeiro aldrabão. eu quero ler a merda do seu livro, caralho. neste momento quem tem o seu livro e não comete o crime que ele merece até me mete asco. esse livro dá-me vómitos. o senhor começa a dar-me vómitos. vá-se lá então corrigindo nas suas edições limitadas, propaganda já não lhe falta. a idade traz-lhe a necessidade de acontecimentos? anda a sentir-se velho? este tiro é a prova de que o senhor tem o ritmo alfa caduco. espero que nunca mais publique. espero que lhe dê um bloqueio. espero que se vire para a auto-contemplação. compre um espelho, senhor Herberto, compre um espelho. volto a pedir a quem tem o livro o favor de o publicar na internet ou de fazer circular cópias ou edições clandestinas. merda. o senhor obriga-me a escrever merda muitas vezes. merda merda merda. toda para si.
odeio ver pessoas chorar. agora no metro vinha uma mulher na minha frente que tentava esconder as lágrimas. era impossível. limpava a cara e olhava para as paredes. eu na frente dela já me estava a deixar também aflito. não há maior impotência que alguém que chora na nossa frente. a minha vida está feita de pessoas que choram. é insuportável. eu acho que também fiquei choramingas porque me pegaram esse vício, essa doença da alma. porque chorar é uma doença. já não tenho dúvidas. chorar é uma doença velhaca do espírito inquieto. que raio de coisa fisiológica é essa do chorar? estamos tristes... choramos!!! os olhos começam a tremer e um líquido salgado começa a cair. é um absurdo fisiológico. chorar está ao nível da urina mas com menos sentido, detesto fisiologias simbólicas. eu sou choramingas também, choro com filmes parvos de domingo, choro com jogos de futebol, choro com as despedidas, choro com as absurdices da vida, e choro e não percebo porque choro. chorar nem sequer é como a transpiração. diz-se que alivia. é rir com líquidos. é um riso molhado. é insuportável. horrível. eu detesto chorar. e depois quanto mais se contraria pior é. o chorar é sacana. chorar é insuportável e velhaco. espero que isto nunca mais aconteça no metro. enerva-me. deixa-me sem saber o que fazer. é uma seca. uma seca. seca. seca. molhada.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

como chegar a presidente da Junta de Freguesia da Orca!!! antes lambiam-se as botas... agora penteia-se a careca!!!


e peço para clicarem na imagem para verem o empenho e o carinho deste acto verdadeiramente familiar, que prova que também há um lado humano nestes políticos. eu vi e gostei. será que se eu pentear o senhor Manel também poderei vir a ter uma Junta de Freguesia só para mim?

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

a minha escola

aqui

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

acabou finalmente

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

diário

hoje cometi uma loucura inevitável... tinha uns sítios onde tinha de ir, passei em frente de uma escola de teatro... entrei, sabia que de hoje não passava!!! gente, pois então, a partir de hoje, voltei a ser estudante!!! estudo encenação e construção de espectáculos. voltei à carga. mais cedo ou mais tarde teria de ser. tenho um caderno e uma caneta e muita vontade de pensar e fazer. estou cá para isto também. e quem achar que os meus últimos textos são para baixo... que se engane... eu acho que tudo se vai resolver, as coisas têm é o tempo que têm...

domingo, 2 de novembro de 2008

heart-core

- desligas o que não deves desligar.
- o que é isso?
- o facto de seres pessoa.
- e se não me importar?
- como?
- esqueço tudo o que tenho a esquecer e simplesmente vivo.
- a pessoa está aí.
- eu sei. a pessoa sou eu.

sábado, 1 de novembro de 2008

ando feito parvo em busca de um actor para o Dostoievski para quê??? está decidido. o actor dos meus desafios sou eu. eu farei a minha nova versão do Dostoievski. em catalão. está decidido. neste momento considero-me pronto, e estou-me nas tintas para que isto seja pretensão. que Barcelona se prepare. e que eu me prepare melhor. está declarada a guerra.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

quero outra vez tempo bom. tempo assim sem mãos para acompanhar é uma seca. ai ai ai. saudades dos braços. o tempo cria estes problemas. o mundo abre as portas, cometem-se loucuras, nada que anule o frio, a distância. hoje, enquanto estava a arrumar as mesas e a varrer o restaurante, pensei no Fausto, uma das grandes linhas de desafio do teatro, o Fausto!!! quem não gostaria de abordar o Fausto, fosse que versão fosse, versões de uma história que se desenvolveu problemática com o tempo... o Fausto, o problema do conhecimento, dizem alguns, a alma que se vendeu ao diabo em troca do conhecimento, vendeu ou trocou, não estou a ir por aqui. o Fausto não é muito claro num ponto. e este é o meu desenrolar do problema. Fausto queria o conhecimento ou o reconhecimento? não seria o conhecimento apenas um processo para atingir a glória? a glória do conhecimento, talvez, mas a glória, tudo se trata de poder. hoje Fausto seria uma figura máxima da comunicação mundial, que subiria de uma forma tão veloz como o seu colapso. há muitos Faustos por aí. usam as rampas que usam. mas as rampas são frágeis. não há nada como subir montanhas. e pronto estava a pensar nisto enquanto estava a arrumar as mesas. hehehe. é para o que me dá. assim vou mantendo uma coisa qualquer que nem sei como lhe chame. claro que tudo isto é discutível, mas é um problema que não me importaria nada de investigar. o Fausto faz parte do meu imaginário. consigo encontrar uma coerência no problema. é para mim como o Maldoror, como o Hamlet, com o peso da tragédia que se tornou universal, condensada em literatura e explosiva no palco. teatro... o teatro tinha obrigação de puxá-la toda!!!

