terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Não me lembro bem do seu nome. A minha primeira mulher. Rapariga abrutalhada do campo, fresca de carácter, rude no trato, uma mulher de pelo na venta apesar da pouca idade que tinha quando a conheci, sairia aos pais certamente, ou aos avós, ou ao rebanho das cabras que guardava pelo monte fora, porque isto há vidas tramadas e a ela tinha-lhe saído uma, já para não falar que me tinha eu atravessado no seu caminho para a tramar ainda mais. A minha primeira mulher do acaso era uma pastora. Encontrei-a no monte numa das minhas passeatas de quando era mais jovem e me dava para isso, pegava na manta e lá ia eu dormir ao relento, respirar ar puro, beber uma garrafa de tinto mau e comer um pão com toucinho. Era a idade da inocência, tinha lido poucos livros e as politiquices não se me vislumbravam no caminho. Lá ia eu pelo monte acima quando vejo uma miúda que falava maravilhosamente para as cabras. Sempre fui dado a visões românticas, sou assim, mesmo velho que não me cheguem com açúcar que eu derreto, bem, lá ia eu quando dou de trombas com este espectáculo impensável e único, uma moçoila brilhante, no meio do nada, meia descascada do tempo, a falar com cabras, a trata-las por tu. Enfiei-me atrás de uma árvore e fiquei à espreita, via tudo com o meu olhar abutre da mocidade. Via-a cagar e mijar ao relento com a naturalidade do hábito. Invejei-lhe a carne tenra e os poucos pelos que a cobriam. Não podia evitar um encontro que o destino ali tinha proporcionado, que me tinha proporcionado a mim, que ela aqui era um apêndice da minha viagem de mendigo. Ela tinha acabado de sentar-se. Dei uma volta grande para lhe poder aparecer pela frente com a distancia suficiente para não lhe pregar nenhum cagaço. Fartei-me de andar. Estava de frente para ela mas era-lhe ainda invisível. Avanço para ela a esbracejar como quem pede auxílio, ou água, ou uma porcaria qualquer desde que sirva de isco ao jogo maldito que lhe servia numa bandeja fria. Ela consegue finalmente ver-me. Retrai-se. Claro, estava ali com as cabras e há muito bandido por aí. Começo eu a gritar-lhe que não tenha medo, que não tenha medo, que estou só de passagem, ela levanta-se, com o cajado na mão como se estivesse disposta a lutar para se defender, coitada, se lhe quisesse comer a bucha já a bucha estava comida, sempre tive calma nesta refeições e sempre gostei do jogo. Vou falar contigo filha. Vou falar contigo e quando estiveres mais calma dou-te o remédio para a tosse que ando aqui há não sei quantos anos a aguentar os sapos na garganta. Quando estiveres mais relaxada já te digo como se apanham moscas. Chego-me mais perto, com o meu ar inocente de jovem meditativo, ela deve achar-me simpático, baixa o cajado e espera por mim, pergunta o que quero, eu digo-lhe nada, que estava só de passagem e se posso sentar-me um pouco a seu lado, ela diz que sim, está no papo, é desta. Lá nos sentamos. Conversa de treta de quem está no monte. Tudo monossílabos. Como se chama disse-me mas não me lembro. Talvez um nome de flor, ou de bicho, não interessa, os nomes são como as recordações mais parvas, esquecem-se e pronto. Ali estávamos nós sentados quando ela me começa a fazer perguntas sobre coisas íntimas, perguntava e ria-se como se soubesse a resposta mas se envergonhasse de a saber. Eu ia respondendo, claro, estavam lançados os dados, era só comer o que viesse. Passados uns momentos estávamos a falar de beijinhos. Ora, agarro-lhe no braço e espeto-lhe com a língua na boca enquanto a puxo para mim. Ela muito corada lá começa a dar à língua também, com a inocência de quem só ouviu relatos, puxo-a para cima de mim, sento-a nas minhas pernas e esfrego-a com as mãos loucas. Aproveito-me descaradamente da sua inocência. Toma lá dedos. Abro as minhas calças e meto-lhe a mão no meu caralho mais do que contente, no meu caralho inquieto, digo-lhe que o meu pardalinho está contente por vê-la e que quer conhecer a sua passarinha. Ela cora, claro, inocência. Lá lhe destapo as pernas. Pernas de menina. Meia dúzia de pelitos que lhe decoram o papo, tiro-a de cima de mim e deito-a sobre a erva. Digo-lhe que o meu pardalinho quer dar beijos na sua passarinha, entretanto vou-lhe dando beijos com a boca no seu sexo tenro, encosto-lhe o caralho à sua cona virgem e ela diz-me: “é por aí que eu faço xixi”, deita-me ali abaixo a altivez, esmorece-me ali a arrogância do sexo, respondo: “não faz mal”. Dou-lhe mais uns beijos na cona despida, levanto-lhe mais as pernas e meto-lho no cu, não teve tempo de dizer nada, deve ter mordido os lábios. Vim-me como um louco dentro de si. Era a primeira vez de ambos. Eu já tinha tido várias