sexta-feira, 28 de novembro de 2008
às vezes acredito que se me tivessem dado um piano na altura certa eu não seria nada disto. muitas coisas se passam na cabeça nestes tempos. são onde se medem decisões que podem ter sido totalmente erradas e podem comprometer o futuro. há dias que nem sei o que diga. isso do futuro... então se eu queria era tocar piano. hoje, se soubesse tocar piano, também cantaria. quem canta pode aliviar mais facilmente o seu dentro. no teatro é impossível, há poucas possibilidades de exorcismo. ando com vontade de cantar. parece ridículo, lá estou outra vez com as manias e tal... mas é verdade, apetece-me cantar. ando outra vez mas é com as ânsias de palco. e isso enerva-me. nunca fui um papalvo com ânsias de público e como actor só algumas coisas me deram um prazer que fosse um prazer louco. sou um actor de angústia. essa é a verdade. o meu teatro mental é um teatro de angústia. cada vez penso mais nisto. já a peça da escola vai ser sobre a angústia, sobre a solidão, sobre o isolamento, sobre uma queda. o maldito tema da queda. quando expliquei a minha história, ninguém achou assim particularmente interessante e até me acharam um bocado arrogante ou pretensioso. só gostaram de uma imagem que eu dei que disse que era uma visão e que nem tinha a certeza do que era, que era um apontamento já de encenação de um espectáculo que ainda nem existia!!! tinha a ver com o início do segundo acto, agora transformado em primeiro, começava com uma exibição de solidões. exibição de solidões!!! a papalvice minha do costume. vamos cá recapitular: há um mânfio que vai a um concurso/casting/merda qualquer onde lhe pedem que seja o rosto de uma causa, como qualquer político normal ou como qualquer figura de um programa da televisão realidade muito virtual. pedem-lhe que seja um produto. que seja um produto que venda um produto. a vida por uma causa, o absurdo do Jesus Cristo. ora este produto que é feito para triunfar está dependente em absoluto de uma máquina, uma máquina partidária. há uma tensão na necessidade de triunfo. as coisas de início funcionam e o barco vai quebrando o gelo. o casco começa a estalar. aqui ainda não sei. sei que tem de acabar num tribunal com uma juíza. em que ele é julgado. é a minha historieta. é o esboço da minha historieta. quero que o cenário seja uma espécie de corredor/sala de espera de um espaço estilo pré-ringue de boxe. quero luz fria. preciso de me sentar. ando com saudades de estar sentado. trabalhar sentado. viver o projecto louco. riscar papéis. um computador para montar textos. o meu processo é corta e cola. é chegar ao esqueleto que importa. da porcaria da epiderme até ao centro do esqueleto. só o que conta é o esqueleto. é a última coisa a desintegrar-se. é o último reduto de coisa nenhuma. bem, mas estava a falar da imagem que eles tinham apontado: exibição de solidões. acho que a minha peça é sobre isso. sobre as formas de acabar com a solidão. e agora vou dormir.
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Pedro Fiuza
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2 comentários:
Pedro, vem ver os "Imaculados" no Teatro Aberto (a minha prenda de Natal se vens a Lisboa, em cena até fim de Janeiro)!
Angústia e quedas não faltam:
dois imigrantes deixam uma mulher afogar-se por medo de contacto com as autoridades, um casal salto de um prédio, outro bonitão de uma janela, outro ameaça saltar de um viaduto, paralisando o trânsito na autoestrada em baixo durante horas e afinal salta mesmo a convite do coro dos automobilistas, um funcionário de uma empresa funerária leva os cadáveres dos suicídas anónimos para casa para lavá-los ("ponho as minhas mãos sobre a pele deles e a abstinência impregna-se através das minhas mãos no meu corpo") para desespero da sua mulher, uma filósofa frustrada precisa de três cenas mas afinal também mata os seu marido ourives negligente..
Mais não revelo, são 18 cenas, ao público convém entrar bem disposto.
Um espectáculo de Natal diferente!
Eheh!
Eh pá, se te apetece cantar, canta... Faz "teatro cantante", faz um musical! :) Mas desprende-te do rótulo... Canta só quando te apetecer mesmo! Senão vai ser uma merda... :)
Qt ao juíz e tal, é giro, faz sentido... Ainda assim, o absurdo de Jesus Cristo não é singular... O Antero não escreveu "coragem" antes de se matar? eheh!
Cá para mim, parece-me que absurdo é tudo... Resta é saber qual o absurdo que leva a melhores resultados...
Grande abraço e canta homem! :)
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