heart-core

- hoje entrei num lugar e sentei-me.
- e depois?
- estavam cinco casais sentados.
- e depois?
- todos pareciam amar-se.
- e depois?
- deu-me um aperto na barriga.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

a parede está estalada
está tudo
até eu estou estalado

terça-feira, 28 de outubro de 2008

PUNK'S NOT DEAD

pode haver muita gente a quem este tipo de coisas passe simplesmente ao lado, é normal, não temos todos o mesmo ouvido nem procuramos todos a mesma estética. a música é uma coisa individual. é o que é. mas eu posso gostar muito e outro não gostar nada, é assim. o concerto dos Silver Mount Zion foi bom, primeiro, porque foi o único concerto a sério que eu fui ver em Barcelona desde o Patrick Watson, segundo, porque é uma das minhas bandas, terceiro, porque eles são realmente bons (de acordo com a minha perspectiva), ou seja, tudo isto é de acordo com uma perspectiva limitada e personalizada de uma forma de ouvir coisas. não se trata de tocar. trata-se de ouvir. faço aqui um desafio a todos os que lerem isto e que se sintam motivados, na quinta-feira vão ver o concerto e digam o que acharam. uma coisa vos garanto depois desta noite, o punk ainda anda por aí, lento e silencioso, mas anda por aí, sentimental e sonoro. isto é o que eu tenho a dizer de um concerto inteiro: pena que não o tivesse visto em Lisboa!!! vai ser a puxá-la. quero vê-los outra vez.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

apesar de tudo o frio aguenta-se. apesar de tudo o frio suporta-se. apesar de tudo o frio esquece-se.

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Quinta 30 de Outubro às 23h00


Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra & Tra-La-La Band (CA)
Vertigem, turbilhão, abismo – um vórtice de sete cabeças virado de dentro para fora, absorto em tudo o que existe, perceptível ou não. Vindos bem do centro de uma encruzilhada de tempos, lugares e culturas, o colectivo canadiano Silver Mount Zion (ou Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra & Tra-La-La Band, ou Thee Silver Mountain Reveries) aterra pela primeira vez em Lisboa num momento particularmente decisivo da sua completa afirmação autoral, sintetizado luminosamente em "13 Blues For Thirteen Moons", o excelente último álbum do grupo.

Septeto informalmente liderado por Efrim Menuck (também guitarrista dos Godspeed You! Black Emperor), os Silver Mount Zion surgem em 1999 próximos da corrente pós-rock (um repensar de ideias rapidamente esvaziado de significado pelos desinspirados do triste carrossel instrumental), mas será provavelmente na experiência minimalista primitiva, na composição clássica e na música de câmara que encontramos os pontos de referência mais interessantes e significativos. O já referido "13 Blues For Thirteen Moons" (edição Constellation, casa dos Godspeed You! Black Emperor, Fly Pan Am e Carla Bozulich, entre muitos outros) prossegue superiormente essa incorporação heterodoxa de estilos, concretizando uma exploração sensorial inflamada, de consciência comunal, profundamente autêntica no modo quase cognitivo como se afirma livremente. Há aqui algo inominável, uma qualidade de silêncio que nos transcende.

Entrada: 12€

se tiverem coragem, são 14 minutos... vamos ver estes amanhã!!! caneco!!!


domingo, 26 de outubro de 2008

o Herberto Hélder é manhoso. desculpem-me lá isto. o Herberto Hélder é manhoso. este acontecimento do último livro é um tiro no pé. ele que me desculpe. é um acontecimento que projecta o livro e não o conteúdo. quero lá saber eu se o senhor Herberto Hélder conseguiu aqui a perfeição do ritmo neste livro. estou-me nas tintas. não o pude ler. é um acontecimento tão patêgo que até acho que esse livro nunca deveria ter sido editado. dá deus nozes a quem não tem dentes. senhor Herberto Hélder, pode começar a escrever para a gaveta apenas. eu que até o respeitava, acho que estou prestes a perder o respeito todo. haja quem seja criminoso e lhe ponha o livro a circular na net. o senhor conseguiu aqui o deleite dos papa-alfarrabistas, fez mais uma obra de colecção do que um livro. o senhor é sacana e velhaco. o senhor com esta atitude desceu quase ao nível do António Lobo Antunes, que eu odeio, porque o considero um palrador com manias dentro do sistema, ou do Saramago, que odeio, por ser o Nobel do sistema. o senhor era dos últimos que eu tinha em conta, e sei que isto lhe é indiferente e nem sequer tenho a pretensão de que o senhor venha alguma vez a ler isto. e por isso volto a chamar-lhe manhoso. e manhoso. e manhoso. se não deixa as pessoas ler o que escreve e anda aí armado em intelectual e elitista, com a sua mania do fechamento e da não comunicação, do poema hermético, mais vale arrumar as canetas e dedicar-se à procura dos ritmos por dentro da cabeça, por muito que lhe agrade a mancha gráfica. o senhor cometeu aqui uma fífia com este acontecimento. publiquem o texto na internet. metam todos os livros do mundo na internet. não estou a dizer para acabarem com eles. estou a dizer que os tornem acessíveis. que se possam ler, apesar das distâncias. é que assim a literatura vale o mesmo que um valente balde de merda.

fragmentos e acreditar

assistimos aqui a um processo de desenvolvimento/envolvimento de ou numa série de situações. coisas mais reais ou coisas mais ficcionadas. de qualquer maneira se estamos num mundo que já não distingue a realidade da ficção, não vejo motivo nenhum para também eu não o fazer.

digamos que temos todos o mesmo problema, ainda que com diferentes graus de perigo e de linguagem, e não digo isto num ponto quantitativo, digo isto num ponto de individualidade. se temos todos o mesmo problema, procuramos todos a mesma resposta, temos processos diferentes de a atingir ou de a procurar, mas a resposta é a mesma. que se fodam os processos. queremos as respostas para a vida já.

