domingo, 19 de outubro de 2008

o amor longe

conhecia-a com copos de groselha e magia nas mãos
um toque irreal e estupidamente silencioso
um toque que era um medo das palavras
dando voltas a uma cidade mínima
a correr os mesmo lugares
com a ânsia de um beijo furtivo
um beijo que ditasse a sintonia musical
um beijo
contra as paredes
negado na essência por não sei quantos dias de impossibilidade
o regresso
regresso inquieto
regresso infantil
vestido de castanho eu
ela com uma saia comprida
uns cabelos de fogo
e uma voz quase desconhecida
imaginada
o meu amor
o meu amor louco
perfeito
tantas vezes impossível
o silêncio do medo
a estupidez dos hospitais
acordar e sonhar com uma boca
outra
porque a minha estava demasiado seca
uma boca morta que não tinha morrido
de noite beijos
beijos e abraços e mãos
uma salvação
sabes que te amo, caralho
sabes que não tenho vida para ti
sabes que as coisas são sonhos pelos quais vou lutar
mas eu tenho coisas pelas quais tenho de lutar que não tocam nos sonhos
a nossa vida é assim
é o que é
parece impossível
mas tudo se apresenta intenso
poemas
saudades
fome

saber que vou ser preso. saber que é uma questão de tempo. saber que não tenho segurança para dar. saber que não me podem falar de estabilidade. saber que é impossível mas que não vou deixar de lutar!!! foda-se. é o que tenho. foi o que saiu. preciso de ti, meu amor. tu sabes isso como a noite sabe o dia. tu és o dia. tu és o meu dia. uma luz. chegas e cresço. desapareces e morro. torno-me noutro. nem me imagino.

já te escrevi cartas
não escreverei mais assim e sabemos porquê
era o que era
sonhar com a tua boca na minha
o teu corpo no meu
ou o meu no teu
o mesmo
aqueles abraços demorados
as mãos
as mãos
as mãos
amo as tuas mãos
os teus joelhos
um dia vais deixar este sonho
vais acordar
perceber o problema
há pessoas que exigem-se lutas
fantasmas
gatos
muitos gatos e filhos
uma cadeira de baloiço
livros
livros para ti
foda-se
quem me dera saber escrever poemas
não
que se fodam os poemas
quem me dera estar contigo
há tantos livros já cheios de poemas
já te escrevi tantos
e a groselha
e o beijo sério
o primeiro
e o outro que foi segundo
o terceiro
todos
as despedidas constantes
inevitáveis
se fosse hoje...
tinha-me metido na tua mala de viagem

estou cheio de saudades
estou cheio de saudades
estou cheio de saudades

voar

cheio de saudades
todas
amo-te

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