companheiras, as mãos muitas vezes, o roçar-me nos sítios até me vir enquanto pensava nas minhas estrelas de cinema preferidas da altura, muitas foram minhas sem o saberem. Mas esta, que eu agora não me lembro do nome foi a minha primeira de carne, não digo real, também as outras tinham sido reais, digo de carne. Vim-me no cu dela. Ela não chorou. No fim perguntou-me se era aquilo que os adultos faziam, eu disse que alguns sim, que outros preferiam apenas esquecer e fechar os olhos enquanto aquilo durava, que para muitos aquilo durava o tempo de uma eternidade aborrecida. Estava a ficar escuro. Tinha de voltar, ela, eu por ali ficaria. Disse-me: “vamos voltar a encontrar-nos?”, eu digo-lhe que só se ela quiser. Ela disse que sim. A minha primeira mulher de consentimento. A primeira que me disse sim, aquele sim que se imagina nas idades da mudança. Voltámos a encontrar-nos várias vezes. Descobrimos o sexo juntos. Fodemos de todas as maneiras e feitios. Cuspimos várias vezes o outro da boca e limpámos o outro outras tantas vezes do sexo, escorremo-nos pelas pernas abaixo enquanto íamos para casa. Era bom. Mas a vida... o monte... o mundo... na verdade o que nós tínhamos era amor, talvez um amor rude, mas o amor não tem de ser delicado, chegávamos e fodíamos e até à próxima vez. Estes tempos arrastaram-se muitos tempos. Já era quase natural. Ela fazia parte da minha vida de poeta, musa das minhas palavras de vento e de chuva, imagem perfeita da beleza pura, inocente, minha, de nada. Um dia passo e vejo-a na fonte a falar com um rapaz, bem vestido, mais novo que eu. Aproximei-me deles e falei-lhe a ela. Ele foi-se embora. No dia seguinte a mesma coisa. No terceiro dia mesmo no momento em que eu chegava ela diz alto para que aquilo soasse nos ouvidos dos três presentes: “Bruno”, nunca mais esqueci este nome, “Bruno, vamos embora que eu não conheço este senhor.” Matou-me ali. Morri uma boa parte de mim nesse dia e eu era ainda novo. Aquela negação pública do amor. Não foi o eu ter sido maltratado na frente de um engravatadinho que a merecia mais do que eu, foi o sujar de uma coisa que era na minha cabeça limpa, foi o acabar da esperança, da descoberta, foi o início desta feitiçaria malvada que não me deixa ter respeito nem acreditar que as mulheres amem. As mulheres querem ser bem fodidas e acreditar em sonhos. Não há cá descobertas. A beleza está na cabeça dos homens. A mulher consegue foder e pensar na cabra que lhe foge naquele momento, não é por mal, consegue fazer isso porque o seu corpo lhe permite. O homem, por muito que queira cumprir calendário... se não levanta o membro é porque não levanta o membro, o homem não tem grande capacidade de esconder o desejo ou o não desejo. É também por este facto que as mulheres conseguem ser mais dissimuladas que os homens, são mais capazes de apunhalar por trás, de esconder tudo até já não haver regresso, de aguentar a foda de um enquanto preparam a cama do outro. Depois desse dia comecei a segui-la sem que ela notasse, encontrava-os nos mesmos sítios em que os dois tínhamos estado, imagens em que nem eu acreditava, ela controlava-lhe os movimentos, encostava-o a árvores e chupava-o até que lhe saíssem todos os órgãos pela ponta do caralho. Como me doíam aquelas imagens, ainda hoje me doem. Mas mesmo assim eu não a largava do olhar, queria saber tudo, investigar tudo, como se precisasse de um termo de comparação, como se precisasse de me provar que eu era melhor que esse Bruno, rapaz finório com tiques de boa educação, cheio de promessas de boa vida no palavreado rebuscado. Passados uns meses andava ela com uma barriga que para todos era considerada uma doença. Ele não quis casar com ela, deixou-a por ali, com uma barriga doença, ela suicidou-se uns tempos depois. A minha mulher que eu não lembro o nome nem me esforço por lembrar. Chorei a sua morte como ninguém sem que alguém percebesse o porquê. Eu era o louco de serviço. Deixei a minha terra e fui para a cidade grande. Precisava de viver. Muito vivi. Mas nunca me saiu da cabeça a pastora. A pastora que eu amei secretamente, um amor impossível como qualquer grande amor. Depois vieram outras mulheres. Mulheres mulheres. Corpos despidos nas noites húmidas. Corpos que se escorriam pelas pernas. Sempre um vazio. Um sexo arrogante com um prazer louco. Descobri drogas. Descobri textos. Descobri gente. Os tempos agora são outros. Estou velho. Vivo de memórias. A pastora que amei como quem ama a vida. A pastora com quem fodi na descoberta que queria foder com esquecimento. Que queria perder o ritual, a nossa bandeira, o nosso amor puro. Ela tinha catorze anos. Eu tinha vinte e cinco. Idade da nossa morte prematura.

