domingo, 31 de janeiro de 2010

banda sonora dos dias

os kuni eram uma tribo de índios que vivia no coração de um homem.

ai barcelona... barcelona...

sábado, 30 de janeiro de 2010

texto som experiência 2

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

experiência voz texto primeira

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

olá, está bom? espero que esteja quieto e sossegado na sua cama confortável. que esteja quente. que a sua esposa lhe tenha trazido leite e umas bolachinhas. espero que se encontre com os testículos vazios. que a sua vida seja perfeita. tem sido? os filhos estão bons? leu o jornal hoje? o que jantou? foi um dia proveitoso? terá tomado um café de manhã acompanhado com um pão com manteiga... ai não? ai, sumo de laranja? diz que é óptimo de manhã, melhor do que de noite, pelo menos... está a rir-se? também eu. é uma pena que tenha de matá-lo. hahaha que curioso, é assim a vida... lembra-se daquele anúncio em que um satélite caía em cima de um carro? o mesmo aconteceu consigo. encontrei-o hoje e achei que era perfeito para o que eu quero fazer. no meio de milhares de caras anónimas o senhor calhou-me na sorte. eu estou contente. o senhor também deveria estar. ei ei, não desligue já o telefone, por favor, falemos como pessoas adultas. bem, voltando ao assunto, estava eu a perguntar-lhe se estava bem e tal e coiso e de repente até lhe disse que pretendia acabar com a sua vida... lembra-se? claro que sim, uma coisa destas não se esquece assim do pé para a mão, não sei se me estou a fazer compreender. hahaha. bem, deixemos isso por agora, o que é importante é que o senhor esteja bem, mais ainda, melhor do que bem, que esteja perfeito!!! só assim a sua morte poderá ter algum impacto. está-me a seguir? olhe, vou-lhe ser sincero, isto não é por nada de mal, na verdade, isto não é por nada, é porque tenho um problema que acho que posso resolver assim. ei ei, não diga isso, então? já não temos idade para falar nesses termos, além do mais é pecado entrar nessas andanças. bem, estou a dizer-lhe, estou a dizer-lhe, cale-se, cale-se porra, ei ei, estou a dizer-lhe que o vou matar, isso não é nada de especial. todos nós morremos um dia, não é verdade? então qual é o problema? vou provavelmente safá-lo de uma vida de sofrimento sem razão e a sua única paga qual é? qual é coisa qual é ela? pois claro, meu caro... e agora, se me dá licença, amanhã volto a ligar, é que precisamos de afinar os detalhes. certo. abraço.
encontrava uma imagem de uma estrada, era noite, não, era final de dia. ainda havia um pouco de luz. uma tonalidade laranja avermelhada e escura que se apropriava do papel. os olhos fixavam-se na imagem da estrada. era um momento silencioso. o que quereria dizer tudo aquilo? naquele momento. ao andar pela rua. o corpo que se dobra e que apanha um simples papel rasgado de algum lugar. uma estrada. o silêncio. a luz. de repente, às custas de uma concentração absoluta, ela entra no universo da imagem. está na estrada. descalça caminha no alcatrão frio. é noite ali. acho que já vimos esta imagem em vários filmes. o silêncio. nada se passa naquele universo e mesmo a estrada parece não ter início nem fim. é uma linha recta. há um ponto nessa linha. é ela. descalça. olha em todas as direcções possíveis e começa a sentir medo. é um medo sujo. transpira. a respiração acelera até se tornar impossível de manter. cai ao chão. arrasta os joelhos despidos sob o alcatrão frio. os joelhos vão-se rasgando. é já o osso que se arrasta no alcatrão frio. depois as mãos. as mãos vermelhas. depois os braços. os cotovelos soltam a sua armadura de pele. tudo sangra. depois os ombros. depois já não rasteja. é o corpo que se contorce sob o alcatrão. depois já é apenas uma massa informe de vermelho líquido. uma palpitação. um saco de despojos de uma guerra sangrenta. foi um acidente. de certeza que foi um acidente. quando se altera a cabeça em volta de uma falcatrua da natureza. quando o sangue espreita pelos braços. quando se morre trinta mil vezes por dentro do cérebro. quando línguas répteis tomam conta do olhar. quando o olhar se torna explosivo porque não tem um buraco no chão. foi um acidente. um mero acidente da natureza que atira o corpo vulnerável para dentro de uma imagem. um acidente que transforma a imagem numa morte lenta. numa carnificina alheia. crime. subversão. apatia. crueldade. maldade inata. ela descalça no alcatrão frio. o silêncio envolvente que faz estalar os tímpanos. o fumo. a loucura. as lágrimas que lavam a massa vermelha não natural do seu rosto comido. era uma imagem de uma estrada. corpo dobrado que apanha um papel. o chamamento. velocidade. buraco negro que atira a carne para o vazio. noite. noite. foi um acidente. um mero acidente. sangue que escorre pelo chão como um rasto de presa que foge de um predador maior. um predador maior que é o desconhecido. que tem o rosto branco do nada. que tem a luz pornográfica de toda a merda engolida ao longo do tempo. e haja sangue e haja dor e haja circo. as mãos do mundo atiraram-na para dentro de uma estrada que era apenas uma imagem de abandono. o acidente da noite tornou o seu braço numa cicatriz de ruína. silêncio. silêncio agora. muito silêncio. a loucura há-de vir beijar-lhe a carne crua. ela morta no alcatrão frio da noite. para que lado vai a estrada? para que lado? para lado nenhum. tudo deixará de respirar algum dia.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

