terça-feira, 8 de julho de 2008

era um automóvel daqueles muito rápidos. eu não percebo nada de carros mas consegui perceber que aquele era dos rápidos. entrei. a porta fechou-se já comigo lá dentro. estava trancada a porta. o carro seguiu o caminho que devia estar já previsto. noite. andar pela cidade e só vislumbrar as luzes que se passam pelo olhar já gasto ou demasiado cansado. eram demasiadas luzes. o som demasiado alto não deixava perceber o que diziam as vozes. electrónico distorcido. não era música. era um som de fundo que ensurdecia e que obrigava quem queria ser ouvido a gritar. calem-se seus sacanas. tirem a merda da música. abranda a porcaria do carro. detesto velocidades. era o mesmo que estar calado. chega-se à praia e para-se o carro. um sai e vomita. os outros riem e mandam umas piadas. ele limpa-se e começa a rir também. ninguém me vê. afasto-me. começo a ir em direcção à água. descalço pela areia. ando não sei que distância. não me apercebo. sento-me na areia. uma mão nos ombros. quem és tu? não importa. posso sentar-me? claro. mas fala pouco ou nada ou só o indispensável por favor estou cansado de muito som. está bem. sento-me só. farto-me de estar ali. digo. vou andar. vens? sim posso ir. vamos então. o sol começa a aparecer. detesto o nascer do dia depois da noite. consigo ver-me. consigo ver quem me acompanha. temos o rosto alterado. canibais. quero ir para casa. está tão longe. é daquelas alturas em que seria bom já estar lá já que há a impossibilidade de voar. foda-se. fecho os olhos e ando assim para não sentir as pernas. tento enganar-me. tenho sede e sono. estou confuso. sou quem afinal? não interessa. responderei noutro dia às minhas questões falsas de última hora. calo-me. oiço os pés na areia. enervo-me. a minha companhia lá está ao meu lado. um silêncio. olha lá eu não sei para onde vais mas podias deixar-me em paz e sossego penso eu na minha cabeça. quero água. o carro dos outros agora dava jeito ali. mas era tão rápido e devia cheirar a vómitos e a merda do som enervava-me demasiado. que se foda. lá ando eu de olhos fechados para enganar as pernas e a cabeça. chega-se a terra firme. já o mundo anda no seu ritmo de dia. um passeio longuíssimo. raiva. fumo um cigarro e atiro com a beata para o chão. caguei. preciso de um café e de uma água. entro num lugar. bom dia. boa noite. quero café e água. a minha companhia come um bolo seco e bebe um copo de leite. se fizesse o mesmo rebentava-me todo em três tempos. quero ir para casa. queres-te sentar? não. quero ir para a cama. queres? quero. dormir. dormir como se não tivesse de acordar. o rádio do lugar com a energia falsa da manhã. com a boa disposição forçada de quem inventa a vida. espera lá. inventamos todos. é melhor não pensar. sento-me num muro com vista para a água. volto para a areia. deito-me. durmo uma hora. é cedo. o sol só começa agora a apertar. não há perigo. acordo. estou sozinho. falta-me tudo. merda. não volto a entrar em carros rápidos com o som assim. os fantasmas assumem muitas formas. merda.

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