é que tenho de obrigar-me a focar no que importa e não me perder em devaneios com pouco suporte físico, a internet pode ser uma distracção bastante grande e reduzir a criação de objectos com possibilidade palpável. voltar a escrever mais em papéis. esquecer a estética desabafo da vida. nunca vou conseguir escrever um romance. mas não me interessam publicar diários falsos. vou dedicar-me aos poemas. quem diz poemas diz aqueles textos que enfim... que às vezes tenho a mania que escrevo.

em relação à vida, o que posso dizer é que as coisas vão ter de resolver. e que já vai sendo insuportável esta minha disfunção humana. este meu atrasadomentalismo. chega de brincadeiras. chega de parvoíce inútil. tenho de me fazer homem. preciso de me fazer homem.

em relação ao amor, peço-lhe a compreensão e o tempo e o carinho e a companhia na distância. dou-lhe a promessa de que tudo se vai resolver e que lutarei como um cão para que se resolva. que lutarei como dois cães.

preciso de uma mesa para mim. uma secretária. até ando numa fase criativa mas ando a reprimi-la por causa de condições, obviamente criadas por mim.

quero voltar a fazer teatro mas neste momento ando mais preocupado com conseguir escrever. quero escrever. o teatro dá para manter mal com o trabalho. escrever dá mais facilmente. só tens de chegar a casa e obrigar-te a escrever. sentar-te e escrever. como não sei fazer desenhos e dou-me muito mal com os trabalhos manuais. fui para o teatro por causa disso. tinha ânsias de criar. mas agora que o teatro e eu estamos separados, vou dar umas trincas na escrita.

heart-core

- estás magro.
- é normal. vim da guerra.
- estás diferente.
- talvez seja outro.
- por aqui tudo igual.
- impossível.
- impossível?
- impossível. há sempre luzes que se acendem quando chega a escuridão.
- que luzes?
- que escuridão?

sábado, 25 de outubro de 2008

falemos do silêncio. há um silêncio. há uma merda de um silêncio. há uma média de pedras demasiado alta para que a cabeça não as sinta. detesto comer pedras. detesto silêncio. odeio silêncio. faço o quê? sou um inseguro das palavras. preciso de palavras como quem precisa de água. sinto o incómodo da ausência das palavras como quem sente a ausência do toque.

mais uma vez...


faltarem palavras. palavras que são coisas. acontecimentos. procurar o vago. dormir. ter certezas inquietantes. algo estremece. o que não se lembra existirá ainda? os lugares? as casas? café quente de manhã e folhas para escrever. livros desmaiados. livros inúteis fechados em caixas fechadas num buraco húmido no cimo de um quarto. um quarto imensamente pequeno que estrangula a vida. que vida? não há vida nenhuma. é o estrangular das coisas. não são as coisas que se esquecem. é o eu que se esquece. o eu não se esquece das coisas. esquece-se de si. andar pelas ruas a construir textos na cabeça que nunca serão escritos fora da cabeça. aguentar. o tempo passa. a velocidade torna-se secundária e o corpo vai-se aguentando. perguntam como vai o processo e responde-se que o processo já e um desenvolvimento do próprio processo que não tem a certeza de ter finalidade. é impossível voltar ao zero. nunca se esteve no zero. ainda não se nasceu mas já se tem a corda. primeiro oferecem a corda. depois vão oferecendo outras armas. a vida vai passando com o acumular de armas. chamam idade a esse facto. mergulha-se nos factos com a cabeça incisiva. a cabeça torna-se problemática. ganha um ritmo. ganha amores e ódios. perde amores e ódios. a cabeça é assim. problemática. tenta esquecer-se mas é em vão que tenta. como esquecer-se quando a forma está construída com o problema? pode responder-se a isto com a imagem fácil da cabeça a separar-se do corpo. mas quem quer essa imagem? é demasiado fácil para que possa acontecer. volta-se à rua. tenta respirar-se um pouco de vida. pessoas. informações. um pouco de música. algo de novo. uma imagem que chame. um outro lado. uma realidade. anda-se tanto num registo que já não se sabe o que é a realidade. ou então chega-se à conclusão que a realidade é mesmo esta. é aqui. é este o sítio. é a cabeça mínima e o corpo morto. as pessoas que se escapam porque já não se é o mesmo. porque se perdeu um brilho qualquer que nunca se teve. uma invenção de um brilho. as partículas tornam-se secundárias. a luz vai-se apagando. acumula-se idade. armas. armas contra o desprezo. não se tem amor. tem-se distância. tem-se a vida que constrói impossibilidades. prisões. ar fechado em quartos mínimos. faltas de contactos. aguentar. andar. vestir a máquina e tentar não falhar. tentar não ouvir vozes na cabeça nesse dia que são todos os dias alguns dias. tem-se a certeza de que vai chegar o tempo em que alguém vai ter de decidir alguma coisa e alguma coisa vai morrer no corpo. porque apesar da distância ser mínima não se acredita no regresso nem o regresso é pedido com qualquer convicção de desenvolvimento. anda-se por aqui. de vez em quando rebenta-se e de vez em quando acumula-se. anda-se nos ciclos. problema nenhum.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

falta uma semana!!!