experiências em inglês. nada de jeito.

oh look at me great magical breasts of god
i am inside a cube of silence and poison
my veins are expanding to the sky
where are the rocks and the irons of my mind
sleepless through the times
dreaming in crystals
turning to tears
oh look at me great magical european world of words
civilizations of war and power
where is your truth
underground mass destruction
stimulating economy and illness
home of the brave
home of the weakness
driving cars along the stormy highways
blind blind
transforming eyes into oblivion
eating wars and deaths
and games
and little nothings
and lies
yes i am alive in all these meticulous paradise of sorrow
in this paradise of white papers
in this terror brain of shit
oh look at me
look at me
please see me in your ruin
i am vomiting to my rights
era o tempo do grande kuni. os guerreiros subiam as montanhas e só voltavam passados muitos dias. traziam animais mortos que nos serviriam de alimento por algum tempo. havia um estranho respeito na morte. um quase medo sagrado na morte. os guerreiros traziam as suas cabeças vestidas com as cabeças dos animais. cantavam cânticos de terror. faziam longos desvios no caminho para casa. nunca em linha recta. sempre em círculos. era para que a morte os não seguisse. a morte. papu lana. papu lana. mire no sacura. os guerreiros vestiam-se com os espíritos da grande mãe. o tempo mudava com os seus cânticos de terror e de magia. o manto da noite cobria as nossas casas. as crianças choravam. muitas sucumbiam. eram tempos de magia. o grande kuni fazia danças. o grande kuni sangrava as crianças vivas e derramava o sangue quente sobre as crianças mortas. os guerreiros chegavam com os animais sem pele. os animais vermelhos. o grande kuni dançava em volta deles. gritava: la pah la pah o mai nur tancuta. os guerreiros choravam. as mulheres e as crianças choravam. ali se uniam os animais e as crianças que já não tinham vida terrena. era a morte que dormia lado a lado. depois todos dançavam. depois as crianças eram enterradas e os animais eram cozinhados. e depois as mulheres e as crianças comiam. e depois os guerreiros tomavam uma bebida que o grande kuni preparava. era a bebida secreta. puna. depois todos rezavam. e depois todos cantavam. por vezes a aldeia voava muito acima da terra. por vezes a aldeia sobrevoava as árvores.
rumi no tanak iram lani. u ter apret ur gassalo. krqueda nubestra. faguela zamo ir mut dafigue. mer mer jotela bunaco. juatica por trepo. no ita vucinha. la lure sertaca. demir demir la falela. lo incretu pur mina o sarata. godeto na cratelha. chegavam homens com sacos gigantes em que cabiam outros homens. tudo era fogo em todos os lados. gritos de medo surgiam de todas as direcções. havia fome. havia guerra. tinham os homens olhos esbugalhados. eram salteadores de vidas. agarravam primeiro nas crianças. depois viravam-se para as mulheres. tocavam-lhes com os seus dedos sujos. muitas vezes arranhavam-nas por dentro. traziam pedaços delas agarrados às unhas. riam-se. riam-se de tudo. arum navaro tacuni. arum navaro tacuni lava. poverto zole. funima sa darfuve no intragate si ma sus. quando se fartavam dos gritos arrancavam as línguas com objectos de ferros ou cortavam-nas com as suas facas ou queimavam-nas. disseram a meu pai: engole isto. e tiraram um pedaço de carvão incandescente do meio do fogo. a minha mãe olhava. eu olhava. deram-lhe pontapés nas pernas e nas costas até que ele se ajoelhou diante deles. riam-se muito. o meu pai chorava em silêncio e as gotas de suor que tinha no seu rosto eram gigantes. abriram-lhe a boca. atiraram aquela bola incandescente lá para dentro. gritavam: engole engole. riam. o meu pai tremia de dor deitado naquele chão de terra. contorcia-se. a mim levaram-me. foi a última vez que o vi. é a última imagem que tenho dele. um homem em sofrimento. sem qualquer tipo de dignidade. e eles. eles eram nada. tinham o rosto da morte. provavelmente já se tinham espalhado pelo mundo como uma doença. tal como a imagem que me dominou a cabeça durante todo este tempo foi uma doença. mas chegou o momento da sua cura. chegou o momento da vingança. fuba nugare frago ja rogale. tupre tupre. su into nu cassami. nu cassami su into la bucuna. o sangue dos meus antepassados vai voltar a viver através do sangue dos homens mortos. o rosto que queimou o meu pai irá arder debaixo do sol.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