domingo, 28 de dezembro de 2008

bem, lá passou o Natal na terra, os dias loucos, os exageros diversos da quadra e dos amigos, as arrelias do costume com as coisas do costume. muita coisa que vem para ser pensada. muita coisa que se torna insegura. chega-se a pontos em que não se sabe qual é o ponto em que se está, tenta chegar-se à conclusão que se está no mesmo mas a verdade é que não, tudo se desgasta. é caso para dizer: merda. mas não venho chateado nem triste, venho frustrado, é assim. sem desenvolvimentos de maior na vida. que tenham todos uma época festiva muito boa.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

poema

o meu nome é um enigma. chega de falar de mim. era uma vez uma história. havia ouro nos bosques. crescia nas árvores e apanhava-se no chão. se não tinhas cuidado ao beber a água límpida engasgavas-te com as pepitas livres que te raspavam na garganta. o ouro nos bosques... bela história. era o tempo do ouro. e depois de um tempo vem outro. e depois desse outro. e depois desse vem outro. e assim por diante até à última estação. no meio do mundo há um rapaz preso num tempo. vários rapazes. raparigas. cada um preso no seu tempo. todos esperam a sucessão cíclica da idade. todos com o bosque de ouro na cabeça. com a inocência. o amor. a liberdade. no meio do mundo há um esquecimento. há vários esquecimentos. palavras que voam. músicas que soam. imagens que entram pelos olhos dentro. que batem no fundo do despertar. os nomes são enigmas porque a vida se vai tornando num enigma. em diversos enigmas. os bosques em que há ouro. alguns. ardem. tornam-se silenciosos. o ouro lá anda ainda mas não cai das árvores. já ninguém bebe a água cinza dos regatos. o ouro está lá só como uma semente de alguma coisa preciosa mas já indefinível. está como uma semente de magia. como um recordar ardente. incendiado. exposto. palpitante. à espera da luz. do tempo seguinte. de uma nova melodia que vibre para as árvores. por entre as árvores. com o sol lá fora. em cima. a bater confortável e quente. deitados na erva miúda e fresca das manhãs. a comer maçãs. laranjas. a beber a água límpida que corre até parecer não ter fim. os risos soltos. a campainha da escola ao fundo. o cheiro a café quente. os lençóis frescos do amor. aquele beijo. a memória das mãos nas mãos. das cartas. dos poemas tontos. de chorar de alegria. de chorar de tristeza. do chorar só chorar. do rir. o ouro no bosque é uma casa. vermelha como as casas dos bosques. nada mais tenho a dizer.

a fase...



quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

fazer teatro?