Spooning Couple, de Ron Mueck

primeiro é um depósito líquido. corpo dobrado. fechado. hermeticamente puro. uma casa. vive-se numa casa protectora durante uns tempos. o som é estranho e a cegueira a regra. sente-se tudo através de uma ligação íntima com o fora através de um dentro. corpo no corpo. fios. ligações. descargas de informação fugaz. substâncias que passam sentidos. esgota-se o tempo e é obrigatório viver na luz. na luz do mundo. aparece o dia no meio do acaso. o signo. as portas abrem-se. o corpo não quer sair do corpo. força-se a saída com ventosas. juntam-se os ferros. esgaravata-se. puxa-se o problema. arranca-se o problema. trata-se como se fosse uma ferida aberta que conseguiu romper o caos para cair nesta ordem. ordem chamada mundo. caos chamado não vida. também lá dentro se comem doces. também lá dentro se dorme e se acorda.
então agora vivo com o terror da cadeia. à espera do dia em que chegam, agarram-me, levam-me, enchem-me de perguntas para as quais não tenho respostas. ou tenho respostas a mais mas todas elas confusas. detesto explicar as opções da vida, principalmente quando as coisas se apresentam num ponto em que não há opções. a Antígona é um bom texto para alguns casos. como cumprir o que está escrito se sem sempre o que está escrito é justo? o que é isso do justo? as coisas nem sempre se apresentam como uma palete de cores, nem sempre se pode pintar com todas as cores do mundo. então o que fazer? agarram-se em duas cores e fazem-se os melhores desenhos possíveis, mas muitos ficam por fazer, muitos ficam por pintar. depois descobre-se a escultura, os desenhos ficam para trás. mas os desenhos são a regra. os desenhos são a regra e tu só manipulas objectos. há quem veja nesses objectos a projecção de um desenho. há quem veja figuras que se parecem com as referências dos desenhos. as regras ficam para trás de qualquer forma. nada a fazer. um dia eles chegam com um papel cheio de desenhos com uma enormidade de cores e feitios alheios a ti e levam-te. querem obrigar-te a desenhar. tu não sabes desenhar. não sabes e não queres. queres fazer esculturas. queres escrever poemas. não queres fazer nada que toque em criação. não queres um exílio. não podes ser obrigado a desenhar. chegam e levam-te. para um casulo de reinserção onde todos estão sentados com folhas brancas em frente e rodeados de lápis e pincéis e tintas. pessoas que lhes batem nas mãos para que eles desenvolvam a técnica. não quero ser preso por não saber desenhar. entre o carrasco e a vítima. quero escrever. espero que me levem tabaco. preso e sem tabaco. não vou aprender a desenhar nunca. eles chegam e levam-me. perguntas. exposições. juízes. amarras. celas. romance nenhum nisto. merda. dizer merda. falhanço assumido nas folhas brancas da vida. papéis amarrotados e atirados ao lixo. caixas de papéis que ardem na memória. que ardem com água. os meus não foram queimados. foram tornados pasta de papel e atirados para a sanita. tomaram um banho na banheira ao som de um tango. abriu-se a torneira ao mesmo tempo que o olhar. disse-se a palavra foda-se umas vezes seguidas. fizeram-se promessas que não voltariam a ser faladas. a vida mudou nesse dia. ouvir sim quando se sabe sim mas se sonha não. dias marcantes na vida. ausências de sentir durante muito tempo. tudo tardio. uma infância guardada num aquário de vidro protector. cicatrizes poucas. teatro a surgir na vida e a impor-se como uma necessidade estupidamente vital. inserido num meio onde a pessoa se esquece que é pessoa. um meio de objectificações referenciais. quem é quem. é como o jogo. mas eu não era ninguém. era o que era. tinha uns cadernos com umas frases e sem desenhos para mostrar. num mundo de desenhos eu tinha palavras que eram esculturas. esculturas em movimento com os corpos projectados numa sala de teatro. sonhos rituais. incompreensões. visitas à ponte. cigarros na ponte. aquela ponte cinza que se impõe na cidade da névoa. regresso a casa. aqui começou a regra dos desenhos que eu não queria fazer. drogas e amores. alucinações. medo. mãos dadas na rua com o dia a nascer e com os pássaros a cantar. a verdadeira infância foi aqui. esta verdadeira infância louca foi aqui. se me levarem preso por não saber fazer desenhos. posso dizer que amo. posso dizer vão para o caralho.

domingo, 19 de outubro de 2008

só por esta aqui já podes imaginar a noite...


o amor longe

conhecia-a com copos de groselha e magia nas mãos
um toque irreal e estupidamente silencioso
um toque que era um medo das palavras
dando voltas a uma cidade mínima
a correr os mesmo lugares
com a ânsia de um beijo furtivo
um beijo que ditasse a sintonia musical
um beijo
contra as paredes
negado na essência por não sei quantos dias de impossibilidade
o regresso
regresso inquieto
regresso infantil
vestido de castanho eu
ela com uma saia comprida
uns cabelos de fogo
e uma voz quase desconhecida
imaginada
o meu amor
o meu amor louco
perfeito
tantas vezes impossível
o silêncio do medo
a estupidez dos hospitais
acordar e sonhar com uma boca
outra
porque a minha estava demasiado seca
uma boca morta que não tinha morrido
de noite beijos
beijos e abraços e mãos
uma salvação
sabes que te amo, caralho
sabes que não tenho vida para ti
sabes que as coisas são sonhos pelos quais vou lutar
mas eu tenho coisas pelas quais tenho de lutar que não tocam nos sonhos
a nossa vida é assim
é o que é
parece impossível
mas tudo se apresenta intenso
poemas
saudades
fome

saber que vou ser preso. saber que é uma questão de tempo. saber que não tenho segurança para dar. saber que não me podem falar de estabilidade. saber que é impossível mas que não vou deixar de lutar!!! foda-se. é o que tenho. foi o que saiu. preciso de ti, meu amor. tu sabes isso como a noite sabe o dia. tu és o dia. tu és o meu dia. uma luz. chegas e cresço. desapareces e morro. torno-me noutro. nem me imagino.

