quinta-feira, 30 de outubro de 2008

quero outra vez tempo bom. tempo assim sem mãos para acompanhar é uma seca. ai ai ai. saudades dos braços. o tempo cria estes problemas. o mundo abre as portas, cometem-se loucuras, nada que anule o frio, a distância. hoje, enquanto estava a arrumar as mesas e a varrer o restaurante, pensei no Fausto, uma das grandes linhas de desafio do teatro, o Fausto!!! quem não gostaria de abordar o Fausto, fosse que versão fosse, versões de uma história que se desenvolveu problemática com o tempo... o Fausto, o problema do conhecimento, dizem alguns, a alma que se vendeu ao diabo em troca do conhecimento, vendeu ou trocou, não estou a ir por aqui. o Fausto não é muito claro num ponto. e este é o meu desenrolar do problema. Fausto queria o conhecimento ou o reconhecimento? não seria o conhecimento apenas um processo para atingir a glória? a glória do conhecimento, talvez, mas a glória, tudo se trata de poder. hoje Fausto seria uma figura máxima da comunicação mundial, que subiria de uma forma tão veloz como o seu colapso. há muitos Faustos por aí. usam as rampas que usam. mas as rampas são frágeis. não há nada como subir montanhas. e pronto estava a pensar nisto enquanto estava a arrumar as mesas. hehehe. é para o que me dá. assim vou mantendo uma coisa qualquer que nem sei como lhe chame. claro que tudo isto é discutível, mas é um problema que não me importaria nada de investigar. o Fausto faz parte do meu imaginário. consigo encontrar uma coerência no problema. é para mim como o Maldoror, como o Hamlet, com o peso da tragédia que se tornou universal, condensada em literatura e explosiva no palco. teatro... o teatro tinha obrigação de puxá-la toda!!!

heart-core

- hoje entrei num lugar e sentei-me.
- e depois?
- estavam cinco casais sentados.
- e depois?
- todos pareciam amar-se.
- e depois?
- deu-me um aperto na barriga.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

a parede está estalada
está tudo
até eu estou estalado

terça-feira, 28 de outubro de 2008

PUNK'S NOT DEAD

pode haver muita gente a quem este tipo de coisas passe simplesmente ao lado, é normal, não temos todos o mesmo ouvido nem procuramos todos a mesma estética. a música é uma coisa individual. é o que é. mas eu posso gostar muito e outro não gostar nada, é assim. o concerto dos Silver Mount Zion foi bom, primeiro, porque foi o único concerto a sério que eu fui ver em Barcelona desde o Patrick Watson, segundo, porque é uma das minhas bandas, terceiro, porque eles são realmente bons (de acordo com a minha perspectiva), ou seja, tudo isto é de acordo com uma perspectiva limitada e personalizada de uma forma de ouvir coisas. não se trata de tocar. trata-se de ouvir. faço aqui um desafio a todos os que lerem isto e que se sintam motivados, na quinta-feira vão ver o concerto e digam o que acharam. uma coisa vos garanto depois desta noite, o punk ainda anda por aí, lento e silencioso, mas anda por aí, sentimental e sonoro. isto é o que eu tenho a dizer de um concerto inteiro: pena que não o tivesse visto em Lisboa!!! vai ser a puxá-la. quero vê-los outra vez.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

apesar de tudo o frio aguenta-se. apesar de tudo o frio suporta-se. apesar de tudo o frio esquece-se.

Na ZDB, aqui fica a publicidade

Quinta 30 de Outubro às 23h00


Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra & Tra-La-La Band (CA)
Vertigem, turbilhão, abismo – um vórtice de sete cabeças virado de dentro para fora, absorto em tudo o que existe, perceptível ou não. Vindos bem do centro de uma encruzilhada de tempos, lugares e culturas, o colectivo canadiano Silver Mount Zion (ou Thee Silver Mt. Zion Memorial Orchestra & Tra-La-La Band, ou Thee Silver Mountain Reveries) aterra pela primeira vez em Lisboa num momento particularmente decisivo da sua completa afirmação autoral, sintetizado luminosamente em "13 Blues For Thirteen Moons", o excelente último álbum do grupo.

Septeto informalmente liderado por Efrim Menuck (também guitarrista dos Godspeed You! Black Emperor), os Silver Mount Zion surgem em 1999 próximos da corrente pós-rock (um repensar de ideias rapidamente esvaziado de significado pelos desinspirados do triste carrossel instrumental), mas será provavelmente na experiência minimalista primitiva, na composição clássica e na música de câmara que encontramos os pontos de referência mais interessantes e significativos. O já referido "13 Blues For Thirteen Moons" (edição Constellation, casa dos Godspeed You! Black Emperor, Fly Pan Am e Carla Bozulich, entre muitos outros) prossegue superiormente essa incorporação heterodoxa de estilos, concretizando uma exploração sensorial inflamada, de consciência comunal, profundamente autêntica no modo quase cognitivo como se afirma livremente. Há aqui algo inominável, uma qualidade de silêncio que nos transcende.

