sábado, 11 de outubro de 2008
pagar para ser livre
num mundo em que há cada vez menos monstros e cada vez mais pessoas disfuncionais, passam-se umas coisas um bocado tontas, absurdas, parasitas da vida. há uma revolução por acontecer. todos o sabem neste momento e todos sabem que ela é inevitável. há uma revolução por acontecer porque as coisas se repetem até um ponto irrespirável. este texto podia ser sobre mim. mas não é. é sobre nós. nós muitos. milhares. milhões. chamados parasitas, crápulas, desentendidos, trabalhadores assalariados, poetas, artistas, loucos, lixeiros, carregadores, funcionários, ovelhas, cabras, clandestinos, vendedores de drogas, contrabandistas, turistas da vida, comedores de elite, alcoólicos, vigaristas, serventes, escravos, silenciosos, números, tretas, farrapos, aldrabões, mágicos, mal-cheirosos, impossíveis, sonhadores, libertários, anarquistas, subversivos, sacanas, velhacos, fumadores compulsivos, teatrais, restauradores, crentes, conservadores, bananas, tónhinhos, badamecos, saltimbancos, abstractos, sexuais, porcaria, pessoas do mundo, etc... etc... este texto é sobre nós. grandes maningâncios do mundo abstracto. primeiro, adianta dizer que ninguém nos pede para nascermos, ninguém nos pergunta se estamos prontos. atiram-nos para aqui, espetam-nos com um nome, dão-nos um número que se vai transformando em vários números e assim se vão desenvolvendo as coisas. espetam-nos numa escola. se foi boa ou má, isso não interessa. vamos tomando decisões. o mundo tem as suas regras e ninguém pede para que opinemos sobre elas ou como se poderão melhorar. ninguém nos pergunta nada. se não temos uma nascença grande, ou se não somos reis, ou se os nossos pais não nos põem a par das coisas, damos por nós a guardar gado e o gado somos nós, somos pastores de nós mesmos. problema nenhum, vamos vivendo. vivemos num mundo que tem uma coisa chamada Estado. Estado anormal. esse tal de Estado precisa de viver à nossa custa. truque: esse Estado diz que nós não conseguimos viver sem ele. esse tal de Estado pode ameaçar-nos como lhe dá na gana porque faz as suas leis que nós aceitamos como nossas. o Estado diz: se não pagas vais preso. e de repente, apanhas-te no meio de um tribunal, em frente a um juiz que em vez de servir de executor da lei se põe a opinar sobre a tua conduta diante do que é considerado lei, e que só é considerado lei porque está escrito e só está escrito porque é aceite por uma maioria que acha que as coisas devem ser como são. o problema é que hoje em dia cada vez é menos a maioria a decidir o que quer que seja, as leis são feitas por uma elite que não sabe o que é viver fora das leis, não sabe o que é ter de obedecer a leis injustas. por exemplo: a questão da Segurança Social... agora podes ser preso por causa de falhares à Segurança Social, é o tempo do medo, tu falhas à Segurança Social, é assim, falhas, não é por mal, falhas e está tudo dito. eles chegam e enfiam-te numa jaula, dizem: se não pagas vais preso. tu dizes: não pago. vais para a jaula oficialmente reconhecida como justa. para a porcaria da jaula oficialmente reconhecida como justa. muitos acham bem. muitos mais não acham nada. imensos mais não podem aceitar isso. de repente estás num tribunal e tens um juiz na tua frente que te manda bocas foleiras e que se ri do ponto em que estás, tu vais engolindo até não poderes mais, o juiz vai fazendo perguntas e vai opinando com as suas bocas e tu ali estás sentado, diante de uma presença simbólica daquilo a que chamam Justiça. cega e com uma balança nas mãos. pergunta: cega? pergunta: qual é o peso, quem o define? tu? que estás ali sentado? diante de um juiz que te manda bocas foleiras, que recebe não sei quanto por mês, que pode chegar atrasado, que tem dois carros e cinco casas, com o seu ordenado chorudo ao final do mês. é esse que te julga??? é esse que te pode julgar??? o que sabe esse? és enfiado num lugar onde te julgam por teres dívidas e és julgado pelas pessoas que são pagas pelo que devias pagar!!! num mundo em que mais de metade da população passa fome ou está no limiar da pobreza há pessoas que julgam outras sem terem ideia do que é esse lado. és julgado por pessoas que não sabem o que é escrever um poema. que não sabem o que é fazer amor louco. que não sabem o que é criar uma obra de arte. que não sabem o que é mijar num penhasco. que não sabem que há coisas no mundo que são mágicas e únicas e inalcançáveis para quem procura outras coisas. deves à Segurança Social, ninguém quer saber porquê. só querem que pagues. tu não queres pagar. ninguém quer saber porquê. porque as leis são para cumprir. é isso que deve estar formatado na tua cabeça. há perdões fiscais só para quem eles acham que merece. há reformas exorbitantes só para quem eles acham que merece. há ordenados loucos com dinheiros públicos só para quem eles acham que merece. há ajudas de custo que quem paga paga só para quem eles acham que merece. os políticos ganham bem. fazem o que querem. tudo na boa. os carros são públicos, as refeições são públicas... e aqui o público não quer dizer que seja teu, quer dizer que é pago por ti. mas se tu nem os queres lá, nem sabes muito bem porque é que estão ali, porque é que recebem o que recebem, porque é que não pagam o que não pagam, porque é que podem fugir a tantas e tantas leis que dizem que têm de ser cumpridas!!! mas as ovelhas não... as ovelhas devem alimentar o regime, as ovelhas servem para alimentar o regime. mas se não há regime não há ovelhas. e depois encostam-te à parede, dizem: se não pagas não podes viver. ninguém te mata. enfiam-te numa jaula, impedem-te de trabalhar, não te deixam comer. de repente estás em frente a um juiz que te manda bocas sobre o teu estilo de vida. e tu só podes dizer: senhor doutor juiz, num mundo como este é o senhor que é anormal, é o senhor que não tem de fazer contas para comer, o senhor é anormal, o senhor não sabe nada, o senhor nasceu com o cu virado para a lua, o senhor é um carneiro, um parasita, o senhor chegou aqui, atrasado, só o senhor sabe porquê, chegou mal disposto, pensa que toda a gente lhe tem de fazer vénias porque o senhor é juiz, como se isso lhe desse alguma importância neste mundo, o senhor é anormal, anormal, a-n-o-r-m-a-l. porque este tempo é tempo de escravatura disfarçada, este regime é um regime ditador, toda a gente sabe disto, toda a gente sabe disto. o nosso país é uma vergonha. já houve uma revolução. pergunto seriamente: quando será a próxima? já vai sendo tempo.
colocado aqui por
Pedro Fiuza
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