a homenagem do dia. em estudo.

















assim corriam os dias
mergulhados em tinta
mergulhados nas cabeças alheadas
as crianças derrubavam paredes
os corpos soterrados
eram assim os dias
cheiravam a cama
eram dias sem sono
eram dias dançados
as malditas cabeças que tudo comem
era o sangue
era o sangue
era a vista distante
era o sentido que recusava a partida
que não sonhava a chegada
uma núvem de fumo
as imagens repetidas
cabelos de fogo
casas vermelhas
corpo derrubado
luzes
ardente melancolia
pensamento voador

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

banda sonora dos dias


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

visitava-me a melancolia. era cedo. de manhã. eu dormia com um pouco de luz. dormia em sobressalto. chegavam pássaros gigantes nos meus sonhos. agarravam-me com as suas garras de fúria e levavam-me para longe. era um quarto de plumas. as paredes eram brancas para aumentar a claridade. de repente eram animais carnívoros. os sonhos como uma torrente. insecticida no sangue. os braços caídos pela estrada fora deixavam uma linha vermelha. ninguém a seguia. só o silêncio. a coisa lá ia à vida. lentidão. visitava-me a melancolia nas manhãs púrpuras. depois de noites incendiadas em torturas magistrais. a rebentar disperso por dentro. no meio de gritos confusos. no meio da imensidão da gente. vestido de vergonha. como se os dias fossem estranhamente ácidos. cobertos pelo amargo.

banda sonora dos dias

saquei por acaso este senhor de uma página que costumo visitar. é um álbum de 1970. é provavelmente uma das coisas mais incríveis que ouvi nos últimos tempos. jeremy storch.