Entrada: 12€

se tiverem coragem, são 14 minutos... vamos ver estes amanhã!!! caneco!!!


domingo, 26 de outubro de 2008

o Herberto Hélder é manhoso. desculpem-me lá isto. o Herberto Hélder é manhoso. este acontecimento do último livro é um tiro no pé. ele que me desculpe. é um acontecimento que projecta o livro e não o conteúdo. quero lá saber eu se o senhor Herberto Hélder conseguiu aqui a perfeição do ritmo neste livro. estou-me nas tintas. não o pude ler. é um acontecimento tão patêgo que até acho que esse livro nunca deveria ter sido editado. dá deus nozes a quem não tem dentes. senhor Herberto Hélder, pode começar a escrever para a gaveta apenas. eu que até o respeitava, acho que estou prestes a perder o respeito todo. haja quem seja criminoso e lhe ponha o livro a circular na net. o senhor conseguiu aqui o deleite dos papa-alfarrabistas, fez mais uma obra de colecção do que um livro. o senhor é sacana e velhaco. o senhor com esta atitude desceu quase ao nível do António Lobo Antunes, que eu odeio, porque o considero um palrador com manias dentro do sistema, ou do Saramago, que odeio, por ser o Nobel do sistema. o senhor era dos últimos que eu tinha em conta, e sei que isto lhe é indiferente e nem sequer tenho a pretensão de que o senhor venha alguma vez a ler isto. e por isso volto a chamar-lhe manhoso. e manhoso. e manhoso. se não deixa as pessoas ler o que escreve e anda aí armado em intelectual e elitista, com a sua mania do fechamento e da não comunicação, do poema hermético, mais vale arrumar as canetas e dedicar-se à procura dos ritmos por dentro da cabeça, por muito que lhe agrade a mancha gráfica. o senhor cometeu aqui uma fífia com este acontecimento. publiquem o texto na internet. metam todos os livros do mundo na internet. não estou a dizer para acabarem com eles. estou a dizer que os tornem acessíveis. que se possam ler, apesar das distâncias. é que assim a literatura vale o mesmo que um valente balde de merda.

fragmentos e acreditar

assistimos aqui a um processo de desenvolvimento/envolvimento de ou numa série de situações. coisas mais reais ou coisas mais ficcionadas. de qualquer maneira se estamos num mundo que já não distingue a realidade da ficção, não vejo motivo nenhum para também eu não o fazer.

digamos que temos todos o mesmo problema, ainda que com diferentes graus de perigo e de linguagem, e não digo isto num ponto quantitativo, digo isto num ponto de individualidade. se temos todos o mesmo problema, procuramos todos a mesma resposta, temos processos diferentes de a atingir ou de a procurar, mas a resposta é a mesma. que se fodam os processos. queremos as respostas para a vida já.

é que tenho de obrigar-me a focar no que importa e não me perder em devaneios com pouco suporte físico, a internet pode ser uma distracção bastante grande e reduzir a criação de objectos com possibilidade palpável. voltar a escrever mais em papéis. esquecer a estética desabafo da vida. nunca vou conseguir escrever um romance. mas não me interessam publicar diários falsos. vou dedicar-me aos poemas. quem diz poemas diz aqueles textos que enfim... que às vezes tenho a mania que escrevo.

em relação à vida, o que posso dizer é que as coisas vão ter de resolver. e que já vai sendo insuportável esta minha disfunção humana. este meu atrasadomentalismo. chega de brincadeiras. chega de parvoíce inútil. tenho de me fazer homem. preciso de me fazer homem.

em relação ao amor, peço-lhe a compreensão e o tempo e o carinho e a companhia na distância. dou-lhe a promessa de que tudo se vai resolver e que lutarei como um cão para que se resolva. que lutarei como dois cães.

preciso de uma mesa para mim. uma secretária. até ando numa fase criativa mas ando a reprimi-la por causa de condições, obviamente criadas por mim.

quero voltar a fazer teatro mas neste momento ando mais preocupado com conseguir escrever. quero escrever. o teatro dá para manter mal com o trabalho. escrever dá mais facilmente. só tens de chegar a casa e obrigar-te a escrever. sentar-te e escrever. como não sei fazer desenhos e dou-me muito mal com os trabalhos manuais. fui para o teatro por causa disso. tinha ânsias de criar. mas agora que o teatro e eu estamos separados, vou dar umas trincas na escrita.

heart-core

- estás magro.
- é normal. vim da guerra.
- estás diferente.
- talvez seja outro.
- por aqui tudo igual.
- impossível.
- impossível?
- impossível. há sempre luzes que se acendem quando chega a escuridão.
- que luzes?
- que escuridão?

sábado, 25 de outubro de 2008

falemos do silêncio. há um silêncio. há uma merda de um silêncio. há uma média de pedras demasiado alta para que a cabeça não as sinta. detesto comer pedras. detesto silêncio. odeio silêncio. faço o quê? sou um inseguro das palavras. preciso de palavras como quem precisa de água. sinto o incómodo da ausência das palavras como quem sente a ausência do toque.

mais uma vez...


faltarem palavras. palavras que são coisas. acontecimentos. procurar o vago. dormir. ter certezas inquietantes. algo estremece. o que não se lembra existirá ainda? os lugares? as casas? café quente de manhã e folhas para escrever. livros desmaiados. livros inúteis fechados em caixas fechadas num buraco húmido no cimo de um quarto. um quarto imensamente pequeno que estrangula a vida. que vida? não há vida nenhuma. é o estrangular das coisas. não são as coisas que se esquecem. é o eu que se esquece. o eu não se esquece das coisas. esquece-se de si. andar pelas ruas a construir textos na cabeça que nunca serão escritos fora da cabeça. aguentar. o tempo passa. a velocidade torna-se secundária e o corpo vai-se aguentando. perguntam como vai o processo e responde-se que o processo já e um desenvolvimento do próprio processo que não tem a certeza de ter finalidade. é impossível voltar ao zero. nunca se esteve no zero. ainda não se nasceu mas já se tem a corda. primeiro oferecem a corda. depois vão oferecendo outras armas. a vida vai passando com o acumular de armas. chamam idade a esse facto. mergulha-se nos factos com a cabeça incisiva. a cabeça torna-se problemática. ganha um ritmo. ganha amores e ódios. perde amores e ódios. a cabeça é assim. problemática. tenta esquecer-se mas é em vão que tenta. como esquecer-se quando a forma está construída com o problema? pode responder-se a isto com a imagem fácil da cabeça a separar-se do corpo. mas quem quer essa imagem? é demasiado fácil para que possa acontecer. volta-se à rua. tenta respirar-se um pouco de vida. pessoas. informações. um pouco de música. algo de novo. uma imagem que chame. um outro lado. uma realidade. anda-se tanto num registo que já não se sabe o que é a realidade. ou então chega-se à conclusão que a realidade é mesmo esta. é aqui. é este o sítio. é a cabeça mínima e o corpo morto. as pessoas que se escapam porque já não se é o mesmo. porque se perdeu um brilho qualquer que nunca se teve. uma invenção de um brilho. as partículas tornam-se secundárias. a luz vai-se apagando. acumula-se idade. armas. armas contra o desprezo. não se tem amor. tem-se distância. tem-se a vida que constrói impossibilidades. prisões. ar fechado em quartos mínimos. faltas de contactos. aguentar. andar. vestir a máquina e tentar não falhar. tentar não ouvir vozes na cabeça nesse dia que são todos os dias alguns dias. tem-se a certeza de que vai chegar o tempo em que alguém vai ter de decidir alguma coisa e alguma coisa vai morrer no corpo. porque apesar da distância ser mínima não se acredita no regresso nem o regresso é pedido com qualquer convicção de desenvolvimento. anda-se por aqui. de vez em quando rebenta-se e de vez em quando acumula-se. anda-se nos ciclos. problema nenhum.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

