terça-feira, 15 de dezembro de 2009

poema

nas montanhas mais altas do teu pensamento
nasce um rio
uma música suave e harmoniosa
vai descendo as montanhas e lavando a terra
é negra a terra
tornou-se magicamente fértil
vive-se nela sem ecos do passado
sem monstros vestidos de futuro
dança-se aí ao ritmo do vento
crianças irrequietas
talvez as tuas mãos
transformadas em quente
que foram um dia pássaros citadinos
nessas montanhas do teu pensamento de fogo
há um rio que corre e corre e corre
sem parar nunca
um rio que tudo lava e tudo leva
que é o lugar perfeito para deitar cartas
cartas que ardem na tua água pura
hei-de afogar-me silencioso dentro de ti
se descobrir onde escondes a tua porta
já sei que nasceste um dia
e isso me basta para que o mundo siga
para que o sol me brilhe
mesmo que não estejas a meu lado nas manhãs absurdas da vida
quando abro os olhos e vejo o céu de cinza
que tudo cobre que é obscuro
bebo a água fresca do mundo
tu tornas-te na água que me atravessa
eu sinto-te em mim
fresca água límpida pela boca
ah afogar-me
ah beber-te
acordar depois das noites de silêncio
acordar nas manhãs de ruído
onde estás?
voltarás?
que nome tens agora?
já não tenho asas
e quando a fome me revolve por dentro
eu insisto nela até que me doa
e só assim me sinto

2 comentários:

Ursdens disse...

Grande poema pá! Gostei! :)

Rini Luyks disse...

Bela prenda de Natal, Pedro!

No nosso blogue "Anacruses" também já há algumas...:)