há várias razões e todas elas são construções imaginárias. a primeira é porque se começou e se chegou a uma altura em que se lá estava. esse é o início do problema. é aí que começam as razões que decorrem desse acto inconsciente. o teatro aparece. depois está-se nele. depois justifica-se a permanência. a minha primeira razão é porque me vejo como o centro do meu problema e procuro mais respostas do que resoluções. enquanto vou procurando mais respostas mais problemas encontro. é um ciclo. a segunda razão tem uma ligação com uma perspectiva do mundo. aqui tenho sido claro. é a dramaturgia do mundo que interessa. não é que o mundo seja interessante para a cena, é que o mundo é tão pouco interessante que é importante passar a vida a desmascará-lo. desmascará-lo funciona aqui em sentido inverso com o que se imagina do teatro. há quem prefira mascará-lo. há quem use máscaras para voltar ao centro da vida e há quem prefira anular a vida e destruir as máscaras. tudo isto é teoria. realmente, chega-se a um ponto em que não se percebe o que se faz no teatro!!! pior, chega-se a um ponto em que não se sabe se se está no teatro!!! ela anda lá, mas as distâncias, o entorpecimento, o vazio, o não desenvolver problemas!!! é que o não desenvolver problemas é o caminho errado do teatro. fazer teatro é procurar os problemas. já não se trata de enfiar a cabeça no mar das respostas. não há respostas nenhumas. há formas. há perspectivas. há estéticas. o teatro pode muito bem ser virado para dentro. pode ser um enigma individual. muito provavelmente sou muito melhor no teatro do que o que sou na vida... é assim... é a sina!!! porque há questões de sina!!! já nem tenho paciência para joguinhos. o teatro que quero fazer é um teatro assumidamente filosófico, estou-me nas tintas para que seja compreensível, há tanta coisa que não o é, e estou a falar de mim, quantas e quantas vezes não fui eu já incompreensível??? nas minhas atitudes rasteiras, na minha sacanice, na minha velhacaria??? já lhes perdi a conta. e depois tenho as minhas influências reles no mundo artístico... as poesias... os gajos das rupturas... é difícil viver assim... por incrível que pareça vou voltar a fazer o Dostoiévski!!! já ando a meditar o crime!!! já sei que vou voltar ao buraco negro e fundo e que neste momento sinto-me verdadeiramente pronto para o fazer!!! sem falsas modéstias ou arrogâncias!!! neste momento sinto aquele ritmo, aquela palpitação, aquele remoer interno. é um espectáculo que podia ser feito todo numa língua estranha, só com sons do fígado!!! ser actor, para mim, é ter uma necessidade de se lavar. é como quem escreve para exorcizar fantasmas de dentro. a única coisa que aqui poderá parecer estranha é o porquê mostrar uma coisa assim tão egoísta??? é fácil, porque sem o público não seria experiência. sem o público não seria um exorcismo/sacrifício, na verdade o teatro está a um passo do suicídio, é um jogo perigoso, quanto mais perigoso for para quem o faz mais interessa a quem o vê. a história está contada. a Castro: há uma mulher que é morta numa determinada circunstância, quanto mais absurda for a circunstância, mais absurda é a morte da mulher, mais absurda é a solidão dos que ficam, não há rodeios nenhuns no argumento, há linhas de força, uma linha política, uma linha humana, coisas que se perdem e coisas que se ganham, mas a verdade da história é a morte da mulher, só isso é que interessa. no Subterrâneo (nova e mais uma versão), há um marmanjo que está acabado num buraco, a história não é o porque é que ele está acabado, a história é o como é que ele está acabado e diz o que diz!!! com a boca cheia!!! como se tivesse um orgulho secreto no que atingiu, ou não atingiu. fazer teatro é, para mim, simplificar coisas que eu não sei fazer na vida. para mim, é tudo muito mais claro num palco, as linhas são mais rectas, talvez menos interessantes... mas é o que sei... queria era um grupo de actores dos que comessem a madeira e uma sala que eu logo havia de gritar, sobem-me já uns calores, umas ânsias, umas angústias!!! tanta gente sem nada para dizer que se pavoneia por aí, pelas estreias parvónias, que até metem asco com as figuras que fazem... ai... até fumo!!! uns bananas... com a boca cheia de ar, que só querem é dormir sossegados, ir de férias relaxar, dizem uns disparates uns para os outros, riem-se todos, palmadinhas nas costas, fazem umas cenhangas a piscar o olho à moda e ao ministério... era metê-los a carregar baldes de massa logo às sete e meia da manhã que até haviam de ganir!!! e podem muito bem enfiar os prémios que tiveram ou que querem ter pela goela e morrer com eles atravancados na garganta que só conhecem para mandar papaias para o ar, cambada de ciclistas, com o paleio da esquerda unida, meteis-me fastio!!! ai ai ai... qué vivan las vacaciones del teatro!!! na semana passada estive a falar com uma actriz daqui, de vez em quando acontece-me, ora diz-me ela depois de uma converseta bem disposta, boa sorte!!! disse-lhe logo: tu é que precisas, eu estou de férias!!! e, umas semanas antes, ela tinha ido ao restaurante e tinha pedido uma água!!! e eu contei-lhe a piada: sabes o que diz um actor empregado a um actor desempregado??? e ela, não!!! e eu: traz-me uma água!!! hehehe que parvo... mas então... dá-me para isto... o que é certo é que qualquer dia vou ver um espectáculo seu e sei que me vou enervar!!! eu sei... estas coisas enervam-me!!! também a mim tudo me enerva!!! sou um bocado explosivo, fervo em pouca água e por aí em diante... mas hei-de fazer o quê??? enervo-me!!! isto é um problema que eu tenho de resolver sozinho, não vale a pena pedir ajudas. hei-de chegar a um ponto em que me esteja nas tintas, em que aprenda a relativizar, mas até lá... vou fazer o quê? ando aqui carregadinho de ideias, cheio de ânsias, o mundo a girar, eu a girar no mundo, nem sempre os dois na mesma rotação... ó pá, é tramado... mas é o que há. é o que há. sabem o que vos digo? sinto-me velho e cansado. e ainda nem aos trinta cheguei... ele há vidas miseráveis...
por favor, acabem as obras!!! só me apetece gritar. sobem-me logo umas ânsias pela manhã. desato logo a fumar, a fumar, a fumar. a dizer mal do mundo. aquelas marteladas. as maquinarias que parecem metralhadoras... que fastio!!! que já tudo se me enerva. se me fazem ir aí dou-vos umas cabeçadas. chamem a polícia se quiserem. chamem quem quiserem. deixem-me dormir um dia descansado!!! parece que estão a deitar as paredes abaixo. ai que nervos!!! acabem com isso. é com cada salva... só me apetece é tomar comprimidos para esquecer, ou para dormir, ou o que é...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