falta uma semana!!!

Spooning Couple, de Ron Mueck

primeiro é um depósito líquido. corpo dobrado. fechado. hermeticamente puro. uma casa. vive-se numa casa protectora durante uns tempos. o som é estranho e a cegueira a regra. sente-se tudo através de uma ligação íntima com o fora através de um dentro. corpo no corpo. fios. ligações. descargas de informação fugaz. substâncias que passam sentidos. esgota-se o tempo e é obrigatório viver na luz. na luz do mundo. aparece o dia no meio do acaso. o signo. as portas abrem-se. o corpo não quer sair do corpo. força-se a saída com ventosas. juntam-se os ferros. esgaravata-se. puxa-se o problema. arranca-se o problema. trata-se como se fosse uma ferida aberta que conseguiu romper o caos para cair nesta ordem. ordem chamada mundo. caos chamado não vida. também lá dentro se comem doces. também lá dentro se dorme e se acorda.
então agora vivo com o terror da cadeia. à espera do dia em que chegam, agarram-me, levam-me, enchem-me de perguntas para as quais não tenho respostas. ou tenho respostas a mais mas todas elas confusas. detesto explicar as opções da vida, principalmente quando as coisas se apresentam num ponto em que não há opções. a Antígona é um bom texto para alguns casos. como cumprir o que está escrito se sem sempre o que está escrito é justo? o que é isso do justo? as coisas nem sempre se apresentam como uma palete de cores, nem sempre se pode pintar com todas as cores do mundo. então o que fazer? agarram-se em duas cores e fazem-se os melhores desenhos possíveis, mas muitos ficam por fazer, muitos ficam por pintar. depois descobre-se a escultura, os desenhos ficam para trás. mas os desenhos são a regra. os desenhos são a regra e tu só manipulas objectos. há quem veja nesses objectos a projecção de um desenho. há quem veja figuras que se parecem com as referências dos desenhos. as regras ficam para trás de qualquer forma. nada a fazer. um dia eles chegam com um papel cheio de desenhos com uma enormidade de cores e feitios alheios a ti e levam-te. querem obrigar-te a desenhar. tu não sabes desenhar. não sabes e não queres. queres fazer esculturas. queres escrever poemas. não queres fazer nada que toque em criação. não queres um exílio. não podes ser obrigado a desenhar. chegam e levam-te. para um casulo de reinserção onde todos estão sentados com folhas brancas em frente e rodeados de lápis e pincéis e tintas. pessoas que lhes batem nas mãos para que eles desenvolvam a técnica. não quero ser preso por não saber desenhar. entre o carrasco e a vítima. quero escrever. espero que me levem tabaco. preso e sem tabaco. não vou aprender a desenhar nunca. eles chegam e levam-me. perguntas. exposições. juízes. amarras. celas. romance nenhum nisto. merda. dizer merda. falhanço assumido nas folhas brancas da vida. papéis amarrotados e atirados ao lixo. caixas de papéis que ardem na memória. que ardem com água. os meus não foram queimados. foram tornados pasta de papel e atirados para a sanita. tomaram um banho na banheira ao som de um tango. abriu-se a torneira ao mesmo tempo que o olhar. disse-se a palavra foda-se umas vezes seguidas. fizeram-se promessas que não voltariam a ser faladas. a vida mudou nesse dia. ouvir sim quando se sabe sim mas se sonha não. dias marcantes na vida. ausências de sentir durante muito tempo. tudo tardio. uma infância guardada num aquário de vidro protector. cicatrizes poucas. teatro a surgir na vida e a impor-se como uma necessidade estupidamente vital. inserido num meio onde a pessoa se esquece que é pessoa. um meio de objectificações referenciais. quem é quem. é como o jogo. mas eu não era ninguém. era o que era. tinha uns cadernos com umas frases e sem desenhos para mostrar. num mundo de desenhos eu tinha palavras que eram esculturas. esculturas em movimento com os corpos projectados numa sala de teatro. sonhos rituais. incompreensões. visitas à ponte. cigarros na ponte. aquela ponte cinza que se impõe na cidade da névoa. regresso a casa. aqui começou a regra dos desenhos que eu não queria fazer. drogas e amores. alucinações. medo. mãos dadas na rua com o dia a nascer e com os pássaros a cantar. a verdadeira infância foi aqui. esta verdadeira infância louca foi aqui. se me levarem preso por não saber fazer desenhos. posso dizer que amo. posso dizer vão para o caralho.

domingo, 19 de outubro de 2008

só por esta aqui já podes imaginar a noite...


