é um dia monstruosamente inacabado.
um som estridente e metálico nos ouvidos comidos pela fome. não é bem fome, é mais uma ausência de alimento, um exílio de um corpo que se tornou incapaz de resistir ao delírio da pele. pele colada. novo olhar de medo em relação aos paraísos. o chamamento provoca a evolução precoce da fuga.já não há história possível neste corpo de ossos. é um mergulho rude no vazio. a palavra é um novo silêncio. flores pintadas nas mãos delirantes. delírios constantes. iluminações. eliminações. aniquilações. sexo em carne viva. drogas. cabeça pesada e passada. pendurada. restos de sangue homem nas pernas. mulher que atravessa o quarto como quem amaldiçoa a vida. nas paredes das escadas. um cheiro terrível a merda e a um amanhã putrefacto. um beijo que foi um pedido: não me abandones. era já demasiado tarde. já todo o ar se tinha tornado talvez irrespirável e há sempre corpos que precisam de terra húmida. corpos flores. corpos casas. corpos que te beijam e te mostram antecipadamente o abismo e a escuridão da sua ausência.
é mesmo assim, por muitas mãos que se visitem... há sempre as unhas que se tornam ecrãs lunares, lacunares. unhas que levaram a tua menina dos olhos ao ponto da ruptura e da atrocidade.
ainda sonho a casa que um dia foi vermelha, era da tonalidade de umas peúgas que eu tinha. assimilei a tonalidade vermelha como se fosse a única coisa que me servisse de guia. é assim, ao homem mulher nada lhe basta. o cheiro a merda era meu e o cheiro ao não futuro emanava da sua boca. esta certeza atravessa-me a garganta como uma faca envenenada. um dia chegarei a outras conclusões igualmente adversas. até lá tudo tem o sabor coalhado do silêncio.
que o dia termine com a sua tranquilidade normal. que a luz nos visite.
mas o que é que isso importa?
2 comentários:
Ça va, cher diable?
ça va... ça va...
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