domingo, 17 de janeiro de 2010

banda sonora dos dias

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

a necessidade de desenvolver uma teoria em relação a esta estética de crise cega tem-me surgido com o passar do tempo e com o desenrolar de acontecimentos. de repente tenho uma estranha necessidade de me explicar mais do que claramente. é uma exposição absoluta do eu. uma exposição que se vem criando desde os inícios do acto escrita. lembro-me da primeira vez que experimentei o poema. o que é isso do poema? o poema? o poema enquanto forma mais absoluta de todas as formas escritas, com as suas regras próprias e a sua verdade inerente, a sua verdade fabricada. era natal. estávamos em casa da minha avó em portalegre. o natal aborrece-me terrivelmente desde sempre. eu já andava com o vício dos cadernos mas ainda só tinha a aventura das frases. escrevia frases. frases enigmas. as verdades absolutas da juventude. os pensamentos da morte e da desilusão inevitável. o mergulho na violência dos dias. a frase exorcismo. a questão hamlet. um turbilhão de pensamentos que se aceleram dentro da cabeça e um inevitável desinteresse pela acção. talvez esta seja uma imagem já projectada e por isso tenho de desculpar a sua destruição, são as partidas da memória. era natal. estava em portalegre. depois do jantar de família subi ao andar de cima onde ficava o meu quarto. peguei no meu caderno. sentei-me numa secretária. havia muitas secretárias espalhadas pela casa. o meu avô morto era solicitador e tinha um escritório. as secretárias foram ali ficando como recordações de uma vida que agora era apenas memória e pó. sentei-me numa cadeira de madeira e escrevi no meu caderno preto sob a secretária mais antiga. experimentei isso do poema. dessa junção absoluta das palavras com o pensamento. ainda era apenas um fragmento da realidade. deveria ser uma frase simples mas fragmentada em verso. não me lembro e esses cadernos não existem. como aliás quase tudo o que escrevi não existe. sempre tive essa estranha necessidade destrutiva, ou auto-destrutiva. devo ter gostado da experiência. as palavras sobre o papel com a sua vida própria. como se projectassem uma luz característica. uma luz que só elas possuiam. aí, nesse dia, começou aquilo que seria o problema. todas as pessoas criam o seu problema, que é o mesmo que dizer que todas as pessoas criam o seu caminho. nesse dia algo em mim se transformou, alguma ruptura radical se produziu em mim, não tenho a certeza disto. a partir desse momento os meus cadernos já não eram mais os cadernos da escola, eram cadernos de rabiscos, de frases, frases amontoadas, textos à margem, textos de revolta pura e adolescente. penso que depois disso surgiram as leituras, os livros, começa-se a ver que o problema que se assume tem contornos que tocam noutros. o problema vai-se tornando global. de repente o problema é uma estética. de repente o problema é uma procura da forma. de repente o problema é um mergulho. um salto no infinito. uma ruptura com a vida. dos livros dos outros retirei as palavras. os livros dos outros eram livros meus. copiei-os na cabeça. escrevi as suas frases como se me pertencessem desde sempre. dos livros as palavras. da vida o ritmo. quando se vive mergulhado na violência há várias formas de torná-la suportável. eu tinha o vício do poema. o maldito vício do poema. decidi-me então a usar a violência para que ela agisse contra si mesma. haveria de escrever a maior violência de todas. o poema mais interno de todos. o poema da carne. onde todos os fantasmas pairassem como vultos escritos a sangue. é uma opção de infância. quando te fechas no quarto e esperas que termine a guerra. e só esperas que termine a guerra. para te poderes movimentar livremente no meio de uma paz armada. com o poema acabou essa paz armada. de um lado havia guerra e dentro do quarto começava a produzir-se outra. uma guerra silenciosa. uma guerra em que as palavras não eram gritadas. em que o sofrimento não era inútil. afinal a angústia servia para alguma coisa. tinha um objectivo. tinha ganho um propósito maior. tinha-se tornado arma. com a guerra poderia criar frases. a minha mãe agarrou nos meus cadernos e com a sua incompreensão de mãe desmascarou-os à sua maneira. viu-se neles. deve ter-se visto obscuramente pintada. o que ela não sabia era que nada do que ali estava escrito lhe tocava. a minha guerra era com o mundo. o mundo. o mundo que de repente se torna palpável e insignificante nas batalhas de um adolescente. o mundo que pode ser vencido ali. na dimensão de uma folha de papel. estava traçado o meu rumo. devo ter escrito coisas horríveis. mas não fazia mal. era a escola. e quando um poema se tornava fluente na sua inocência e se mostrava à gente. e a gente gostava na sua inocência do que ali estava escrito. não era do sentido. não podia ser do sentido. era da forma. era da opção da forma. era a pergunta que se colocava depois de uma afirmação verdadeira. que a adolescência identificava como verdadeira. porque era sua. a pergunta era sua. e depois descobre-se um dia que é possível transformar as coisas em metáforas. há uma explosão. uma torrente de metáforas começa agora a mascarar as frases. tudo se torna enigma. máscara de angústia em forma de fogo. aprende-se a mostrar um mundo interno de uma forma que não é clara. não se sabe bem para onde se caminha. é um terreno minado. mas a guerra não pára. a guerra insiste. e mais os livros que se vão acumulando. e novas conjugações de palavras que se vão descobrindo e a magia dos autores que vai apaixonando, criando rupturas na escrita, dando novas perspectivas, abrindo portas. depois os cadernos acompanham os braços com cada vez mais naturalidade. a guerra acompanha a cabeça de uma forma cada vez mais obscura. os fantasmas não se resolvem. vão-se resolvendo. a violência que educou os dias, como fugir-lhe? é impossível fugir-lhe. tem de se enfrentar no caminho. tem de se lutar contra ela com todas as armas que se possuem. mas a arma é apenas uma: o poema. uma simples conjugação de palavras que são cuspidas ou vomitadas com angústia sobre um papel. e o tempo... o tempo vai desenvolvendo as feridas e ao mesmo tempo os anticorpos. aprende-se a mostrar as feridas. aprende-se a mostrar a frustração da violência que educou a vida. está-se tão embrenhado no ritmo das palavras que é já impossível fugir-lhe. as metáforas ajudam. a musicalidade das conjugações ajuda. o enigma ajuda. o ritmo torna tudo estranhamente suportável. mas depois surge o dia. e o dia faz com que a violência se vire para o corpo e as palavras vão-se tornando mais claras. mais exactas. mais cruas. e haverá o dia em que a violência tenha o seu derradeiro exorcismo. e haverá o dia em que a violência seja exterminada eternamente do corpo. e haverá o dia em que a vergonha da violência seja para sempre desmascarada que se obrigue ao desaparecimento. nesse dia, talvez se mude a escrita outra vez. talvez me sente outra vez na mais velha secretária que há em portalegre com a sua memória já ela de cinza. e talvez comece tudo do zero. desse ponto em que o absoluto volta a ser possível.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010