o amor longe

conhecia-a com copos de groselha e magia nas mãos
um toque irreal e estupidamente silencioso
um toque que era um medo das palavras
dando voltas a uma cidade mínima
a correr os mesmo lugares
com a ânsia de um beijo furtivo
um beijo que ditasse a sintonia musical
um beijo
contra as paredes
negado na essência por não sei quantos dias de impossibilidade
o regresso
regresso inquieto
regresso infantil
vestido de castanho eu
ela com uma saia comprida
uns cabelos de fogo
e uma voz quase desconhecida
imaginada
o meu amor
o meu amor louco
perfeito
tantas vezes impossível
o silêncio do medo
a estupidez dos hospitais
acordar e sonhar com uma boca
outra
porque a minha estava demasiado seca
uma boca morta que não tinha morrido
de noite beijos
beijos e abraços e mãos
uma salvação
sabes que te amo, caralho
sabes que não tenho vida para ti
sabes que as coisas são sonhos pelos quais vou lutar
mas eu tenho coisas pelas quais tenho de lutar que não tocam nos sonhos
a nossa vida é assim
é o que é
parece impossível
mas tudo se apresenta intenso
poemas
saudades
fome

saber que vou ser preso. saber que é uma questão de tempo. saber que não tenho segurança para dar. saber que não me podem falar de estabilidade. saber que é impossível mas que não vou deixar de lutar!!! foda-se. é o que tenho. foi o que saiu. preciso de ti, meu amor. tu sabes isso como a noite sabe o dia. tu és o dia. tu és o meu dia. uma luz. chegas e cresço. desapareces e morro. torno-me noutro. nem me imagino.

já te escrevi cartas
não escreverei mais assim e sabemos porquê
era o que era
sonhar com a tua boca na minha
o teu corpo no meu
ou o meu no teu
o mesmo
aqueles abraços demorados
as mãos
as mãos
as mãos
amo as tuas mãos
os teus joelhos
um dia vais deixar este sonho
vais acordar
perceber o problema
há pessoas que exigem-se lutas
fantasmas
gatos
muitos gatos e filhos
uma cadeira de baloiço
livros
livros para ti
foda-se
quem me dera saber escrever poemas
não
que se fodam os poemas
quem me dera estar contigo
há tantos livros já cheios de poemas
já te escrevi tantos
e a groselha
e o beijo sério
o primeiro
e o outro que foi segundo
o terceiro
todos
as despedidas constantes
inevitáveis
se fosse hoje...
tinha-me metido na tua mala de viagem

estou cheio de saudades
estou cheio de saudades
estou cheio de saudades

voar

cheio de saudades
todas
amo-te
de qualquer maneira, mais cedo ou mais tarde, acabarei por ir preso.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

acabou a promessa de um mês sem palavrões

acabou a promessa de um mês sem palavrões. custou bastante e devem ter reparado num abrandamento do ritmo de escrita. não gosto de escrever com essas imposições. os palavrões voltarão à normalidade dentro de momentos. as histórias parvas. as patacoadas gerais. os desabafos tontos. os diários miseráveis. de qualquer maneira... até me aguentei bem, nada de verborreias loucas, nada de palavreado para os mais susceptíveis. mas agora chega. que venham todas as palavras que conheço e sei escrever. eu gosto de escrever. mesmo.

hoje dediquei esta música


Entrevista a Herberto Helder por Fernando Ribeiro de Mello, publicada do Jornal de Letras e Artes n.º 139, de 17 de Maio de 1964.

«Os cinco livros que até hoje publiquei pouco significam agora para mim!»
- Diz-nos desassombradamente Herberto Helder

Herberto Helder, cujo último livro, «Electronicolírica», veio levantar sérios problemas em volta do conceito que a sua poética parecia anunciar acaba de publicar em conjunto com António Aragão e vários o colaboradores o caderno «Poesia Experimental» que vem confirmar a viragem operada na sua obra.