já te escrevi cartas
não escreverei mais assim e sabemos porquê
era o que era
sonhar com a tua boca na minha
o teu corpo no meu
ou o meu no teu
o mesmo
aqueles abraços demorados
as mãos
as mãos
as mãos
amo as tuas mãos
os teus joelhos
um dia vais deixar este sonho
vais acordar
perceber o problema
há pessoas que exigem-se lutas
fantasmas
gatos
muitos gatos e filhos
uma cadeira de baloiço
livros
livros para ti
foda-se
quem me dera saber escrever poemas
não
que se fodam os poemas
quem me dera estar contigo
há tantos livros já cheios de poemas
já te escrevi tantos
e a groselha
e o beijo sério
o primeiro
e o outro que foi segundo
o terceiro
todos
as despedidas constantes
inevitáveis
se fosse hoje...
tinha-me metido na tua mala de viagem

estou cheio de saudades
estou cheio de saudades
estou cheio de saudades

voar

cheio de saudades
todas
amo-te
de qualquer maneira, mais cedo ou mais tarde, acabarei por ir preso.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

acabou a promessa de um mês sem palavrões

acabou a promessa de um mês sem palavrões. custou bastante e devem ter reparado num abrandamento do ritmo de escrita. não gosto de escrever com essas imposições. os palavrões voltarão à normalidade dentro de momentos. as histórias parvas. as patacoadas gerais. os desabafos tontos. os diários miseráveis. de qualquer maneira... até me aguentei bem, nada de verborreias loucas, nada de palavreado para os mais susceptíveis. mas agora chega. que venham todas as palavras que conheço e sei escrever. eu gosto de escrever. mesmo.

hoje dediquei esta música


Entrevista a Herberto Helder por Fernando Ribeiro de Mello, publicada do Jornal de Letras e Artes n.º 139, de 17 de Maio de 1964.

«Os cinco livros que até hoje publiquei pouco significam agora para mim!»
- Diz-nos desassombradamente Herberto Helder

Herberto Helder, cujo último livro, «Electronicolírica», veio levantar sérios problemas em volta do conceito que a sua poética parecia anunciar acaba de publicar em conjunto com António Aragão e vários o colaboradores o caderno «Poesia Experimental» que vem confirmar a viragem operada na sua obra.