o problema de woyzeck. uma espécie de medo do oculto. depois da tomada de consciência. a resolução. o peso do mundo. o poder. um poder social. um poder social que rebaixa os fracos. um poder corrupto no sentido humano. que alarga os seus braços até usar a violência. um problema que termina com a morte. no limite da crueldade. no limite da loucura.
eu estico-me e a pele estica. como uma descarga brutal que sobe pelo braço e que consegue atingir todo o corpo. como se o ponto em que a pele se junta com a pele se descolasse. se rasgasse. como se o corpo recusasse a sua cicatriz. como se a pele recusasse a sua cura interna.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

banda sonora dos dias

ponto de situação

disparar na direcção da vida. depois dos túneis em que se pode escrever a palavra merda. actualizações do sistema. comer azeitonas à chuva. partir vidros. saltar contra as paredes. cantar sofrimentos. fazer assados. continuar a detestar abertamente os fritos. sim, é verdade, é preciso ir ao fundo muitas vezes. escrever a palavra merda. agora já sem pontos. com a mão quase solta. mão arma. em volta da música. em busca de portas para o mundo. a definir estratégias. a esquecer rostos. lugares. casas. para o real caralho com a memória trapezista. hei-de voltar a escrever poemas. hei-de voltar a escrever poemas. há-de o meu corpo ilusionista voltar a arder nas noites silenciosas. de volta de um texto e a pensar no outro que virá. hoje começa a leitura séria. o silêncio. o silêncio.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

e assim se vai regressando lentamente à vida. tirados os pontos. com o texto acabado. um texto acabado... quem diria... mais uma etapa que se avista. ainda coberta de névoa. ainda obscura. um texto. umas palavras numas folhas de papel que querem tornar-se vivas, que querem ganhar um corpo, como se as palavras fossem gente, porque também as pessoas querem ganhar um corpo, também as pessoas têm a inquietação constante do respirar. as palavras. as palavras sobre o silêncio. as palavras do exorcismo. mais um exorcismo. por vezes é tão difícil puxar a carroça que mais apetece é ficar em terra. mas as imagens de voar. livre. talvez o absoluto seja uma coisa que nos metem na cabeça quando somos crianças apenas para nos assustar. assim se vai regressando à vida. com um texto que quer ganhar corpo e já com outro que se vai criando na cabeça. complexificar. partir de um texto de um para um texto de muitos. jogo. ver o sol lá fora. e os olhos enfiados no computador.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

diário 2010