Fernando Ribeiro de Mello/ Jornal de Letras e Artes – Como considera criticamente a evolução da sua produção poética, desde «O Amor em Visita» ao recentemente publicado «Electronicolírica»?
Herberto Helder –
Em certo sentido (que também prezo), não houve evolução. Esse sentido é o de fidelidade às bases da minha experiência – a descoberta do modo – que, fundamentalmente, se cumpriu na infância. A experiência exterior poderá ser considerada simples desenvolvimento ou enriquecimento «em linguagem». A minha poesia processou sempre, como é evidente, exercer-se sobre essa massa central e viva. Mas a experiência humana é apenas ponto de partida, núcleo sólido e permanente onde assenta a experiência posterior da criação. Considero a criação o encaminhamento, até às consequências extremas, de uma experiência em si mesma não organizada. A descoberta do mundo não possui, por ela própria, finalidade ou coerência, nem constitui a salvação desse mundo. Desde que seja possível criar um corpo orgânico em que a experiência, devidamente articulada, se baste, surge uma harmonia entre o sujeito e a sua experiência, quero dizer, o sujeito participa do cosmos. Este esforço da superação do caos exprime-se pela busca de uma linguagem. È aliás na linguagem que a experiência se vai tornando real. Se nela não há, em sentido rigoroso, experiência do mundo. A esta conclusão vem chegando uma moderna filosofia da arte. A formação da linguagem é um paciente, extenso, doloroso e, muitas vezes, desesperante caminho. O erro aparece como uma constante, mas existe a possibilidade de ser sempre menor. Entre um grau máximo e um grau mínimo de erro, situa-se a evolução. Progresso de linguagem, de adequação às finalidades, superação da experiência, purificação do tema – eis onde se pode situar o sentido da evolução. Evolui evoluirci. Suponho que, entre a minha produção até ao volume «Lugar» e a quer me encontro realizando, há um salto considerável. O livro «Electronicolírica» é apenas o início do rompimento com certos princípios que orientavam a procura do estilo. Acho-me no ponto em que não hesito distanciar-me de tudo o que antes escrevi. Mesmo de «Electronicolírica» , aliás, composto há já um ano. Afasto-me, até, da minha colaboração no primeiro número de «Poesia Experimental» que, escrita antes, se situa contudo num momento mais avançado de evolução. Os cinco livros que até hoje publiquei pouco significam agora para mim. O pouco significarem garante-me completa liberdade e isenção, em ordem a uma nova linguagem. Nesses volumes não se exprime propriamente uma evolução, pelo facto de todos eles assentarem em dois preconceitos, a saber: 1) A consideração exclusiva de processos literários para a realização do espaço poético; 2) a preocupação de conseguir uma linguagem comunicativa. Presumo que um poeta dispõe de recursos muito mais amplos do que os meramente verbais e que, utilizando-os mesmo em exclusivo, eles devem tender à organização não apenas literária, ou gramatical, ou rítmica. Compreendo que se possam fazer poemas recorrendo, por exemplo, à expressão matemática, ao grafismo, à técnica comercial e industrial, às máquinas, à música, ou a qualquer outra fonte e tipo de sintaxe. Por outro lado, imagino que as preocupações do poeta se devem libertar da linguagem organizada para o diálogo. Max Bense afirma algo de semelhante, ao acentuar que «no conceito convencional de literatura, põe-se a ênfase na função comunicativa-social dela, enquanto que, no conceito progressivo, se insiste na sua função experimentativa-intelectual». Interessa-me, portanto, chegado que sou à convicção de me haver limitado, nos livros anteriores, a mover-me em círculo sobre uma linguagem esgotada – interessa-me digo, muito menos executar, uma gramática literária, destinada ao diálogo, do que perfazer um organismo internamente coerente e bastante. A comunicação será consequente, se for. De qualquer modo, bani a ideia, do diálogo, no meu estilo. Mas sinto-me ligado aos escritos antigos como alguém se pode sentir ligado a um paciente e doloroso erro...
FRM/JLA – Como explica a publicação do seu último livro, poesia de carácter experimental, após e em face da obra anterior que conquistara inegável prestígio?
HH – A resposta a esta pergunta está incluída na primeira. Resta-me acrescentar que o prestígio que possa ter alcançado (prestígio equivoco no qual se integra a malquerença de alguma gente, que aceito com satisfação) não poderia constituir uma poltrona. O prestígio é uma armadilha dos nossos semelhantes. Um artista consciente saberá que o êxito é prejuízo. Deve-se estar disponível para decepcionar os que confiaram em nós. Decepcionar é garantir o movimento. A confiança dos outros diz-lhes respeito. A nós mesmos diz respeito outra espécie de confiança. A de que somos insubstituíveis na nossa aventura e de que ninguém a fará por nós. De que ela se fará à margem da confiança alheia.
FRM/JLA – Que pensa da atitude da crítica relativamente a este livro?
HH –
A crítica? Bem vê: nas circunstâncias em que me encontro, a crítica não me poderia ajudar. Ela de resto nunca ajuda um autor. Tende afazer de mediadora entre uma linguagem e um entendimento. Ajudará o leitor. Visto que bani das minha preocupações a ideia de comunicação, não considero a intervenção desse primeiro decifrador, do mediador. Porque não estou interessado em que o leitor adira...
Poucas apreciações críticas foram feitas ao livro, até porque só o enviei a três ou quatro críticos, cada um deles representando certo núcleo de opinião. Simples curiosidade da minha parte... A referência que lhe concedeu Álvaro Salema exprime, mais ou menos, a opinião dos neo-realistas a meu respeito e inscrevo-a na categoria dos meus pequenos divertimentos privados. A de João Gaspar Simões, mais esclarecida e esforçada, carece de informação. Não é possível criticar-se um livro de poesia experimental com os instrumentos aplicáveis à poesia convencional. Em todo o caso, Gaspar Simões é um homem atento, e a sua formação de base parece-me menos estreita que a da maioria dos críticos portugueses. Lamento que o seu conceito de poesia se vincule demasiado a alguns postulados da geração presencista.