Fernando Ribeiro de Mello/ Jornal de Letras e Artes – Como considera criticamente a evolução da sua produção poética, desde «O Amor em Visita» ao recentemente publicado «Electronicolírica»?
Herberto Helder –
Em certo sentido (que também prezo), não houve evolução. Esse sentido é o de fidelidade às bases da minha experiência – a descoberta do modo – que, fundamentalmente, se cumpriu na infância. A experiência exterior poderá ser considerada simples desenvolvimento ou enriquecimento «em linguagem». A minha poesia processou sempre, como é evidente, exercer-se sobre essa massa central e viva. Mas a experiência humana é apenas ponto de partida, núcleo sólido e permanente onde assenta a experiência posterior da criação. Considero a criação o encaminhamento, até às consequências extremas, de uma experiência em si mesma não organizada. A descoberta do mundo não possui, por ela própria, finalidade ou coerência, nem constitui a salvação desse mundo. Desde que seja possível criar um corpo orgânico em que a experiência, devidamente articulada, se baste, surge uma harmonia entre o sujeito e a sua experiência, quero dizer, o sujeito participa do cosmos. Este esforço da superação do caos exprime-se pela busca de uma linguagem. È aliás na linguagem que a experiência se vai tornando real. Se nela não há, em sentido rigoroso, experiência do mundo. A esta conclusão vem chegando uma moderna filosofia da arte. A formação da linguagem é um paciente, extenso, doloroso e, muitas vezes, desesperante caminho. O erro aparece como uma constante, mas existe a possibilidade de ser sempre menor. Entre um grau máximo e um grau mínimo de erro, situa-se a evolução. Progresso de linguagem, de adequação às finalidades, superação da experiência, purificação do tema – eis onde se pode situar o sentido da evolução. Evolui evoluirci. Suponho que, entre a minha produção até ao volume «Lugar» e a quer me encontro realizando, há um salto considerável. O livro «Electronicolírica» é apenas o início do rompimento com certos princípios que orientavam a procura do estilo. Acho-me no ponto em que não hesito distanciar-me de tudo o que antes escrevi. Mesmo de «Electronicolírica» , aliás, composto há já um ano. Afasto-me, até, da minha colaboração no primeiro número de «Poesia Experimental» que, escrita antes, se situa contudo num momento mais avançado de evolução. Os cinco livros que até hoje publiquei pouco significam agora para mim. O pouco significarem garante-me completa liberdade e isenção, em ordem a uma nova linguagem. Nesses volumes não se exprime propriamente uma evolução, pelo facto de todos eles assentarem em dois preconceitos, a saber: 1) A consideração exclusiva de processos literários para a realização do espaço poético; 2) a preocupação de conseguir uma linguagem comunicativa. Presumo que um poeta dispõe de recursos muito mais amplos do que os meramente verbais e que, utilizando-os mesmo em exclusivo, eles devem tender à organização não apenas literária, ou gramatical, ou rítmica. Compreendo que se possam fazer poemas recorrendo, por exemplo, à expressão matemática, ao grafismo, à técnica comercial e industrial, às máquinas, à música, ou a qualquer outra fonte e tipo de sintaxe. Por outro lado, imagino que as preocupações do poeta se devem libertar da linguagem organizada para o diálogo. Max Bense afirma algo de semelhante, ao acentuar que «no conceito convencional de literatura, põe-se a ênfase na função comunicativa-social dela, enquanto que, no conceito progressivo, se insiste na sua função experimentativa-intelectual». Interessa-me, portanto, chegado que sou à convicção de me haver limitado, nos livros anteriores, a mover-me em círculo sobre uma linguagem esgotada – interessa-me digo, muito menos executar, uma gramática literária, destinada ao diálogo, do que perfazer um organismo internamente coerente e bastante. A comunicação será consequente, se for. De qualquer modo, bani a ideia, do diálogo, no meu estilo. Mas sinto-me ligado aos escritos antigos como alguém se pode sentir ligado a um paciente e doloroso erro...
FRM/JLA – Como explica a publicação do seu último livro, poesia de carácter experimental, após e em face da obra anterior que conquistara inegável prestígio?
HH – A resposta a esta pergunta está incluída na primeira. Resta-me acrescentar que o prestígio que possa ter alcançado (prestígio equivoco no qual se integra a malquerença de alguma gente, que aceito com satisfação) não poderia constituir uma poltrona. O prestígio é uma armadilha dos nossos semelhantes. Um artista consciente saberá que o êxito é prejuízo. Deve-se estar disponível para decepcionar os que confiaram em nós. Decepcionar é garantir o movimento. A confiança dos outros diz-lhes respeito. A nós mesmos diz respeito outra espécie de confiança. A de que somos insubstituíveis na nossa aventura e de que ninguém a fará por nós. De que ela se fará à margem da confiança alheia.
FRM/JLA – Que pensa da atitude da crítica relativamente a este livro?
HH –
A crítica? Bem vê: nas circunstâncias em que me encontro, a crítica não me poderia ajudar. Ela de resto nunca ajuda um autor. Tende afazer de mediadora entre uma linguagem e um entendimento. Ajudará o leitor. Visto que bani das minha preocupações a ideia de comunicação, não considero a intervenção desse primeiro decifrador, do mediador. Porque não estou interessado em que o leitor adira...
Poucas apreciações críticas foram feitas ao livro, até porque só o enviei a três ou quatro críticos, cada um deles representando certo núcleo de opinião. Simples curiosidade da minha parte... A referência que lhe concedeu Álvaro Salema exprime, mais ou menos, a opinião dos neo-realistas a meu respeito e inscrevo-a na categoria dos meus pequenos divertimentos privados. A de João Gaspar Simões, mais esclarecida e esforçada, carece de informação. Não é possível criticar-se um livro de poesia experimental com os instrumentos aplicáveis à poesia convencional. Em todo o caso, Gaspar Simões é um homem atento, e a sua formação de base parece-me menos estreita que a da maioria dos críticos portugueses. Lamento que o seu conceito de poesia se vincule demasiado a alguns postulados da geração presencista.

FRM/JLA – Diga-nos se o seu livro de contos «Os Passos em Volta» constitui uma experiência isolada ou representa uma continuação da sua obra restante.
HH –
Esse livro pertence ao mesmo sistema de propostas e soluções dos outros. Inscrevê-lo na designação de contos, ou chamar aos meus outros livros conjuntos de poemas, significa apenas ausência de superfície às categorias estabelecidas. Não me parece necessário referir a crise das classificações literárias. Caminha-se, sabemo-lo todos, para uma visão total da obra literária que se não podem adoptar distinções afinal nunca rigorosas, senão de um ponto de vista didáctico e, assim mesmo, somente em determinado grau de didactismo, «Os Passos em Volta» são a minha primeira tentativa para superar a dictomia prosa-poesia. Marcam também o meu interesse, no momento de referir algumas algumas experiências de facto, em que a circunstância desempenhava papel preponderante. Achei então que o poema, como eu o vinha praticando, não possuía a elasticidade, o ritmo, o clima verbal, capazes de abrange, adequadamente o tecido temático e circunstancial que eu pretendia explorar. Aquele livro permitiu-me tal experiência, tendo sido ele, afinal, um passo decisivo para a abolição dos preconceitos que vinham limitando o meu trabalho.
FRM/JLA – Sobre os cadernos «Poesia Experimental» que se lhe oferece dizer?
HH – «Poesia Experimental», cadernos cujos propósitos são parcialmente expostos no primeiro número e que mais cabalmente irão sendo nos seguintes, constitui o único esforço sistemático e de conjunto para a renovação da poesia portuguesa. Estes cadernos provarão também que existe na nossa poesia uma tradição que nunca foi sequer, de passagem, indicada. Quanto ao corpo de colaboradores, que espero ver presentes no diversos números que se projecta publicar, têm vindo todos eles, privada ou publicamente, tentando alguns meios novos da expressão poética. Salette Tavares ofereceu-nos agora algo que considero extremamente importante, tendo conseguido uma desenvoltura rara na utilização de uma gramática com pouca tradição onde se apoiar. António Aragão propõe um extenso poema-narração, bastante ambicioso,, justo em muitas das suas partes. Há nele uma multiplicidade de experiências que conduzirão a lugares diferentes do experimentalismo. E. M. de Melo e Castro consegue o melhor dos textos que publicou até hoje e onde se purifica a tendência «concretizante» dos seus processos. António Ramos Rosa aparece com textos semantemáticos de grande rigor que marcam corajoso passo em frente, passo aliás adivinhável já em «Ocupação do Espaço». António Barahona da Fonseca liberta-se dos seus vínculos surrealistas e promete o necessário salto mortal, para que, interiormente, se tem vindo a preparar. Quanto a mim, vou um pouco mais longe na exploração do principio combinatório inspirado nas calculadoras electrónicas, considerando no entanto tais experiências ainda pouco ousadas para o que pretendo. Espero conseguir um pouco mais.
Não existe qualquer uniformidade nas experiências em curso entre os colaboradores de «Poesia Experimental». É visível, imediatamente, que duas grandes tendências se desenvolvem no sei da revista. Uma a que poderei chamar «concretizante», que se apoia, digamos, numa concepção materialista da linguagem, procurando a coisificação da palavra. Outra «abstractizante», em que a ambiguidade e o indefinido, provenientes de uma inclinação barroca do espírito, se inserem no processo verbal, criando espaços míticos sobre os quais se pode dizer debruçar-se um sentido do maravilhoso. Esta tentativa de caracterização é de facto rudimentar e assinala apenas diferenças profundas imediatamente observáveis.
FRM/JLA – Quanto a si, quais os movimentos ou tendências da poesia portuguesa actual que lhe parecem importantes, não só do ponto de vista de renovação formal, estética como também sob o ângulo conceptual e humano?
HH –
O único movimento poético que me parece moderno é o Experimentalismo. E estou a referir-me tanto ao nosso país como à poesia em geral. Os meus interesses estão de tal modo virados para ela que me é quase impossível dar atenção à poesia convencional, por mais notável que seja, dentro dos seus recursos e propósitos.
Quanto ás expressões «formal», «conceptual», «estético» e «humano», nas acepções utilizadas na sua pergunta, nada tenho a dizer. Representam conceitos não integráveis, desse modo, no meu processo de pensamento. Em poesia, formal, conceptual, estético e humano significam, conjuntamente, «linguagem». E poesia, como diria certo crítico norte-americano, é linguagem. Isolar o implícito, explicitando-o, servirá apenas para estabelecer um sistema insolúvel de situações.

