quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

poema

o meu nome é um enigma. chega de falar de mim. era uma vez uma história. havia ouro nos bosques. crescia nas árvores e apanhava-se no chão. se não tinhas cuidado ao beber a água límpida engasgavas-te com as pepitas livres que te raspavam na garganta. o ouro nos bosques... bela história. era o tempo do ouro. e depois de um tempo vem outro. e depois desse outro. e depois desse vem outro. e assim por diante até à última estação. no meio do mundo há um rapaz preso num tempo. vários rapazes. raparigas. cada um preso no seu tempo. todos esperam a sucessão cíclica da idade. todos com o bosque de ouro na cabeça. com a inocência. o amor. a liberdade. no meio do mundo há um esquecimento. há vários esquecimentos. palavras que voam. músicas que soam. imagens que entram pelos olhos dentro. que batem no fundo do despertar. os nomes são enigmas porque a vida se vai tornando num enigma. em diversos enigmas. os bosques em que há ouro. alguns. ardem. tornam-se silenciosos. o ouro lá anda ainda mas não cai das árvores. já ninguém bebe a água cinza dos regatos. o ouro está lá só como uma semente de alguma coisa preciosa mas já indefinível. está como uma semente de magia. como um recordar ardente. incendiado. exposto. palpitante. à espera da luz. do tempo seguinte. de uma nova melodia que vibre para as árvores. por entre as árvores. com o sol lá fora. em cima. a bater confortável e quente. deitados na erva miúda e fresca das manhãs. a comer maçãs. laranjas. a beber a água límpida que corre até parecer não ter fim. os risos soltos. a campainha da escola ao fundo. o cheiro a café quente. os lençóis frescos do amor. aquele beijo. a memória das mãos nas mãos. das cartas. dos poemas tontos. de chorar de alegria. de chorar de tristeza. do chorar só chorar. do rir. o ouro no bosque é uma casa. vermelha como as casas dos bosques. nada mais tenho a dizer.

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