FRM/JLA – Diga-nos se o seu livro de contos «Os Passos em Volta» constitui uma experiência isolada ou representa uma continuação da sua obra restante.
HH –
Esse livro pertence ao mesmo sistema de propostas e soluções dos outros. Inscrevê-lo na designação de contos, ou chamar aos meus outros livros conjuntos de poemas, significa apenas ausência de superfície às categorias estabelecidas. Não me parece necessário referir a crise das classificações literárias. Caminha-se, sabemo-lo todos, para uma visão total da obra literária que se não podem adoptar distinções afinal nunca rigorosas, senão de um ponto de vista didáctico e, assim mesmo, somente em determinado grau de didactismo, «Os Passos em Volta» são a minha primeira tentativa para superar a dictomia prosa-poesia. Marcam também o meu interesse, no momento de referir algumas algumas experiências de facto, em que a circunstância desempenhava papel preponderante. Achei então que o poema, como eu o vinha praticando, não possuía a elasticidade, o ritmo, o clima verbal, capazes de abrange, adequadamente o tecido temático e circunstancial que eu pretendia explorar. Aquele livro permitiu-me tal experiência, tendo sido ele, afinal, um passo decisivo para a abolição dos preconceitos que vinham limitando o meu trabalho.
FRM/JLA – Sobre os cadernos «Poesia Experimental» que se lhe oferece dizer?
HH – «Poesia Experimental», cadernos cujos propósitos são parcialmente expostos no primeiro número e que mais cabalmente irão sendo nos seguintes, constitui o único esforço sistemático e de conjunto para a renovação da poesia portuguesa. Estes cadernos provarão também que existe na nossa poesia uma tradição que nunca foi sequer, de passagem, indicada. Quanto ao corpo de colaboradores, que espero ver presentes no diversos números que se projecta publicar, têm vindo todos eles, privada ou publicamente, tentando alguns meios novos da expressão poética. Salette Tavares ofereceu-nos agora algo que considero extremamente importante, tendo conseguido uma desenvoltura rara na utilização de uma gramática com pouca tradição onde se apoiar. António Aragão propõe um extenso poema-narração, bastante ambicioso,, justo em muitas das suas partes. Há nele uma multiplicidade de experiências que conduzirão a lugares diferentes do experimentalismo. E. M. de Melo e Castro consegue o melhor dos textos que publicou até hoje e onde se purifica a tendência «concretizante» dos seus processos. António Ramos Rosa aparece com textos semantemáticos de grande rigor que marcam corajoso passo em frente, passo aliás adivinhável já em «Ocupação do Espaço». António Barahona da Fonseca liberta-se dos seus vínculos surrealistas e promete o necessário salto mortal, para que, interiormente, se tem vindo a preparar. Quanto a mim, vou um pouco mais longe na exploração do principio combinatório inspirado nas calculadoras electrónicas, considerando no entanto tais experiências ainda pouco ousadas para o que pretendo. Espero conseguir um pouco mais.
Não existe qualquer uniformidade nas experiências em curso entre os colaboradores de «Poesia Experimental». É visível, imediatamente, que duas grandes tendências se desenvolvem no sei da revista. Uma a que poderei chamar «concretizante», que se apoia, digamos, numa concepção materialista da linguagem, procurando a coisificação da palavra. Outra «abstractizante», em que a ambiguidade e o indefinido, provenientes de uma inclinação barroca do espírito, se inserem no processo verbal, criando espaços míticos sobre os quais se pode dizer debruçar-se um sentido do maravilhoso. Esta tentativa de caracterização é de facto rudimentar e assinala apenas diferenças profundas imediatamente observáveis.
FRM/JLA – Quanto a si, quais os movimentos ou tendências da poesia portuguesa actual que lhe parecem importantes, não só do ponto de vista de renovação formal, estética como também sob o ângulo conceptual e humano?
HH –
O único movimento poético que me parece moderno é o Experimentalismo. E estou a referir-me tanto ao nosso país como à poesia em geral. Os meus interesses estão de tal modo virados para ela que me é quase impossível dar atenção à poesia convencional, por mais notável que seja, dentro dos seus recursos e propósitos.
Quanto ás expressões «formal», «conceptual», «estético» e «humano», nas acepções utilizadas na sua pergunta, nada tenho a dizer. Representam conceitos não integráveis, desse modo, no meu processo de pensamento. Em poesia, formal, conceptual, estético e humano significam, conjuntamente, «linguagem». E poesia, como diria certo crítico norte-americano, é linguagem. Isolar o implícito, explicitando-o, servirá apenas para estabelecer um sistema insolúvel de situações.

justice

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

meu deus...

se puderem vejam o documentário dos Sigur Ros!!! meu deus... já tinha visto, mas hoje vi outra vez e fiquei sem palavras... ai ai ai ai que banda brutal esta. brutal brutal brutal. nada mais a dizer.

domingo, 12 de outubro de 2008

amanhã vou dormir. é com uma alegria imensa que digo isto. até repito: amanhã vou dormir. vou dormir porque tenho folga. mas isso não quer dizer nada. amanhã tenho a primeira reunião oficial de produção da próxima versão do espectáculo individualista ranheta do Dostoiévski!!! motivo de felicidade. estarão para acabar as malditas férias do teatro??? talvez... talvez... já não falo de mais nada antes de estar pronto, isso dá azar. pois bem. estou outra vez bem disposto e com saudades da família junta. que a família junta é que a puxa toda. neste momento na rua está um casal a discutir em voz muito alta, não percebo nada do que dizem, nem quero perceber. o Imago este ano acabou... não deu para ir... espero que tenha sido perfeito. faltam dois dias para poder voltar a escrever palavrões. a língua deles parece alemão, estão neste momento debaixo da minha varanda. ele entrou no carro e ela foi-se embora. é assim o mundo. ontem à noite voltei a passar em frente ao mamarracho Sagrada Família, acho que vou gostando cada vez mais do edifício, embora ainda não o perceba bem. arranjaram-me um actor com tiques. vou conhecê-lo finalmente. quarenta anos. retirado do teatro. tem todos os ingredientes para fazer uma boa sopa. espero não falhar. eu espero não falhar. fumo mais um cigarrito e vou-me deitar que já vão sendo horas. pois nem sei que diga mais. tudo se há-de resolver... mas as coisas têm o seu tempo... e só é pena que o tempo não seja igual para todos...
correcção do texto anterior: a Justiça não é cega, a Justiça tem os olhos vendados. a generalização dos juízes é parva, nem todos os juízes são uns analfabrutos. são os políticos que vivem na distância da realidade. pronto, e cá tenho eu de pedir mais uma vez desculpa ao mundo. a questão da Justiça não ser cega e ter os olhos vendados é uma questão que me vai oferecer um texto um dia destes, esse é realmente um ponto interessante e bastante atractivo a nível simbólico/teórico. de qualquer maneira... se eu for preso... espero que alguém me leve tabaco... porque a vida sem tabaco é realmente uma seca... sem amor também... sem tabaco e sem amor...