justice

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

meu deus...

se puderem vejam o documentário dos Sigur Ros!!! meu deus... já tinha visto, mas hoje vi outra vez e fiquei sem palavras... ai ai ai ai que banda brutal esta. brutal brutal brutal. nada mais a dizer.

domingo, 12 de outubro de 2008

amanhã vou dormir. é com uma alegria imensa que digo isto. até repito: amanhã vou dormir. vou dormir porque tenho folga. mas isso não quer dizer nada. amanhã tenho a primeira reunião oficial de produção da próxima versão do espectáculo individualista ranheta do Dostoiévski!!! motivo de felicidade. estarão para acabar as malditas férias do teatro??? talvez... talvez... já não falo de mais nada antes de estar pronto, isso dá azar. pois bem. estou outra vez bem disposto e com saudades da família junta. que a família junta é que a puxa toda. neste momento na rua está um casal a discutir em voz muito alta, não percebo nada do que dizem, nem quero perceber. o Imago este ano acabou... não deu para ir... espero que tenha sido perfeito. faltam dois dias para poder voltar a escrever palavrões. a língua deles parece alemão, estão neste momento debaixo da minha varanda. ele entrou no carro e ela foi-se embora. é assim o mundo. ontem à noite voltei a passar em frente ao mamarracho Sagrada Família, acho que vou gostando cada vez mais do edifício, embora ainda não o perceba bem. arranjaram-me um actor com tiques. vou conhecê-lo finalmente. quarenta anos. retirado do teatro. tem todos os ingredientes para fazer uma boa sopa. espero não falhar. eu espero não falhar. fumo mais um cigarrito e vou-me deitar que já vão sendo horas. pois nem sei que diga mais. tudo se há-de resolver... mas as coisas têm o seu tempo... e só é pena que o tempo não seja igual para todos...
correcção do texto anterior: a Justiça não é cega, a Justiça tem os olhos vendados. a generalização dos juízes é parva, nem todos os juízes são uns analfabrutos. são os políticos que vivem na distância da realidade. pronto, e cá tenho eu de pedir mais uma vez desculpa ao mundo. a questão da Justiça não ser cega e ter os olhos vendados é uma questão que me vai oferecer um texto um dia destes, esse é realmente um ponto interessante e bastante atractivo a nível simbólico/teórico. de qualquer maneira... se eu for preso... espero que alguém me leve tabaco... porque a vida sem tabaco é realmente uma seca... sem amor também... sem tabaco e sem amor...

