era demasiado fácil reconhecer o falhanço de uma impossibilidade, mesmo sendo ela o objectivo máximo que suportava toda a teoria, explicando melhor: mesmo sendo a utopia impossível é sempre ela quem define o rumo, ou, infelizmente, deveria ser. havia um teatro feito de madeira em que corria a seiva da vida última, carregado que estaria o palco com a intensidade mais brutal de todas, a intensidade do momento pré-morte, desde que consciente de si, um momento de lavagem final, de despedida, de passagem (nada de misticismos, quando morremos tornamo-nos pó e dissolvemo-nos no cosmos). acreditava eu que o teatro era essa zona de passagem real, a passagem que dava sentido à vida, uma espécie de meta-geometria, em que os actores, quais corpos comunicantes em vigília, ultrapassavam a dimensão da simples realidade. dois momentos marcantes nesse trabalho: um primeiro olhar, imediatamente a seguir ao nascimento, a magia da surpresa absoluta, o humano total, a máscara neutra pura; um outro olhar, último, o instante ínfimo antes da morte, o olhar da consciência sobre a vida, a certeza do corpo, a máscara menos neutra de todas, o corpo com vícios. dominava assim na teoria dois momentos: o nascimento que ligava ao corpo e a morte que identificava com a consciência.
momento actual e problema: a tal meta-geometria funciona quando se trata de colocar vários actores num palco, mas e quando se trata de um monólogo? num monólogo a questão do espaço palco, embora se trate de uma questão fundamental, passa inevitavelmente para segundo plano, o espaço de um monólogo é, acima de tudo, um espaço interpretativo. como fazer um monólogo sem que a contra-cena com o público seja num registo confessional ou sem que o personagem actor fale apenas consigo mesmo? tem de criar-se um compromisso. como se faz o argumento de um monólogo? o argumento de um monólogo será apenas um actor que espera o público e que o desanca com informação? pode haver acontecimentos num monólogo? acontecimentos não é uma palavra boa para aqui, claro que pode haver acontecimentos, mas acontecimentos história, em que o público quase que entre num local em que apanhe um bocado real da vida, como que por acaso, e que esse personagem, como que por acaso, sabe que está a ser observado... mas insiste no seguimento da vida como se nada fosse.
como escrever um monólogo que não se fique pela confissão?
como encenar um monólogo?
como trabalhar apenas com um actor?
qual o papel de um encenador num monólogo?
sábado, 12 de dezembro de 2009
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