sábado, 11 de outubro de 2008

pagar para ser livre

num mundo em que há cada vez menos monstros e cada vez mais pessoas disfuncionais, passam-se umas coisas um bocado tontas, absurdas, parasitas da vida. há uma revolução por acontecer. todos o sabem neste momento e todos sabem que ela é inevitável. há uma revolução por acontecer porque as coisas se repetem até um ponto irrespirável. este texto podia ser sobre mim. mas não é. é sobre nós. nós muitos. milhares. milhões. chamados parasitas, crápulas, desentendidos, trabalhadores assalariados, poetas, artistas, loucos, lixeiros, carregadores, funcionários, ovelhas, cabras, clandestinos, vendedores de drogas, contrabandistas, turistas da vida, comedores de elite, alcoólicos, vigaristas, serventes, escravos, silenciosos, números, tretas, farrapos, aldrabões, mágicos, mal-cheirosos, impossíveis, sonhadores, libertários, anarquistas, subversivos, sacanas, velhacos, fumadores compulsivos, teatrais, restauradores, crentes, conservadores, bananas, tónhinhos, badamecos, saltimbancos, abstractos, sexuais, porcaria, pessoas do mundo, etc... etc... este texto é sobre nós. grandes maningâncios do mundo abstracto. primeiro, adianta dizer que ninguém nos pede para nascermos, ninguém nos pergunta se estamos prontos. atiram-nos para aqui, espetam-nos com um nome, dão-nos um número que se vai transformando em vários números e assim se vão desenvolvendo as coisas. espetam-nos numa escola. se foi boa ou má, isso não interessa. vamos tomando decisões. o mundo tem as suas regras e ninguém pede para que opinemos sobre elas ou como se poderão melhorar. ninguém nos pergunta nada. se não temos uma nascença grande, ou se não somos reis, ou se os nossos pais não nos põem a par das coisas, damos por nós a guardar gado e o gado somos nós, somos pastores de nós mesmos. problema nenhum, vamos vivendo. vivemos num mundo que tem uma coisa chamada Estado. Estado anormal. esse tal de Estado precisa de viver à nossa custa. truque: esse Estado diz que nós não conseguimos viver sem ele. esse tal de Estado pode ameaçar-nos como lhe dá na gana porque faz as suas leis que nós aceitamos como nossas. o Estado diz: se não pagas vais preso. e de repente, apanhas-te no meio de um tribunal, em frente a um juiz que em vez de servir de executor da lei se põe a opinar sobre a tua conduta diante do que é considerado lei, e que só é considerado lei porque está escrito e só está escrito porque é aceite por uma maioria que acha que as coisas devem ser como são. o problema é que hoje em dia cada vez é menos a maioria a decidir o que quer que seja, as leis são feitas por uma elite que não sabe o que é viver fora das leis, não sabe o que é ter de obedecer a leis injustas. por exemplo: a questão da Segurança Social... agora podes ser preso por causa de falhares à Segurança Social, é o tempo do medo, tu falhas à Segurança Social, é assim, falhas, não é por mal, falhas e está tudo dito. eles chegam e enfiam-te numa jaula, dizem: se não pagas vais preso. tu dizes: não pago. vais para a jaula oficialmente reconhecida como justa. para a porcaria da jaula oficialmente reconhecida como justa. muitos acham bem. muitos mais não acham nada. imensos mais não podem aceitar isso. de repente estás num tribunal e tens um juiz na tua frente que te manda bocas foleiras e que se ri do ponto em que estás, tu vais engolindo até não poderes mais, o juiz vai fazendo perguntas e vai opinando com as suas bocas e tu ali estás sentado, diante de uma presença simbólica daquilo a que chamam Justiça. cega e com uma balança nas mãos. pergunta: cega? pergunta: qual é o peso, quem o define? tu? que estás ali sentado? diante de um juiz que te manda bocas foleiras, que recebe não sei quanto por mês, que pode chegar atrasado, que tem dois carros e cinco casas, com o seu ordenado chorudo ao final do mês. é esse que te julga??? é esse que te pode julgar??? o que sabe esse? és enfiado num lugar onde te julgam por teres dívidas e és julgado pelas pessoas que são pagas pelo que devias pagar!!! num mundo em que mais de metade da população passa fome ou está no limiar da pobreza há pessoas que julgam outras sem terem ideia do que é esse lado. és julgado por pessoas que não sabem o que é escrever um poema. que não sabem o que é fazer amor louco. que não sabem o que é criar uma obra de arte. que não sabem o que é mijar num penhasco. que não sabem que há coisas no mundo que são mágicas e únicas e inalcançáveis para quem procura outras coisas. deves à Segurança Social, ninguém quer saber porquê. só querem que pagues. tu não queres pagar. ninguém quer saber porquê. porque as leis são para cumprir. é isso que deve estar formatado na tua cabeça. há perdões fiscais só para quem eles acham que merece. há reformas exorbitantes só para quem eles acham que merece. há ordenados loucos com dinheiros públicos só para quem eles acham que merece. há ajudas de custo que quem paga paga só para quem eles acham que merece. os políticos ganham bem. fazem o que querem. tudo na boa. os carros são públicos, as refeições são públicas... e aqui o público não quer dizer que seja teu, quer dizer que é pago por ti. mas se tu nem os queres lá, nem sabes muito bem porque é que estão ali, porque é que recebem o que recebem, porque é que não pagam o que não pagam, porque é que podem fugir a tantas e tantas leis que dizem que têm de ser cumpridas!!! mas as ovelhas não... as ovelhas devem alimentar o regime, as ovelhas servem para alimentar o regime. mas se não há regime não há ovelhas. e depois encostam-te à parede, dizem: se não pagas não podes viver. ninguém te mata. enfiam-te numa jaula, impedem-te de trabalhar, não te deixam comer. de repente estás em frente a um juiz que te manda bocas sobre o teu estilo de vida. e tu só podes dizer: senhor doutor juiz, num mundo como este é o senhor que é anormal, é o senhor que não tem de fazer contas para comer, o senhor é anormal, o senhor não sabe nada, o senhor nasceu com o cu virado para a lua, o senhor é um carneiro, um parasita, o senhor chegou aqui, atrasado, só o senhor sabe porquê, chegou mal disposto, pensa que toda a gente lhe tem de fazer vénias porque o senhor é juiz, como se isso lhe desse alguma importância neste mundo, o senhor é anormal, anormal, a-n-o-r-m-a-l. porque este tempo é tempo de escravatura disfarçada, este regime é um regime ditador, toda a gente sabe disto, toda a gente sabe disto. o nosso país é uma vergonha. já houve uma revolução. pergunto seriamente: quando será a próxima? já vai sendo tempo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

abstraccionismos da vida - frases e pensamentos do dia

Nunca o barulho das teclas me enervou tanto como hoje. E não era eu que estava a escrever.