sábado, 11 de outubro de 2008

pagar para ser livre

num mundo em que há cada vez menos monstros e cada vez mais pessoas disfuncionais, passam-se umas coisas um bocado tontas, absurdas, parasitas da vida. há uma revolução por acontecer. todos o sabem neste momento e todos sabem que ela é inevitável. há uma revolução por acontecer porque as coisas se repetem até um ponto irrespirável. este texto podia ser sobre mim. mas não é. é sobre nós. nós muitos. milhares. milhões. chamados parasitas, crápulas, desentendidos, trabalhadores assalariados, poetas, artistas, loucos, lixeiros, carregadores, funcionários, ovelhas, cabras, clandestinos, vendedores de drogas, contrabandistas, turistas da vida, comedores de elite, alcoólicos, vigaristas, serventes, escravos, silenciosos, números, tretas, farrapos, aldrabões, mágicos, mal-cheirosos, impossíveis, sonhadores, libertários, anarquistas, subversivos, sacanas, velhacos, fumadores compulsivos, teatrais, restauradores, crentes, conservadores, bananas, tónhinhos, badamecos, saltimbancos, abstractos, sexuais, porcaria, pessoas do mundo, etc... etc... este texto é sobre nós. grandes maningâncios do mundo abstracto. primeiro, adianta dizer que ninguém nos pede para nascermos, ninguém nos pergunta se estamos prontos. atiram-nos para aqui, espetam-nos com um nome, dão-nos um número que se vai transformando em vários números e assim se vão desenvolvendo as coisas. espetam-nos numa escola. se foi boa ou má, isso não interessa. vamos tomando decisões. o mundo tem as suas regras e ninguém pede para que opinemos sobre elas ou como se poderão melhorar. ninguém nos pergunta nada. se não temos uma nascença grande, ou se não somos reis, ou se os nossos pais não nos põem a par das coisas, damos por nós a guardar gado e o gado somos nós, somos pastores de nós mesmos. problema nenhum, vamos vivendo. vivemos num mundo que tem uma coisa chamada Estado. Estado anormal. esse tal de Estado precisa de viver à nossa custa. truque: esse Estado diz que nós não conseguimos viver sem ele. esse tal de Estado pode ameaçar-nos como lhe dá na gana porque faz as suas leis que nós aceitamos como nossas. o Estado diz: se não pagas vais preso. e de repente, apanhas-te no meio de um tribunal, em frente a um juiz que em vez de servir de executor da lei se põe a opinar sobre a tua conduta diante do que é considerado lei, e que só é considerado lei porque está escrito e só está escrito porque é aceite por uma maioria que acha que as coisas devem ser como são. o problema é que hoje em dia cada vez é menos a maioria a decidir o que quer que seja, as leis são feitas por uma elite que não sabe o que é viver fora das leis, não sabe o que é ter de obedecer a leis injustas. por exemplo: a questão da Segurança Social... agora podes ser preso por causa de falhares à Segurança Social, é o tempo do medo, tu falhas à Segurança Social, é assim, falhas, não é por mal, falhas e está tudo dito. eles chegam e enfiam-te numa jaula, dizem: se não pagas vais preso. tu dizes: não pago. vais para a jaula oficialmente reconhecida como justa. para a porcaria da jaula oficialmente reconhecida como justa. muitos acham bem. muitos mais não acham nada. imensos mais não podem aceitar isso. de repente estás num tribunal e tens um juiz na tua frente que te manda bocas foleiras e que se ri do ponto em que estás, tu vais engolindo até não poderes mais, o juiz vai fazendo perguntas e vai opinando com as suas bocas e tu ali estás sentado, diante de uma presença simbólica daquilo a que chamam Justiça. cega e com uma balança nas mãos. pergunta: cega? pergunta: qual é o peso, quem o define? tu? que estás ali sentado? diante de um juiz que te manda bocas foleiras, que recebe não sei quanto por mês, que pode chegar atrasado, que tem dois carros e cinco casas, com o seu ordenado chorudo ao final do mês. é esse que te julga??? é esse que te pode julgar??? o que sabe esse? és enfiado num lugar onde te julgam por teres dívidas e és julgado pelas pessoas que são pagas pelo que devias pagar!!! num mundo em que mais de metade da população passa fome ou está no limiar da pobreza há pessoas que julgam outras sem terem ideia do que é esse lado. és julgado por pessoas que não sabem o que é escrever um poema. que não sabem o que é fazer amor louco. que não sabem o que é criar uma obra de arte. que não sabem o que é mijar num penhasco. que não sabem que há coisas no mundo que são mágicas e únicas e inalcançáveis para quem procura outras coisas. deves à Segurança Social, ninguém quer saber porquê. só querem que pagues. tu não queres pagar. ninguém quer saber porquê. porque as leis são para cumprir. é isso que deve estar formatado na tua cabeça. há perdões fiscais só para quem eles acham que merece. há reformas exorbitantes só para quem eles acham que merece. há ordenados loucos com dinheiros públicos só para quem eles acham que merece. há ajudas de custo que quem paga paga só para quem eles acham que merece. os políticos ganham bem. fazem o que querem. tudo na boa. os carros são públicos, as refeições são públicas... e aqui o público não quer dizer que seja teu, quer dizer que é pago por ti. mas se tu nem os queres lá, nem sabes muito bem porque é que estão ali, porque é que recebem o que recebem, porque é que não pagam o que não pagam, porque é que podem fugir a tantas e tantas leis que dizem que têm de ser cumpridas!!! mas as ovelhas não... as ovelhas devem alimentar o regime, as ovelhas servem para alimentar o regime. mas se não há regime não há ovelhas. e depois encostam-te à parede, dizem: se não pagas não podes viver. ninguém te mata. enfiam-te numa jaula, impedem-te de trabalhar, não te deixam comer. de repente estás em frente a um juiz que te manda bocas sobre o teu estilo de vida. e tu só podes dizer: senhor doutor juiz, num mundo como este é o senhor que é anormal, é o senhor que não tem de fazer contas para comer, o senhor é anormal, o senhor não sabe nada, o senhor nasceu com o cu virado para a lua, o senhor é um carneiro, um parasita, o senhor chegou aqui, atrasado, só o senhor sabe porquê, chegou mal disposto, pensa que toda a gente lhe tem de fazer vénias porque o senhor é juiz, como se isso lhe desse alguma importância neste mundo, o senhor é anormal, anormal, a-n-o-r-m-a-l. porque este tempo é tempo de escravatura disfarçada, este regime é um regime ditador, toda a gente sabe disto, toda a gente sabe disto. o nosso país é uma vergonha. já houve uma revolução. pergunto seriamente: quando será a próxima? já vai sendo tempo.