sexta-feira, 25 de julho de 2008

Dostoiévski, a continuação do filme

o gajo em acção, se houvesse uma certa continuidade a nível estético o título podia ser este, era suficientemente pimba para eu gostar e enquadrava-se mais ou menos na evolução que este espectáculo está a assumir (por incrível que pareça há alturas que toca na performance!!!). enfim... o título da segunda parte do livro é Por motivo da neve húmida, porque é uma história que lhe surge e etc... etc... na adaptação proposta por enquanto, não há aparecimento da história, há a própria história, logo o título que aproxima do lado literário não fará qualquer sentido, para mim. continuo a ter pontos de contacto que nunca mais acabam, a porcaria da sua relação com o dinheiro e com as possibilidades que não se têm, com aquele lado rasteirinho em relação a alguns casos da vida que não se resolvem, que se intensificam, que se tornam verdadeiros problemas forçados, enfim, já que ando na onda dos espectáculos pessoais apenas tenho de meter o dedo na minha própria ferida, rastejar na minha treta. uma coisa vos garanto, é um orgulho do caneco ter pegado neste texto e ter-me apaixonado por ele. este texto apareceu-me numa altura das mais problemáticas da vida e foi como se tivesse sido uma espécie de luz, o que parece estranho tendo em conta o texto que é, foi um ritmo que foi descoberto, na altura andava de volta do Maldoror que ainda hoje é a referência literária da minha vida, mas este sacana deste Dostoiévski entrou-me de uma maneira... foi uma espécie de identificação com o registo, um ritmo, uma forma de riso bastante próprio, um remoer, um atazanar da cabeça com as coisas do mundo, o dedo na ferida. o livro é incrível. já me perdi de onde ia... bem, estava na adaptação possível e na suas possibilidades. vou aqui mudar de parágrafo.
preciso de actores a sério para fazer isto, este tipo de texto não dá grandes possibilidades de remedeio, têm de ter um bom domínio do que é dizer um texto, do que é dizer um texto com o compromisso de o dizer. personagens lixadas: ele e a prostituta. são as personagens mais centrais do texto. ela tem um problema que é formidável para qualquer actriz, está quase sempre em silêncio, só fala de uma maneira quase recortada, mas sempre com a frase certa, e a maneira brutal como ela leva com os discursos dele e como lhes reage... é brutal. ele, já se sabe, malhas de discurso, rasteirice, provocação, enfim... são dois personagens formidáveis que precisam de dois actores formidáveis!!! e depois há a questão: como se pode um encenador pôr em causa a não ser com actores? sem actores dá para criar efeitos cénicos, mas criar interpretações? na cabeça mais um espectáculo impossível!!! basta de meios termos. teatro absoluto. neste espectáculo até dá para usar móveis, tenho de pensar nisso, seria a primeira incursão pela cenografia!!! hehehe
bem, tudo isto são desabafos de ideias...

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