Tu não estás contente, tens é falta de informação!!!

-Amanhã dás-me os 15 minutos que te dou hoje e assim ficamos pagos!!!
-Como assim?
-Pronto, se puderes...

A mim, encantam-me os artistas.

Sou um encenador mau e ranhoso.

Sempre que vens isto corre mal.

Deixa que eu faço. Não se preocupem com nada.

Vai haver um curso muito bom e por acaso sou eu que o vou dar.

-Estivemos aqui a discutir de onde eras e chegámos à conclusão que eras de Timor!!!
-E era possível!!!
-Ai era?
-Sim, da mesma maneira que era possível que tu fosses do Peru!!!

-De onde és?
-Do único país da Península Ibérica que não é Espanha!!!

É um projecto que existe desde os anos 50.

É preciso ter calma. Calma a mais dá sono.

Oiço esta história muitas vezes.

A tua filha nasceu este Sábado??? Por acaso sonhei que isso acontecia e bebíamos um copo!!!

O amor longe.

De Timor??? Só me saem duques. Não me quero enervar.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

chuva

a chuva voltou, com o frio, com o nariz entupido, com tosse, com uma seca daquelas... ando a sacar cenas na internet. só música obscura. umas cenas que já nem me lembrava que existiam!!! outras que tinha no Fundão e que me fazem falta aqui!!! os Suicide, maiores gajos do electro, que dão bastante gozo ao serem ouvidos na rua enquanto se anda, rápido. este mês vêm cá os A Silver Mount Zion será que é desta que vou ver alguma coisa??? já tive tantas vezes a certeza que já prefiro nem acreditar. o Imago lá está longe, na terrinha, com a família. tenho de dar a volta. sinto-me desconcentrado. crio anedotas. tenho escrito coisas. o nariz entupido é chato. acorda-se cedo sem se conseguir respirar bem. Barcelona com chuva faz lembrar o Porto. o amor está na distância. muita coisa aperta. voltei a vestir umas calças que antes não me serviam. tenho saudades do teatro. mas férias são férias. já escrevi a versão do Cova da Beira Upa Upa, esse futuro grande sucesso regional, disco de lata sem valor comercial, dos que só circula na net e que as pessoas apenas murmuram baixinho. tossir é mesmo chato, os músculos contraem-se, as pressões acumulam-se nos ombros. decidi que a versão do Dostoievski vai ser em catalão. para bem da comédia. vai ser uma comédia. estou para ver como é que um actor pode fazer aquilo credível em catalão... é mais um desafio. nem queria muito voltar a pegar naquilo mas há textos assim e é preciso usar as armas que se têm. não quero falar de futebol hoje. fui a uma exposição gira. uma retrospectiva do Alphonse Mucha, não sabia que tinha sido este senhor a desenhar os cartazes para os espectáculos da Sarah Bernhardt!!! olé olé. que altamente. enfim... vou sair de casa agora. espero que a chuva passe rápido.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

já é oficial!!! a23 online!!!

a23online.com

site da associação a23. agora certamente que a regularidade será outra. facto que não pode deixar de ser assinalado com bastante alegria pela parte que me toca.

domingo, 5 de outubro de 2008

barcelona, 00h 48m
alguém tira o tapete de uns pés queimados
voz nenhuma nos ouvidos
tudo está longe
ou distante
ou desaparecido
sabe-se lá
muda tudo nos ecrãs
muda tudo nas palavras
comeste pouco
dormiste pouco
pensas demasiado
pensas demasiado
pensas sempre demasiado
não podes controlar as coisas
estás a falar de outros
não existem outros que se transformem em marionetas
nada disso importa
que raio de coisa importa agora para além da solidão?
para além da vontade?
não sabes nada
dormes como dormes
carregas o que carregas
sofres o que sofres
ris-te o que te ris
problema nenhum
é um monólogo
um conjunto de circunstâncias que te faz sentir
como te sentes?
será que isso importa?
não
só importa a solidão
o que carregas
não tens truques no bolso
as coisas são mágicas e cruéis ao mesmo tempo
as pessoas são mágicas e cruéis ao mesmo tempo
tu não és exemplo para nada
nem sequer tens voz
nem sequer tens rosto
és um ser invisível que anda por meandros obscuros
obscuros não
andas não
nada
nada
nada
tens ritmos na cabeça que não vão ver nunca a luz
é possível
tudo o que é possível e não acontece é impossível
o nome diz cala-te
cala-te
cala-te
cala-te
cala-te
cala-te
deixa de ser um peso
um peso
um peso
um maldito peso
e cala-te
não sei nada de nada
sei sei
mas cala-te apenas
não mandes nada
não quero ouvir
estás em barcelona
são agora 01h 24m
devias estar a andar
mas eu estou sempre a andar e quero estar quieto
quero estar quieto
quero estar estupidamente quieto
silencioso
adormecido
mas não quero o esquecimento
o lixo
não quero isso
quero outra coisa
mas eu não a tenho
e o tempo
e o tempo
e o tempo
e o maldito tempo que se recusa a desaparecer
a deixar-se ficar para trás
monólogo na cabeça
muitas portas
muitas varandas
demasiadas janelas
fim de texto

contra as promessas, desculpem lá, mas FODA-SE!!! outra vez peixe assado...


sábado, 4 de outubro de 2008

senhoras e senhores, começou:

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

era uma vez uma casa que ardia sempre. uma boca de sangue. um futuro risonho.
uma casa deixada na sua nunca solidão.
feita de vidas aéreas. paisagens de febre.
era uma vez uma casa.
ocupada e desocupada. como a vida que rebenta.
como a cabeça que dorme.
como sonhos concretos.
como impossíveis que acontecem.
a casa. o quarto. o corpo.
a imensidão.