explodir. fumar. fumar. fumar. explodir. corpo invisível sobre o corpo que funciona como uma massa tensa. andar rápido. não pensar. acção. mundo em fuga. tempo. congestionamento. preguiça. vergonha. tempo. aguentar. explodir. quando? ruído de guerra. saturação. saturação. aguentar. voz. velocidade. libertação sem vista. grito surdo. tímpanos perfurados por máquinas insuportáveis que te fazem levantar da cama e gritar inutilmente para o outro lado. que lado? lado do mundo que não chama mas que te puxa para si. não te pergunta nada. estás no meio da guerra. acordas e estás no meio da guerra. e já não és criança. e ninguém te disse nada. bebe mais um café. fuma mais um cigarro. esquece. esquece. diz bom dia na escada de casa. apanha chuva. chuva. frio e chuva. erosão. respirar. transportes. rostos vazios de medo. olhos infinitos. maquinaria. seguranças com cães. criminosos do pequeno delito. saltar coisas sem pagar. rir da inocência das regras com a consciência do seu lado absurdo. se não houvesse crime. se não houvesse amor. prisões. famílias. casas. coisas estampadas na cabeça. na verdade só estás longe. só apetece explodir. ganas de explodir. de partir pedras com as mãos. como se fosse possível aliviar o corpo à pedrada. metes-te nos caminhos alterados. substâncias. vícios. tens pequenas depravações. olhas inquieto para as imagens. falas coisas. nem sabes bem o quê. ruas de gente. caminhar com vontade de correr. sempre a correr. saltar. voar. a velocidade da libertação. és uma máquina que quer voar. cilindrar a terra infinita.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

só te conheço as linhas. apareces-me em sonhos como algo que voa. sou outra vez criança e não tenho vocabulário. o tempo está parado. já sabemos o que se passa. é o tempo. as coisas movem-se. o toque nos braços. a voz da tua ausência que me deixa incomodado. silêncio quase mortal. espécie de futuro cego. distância. língua. escrever coisas sem o domínio do vocabulário das coisas. um sonho que aparece nos dias frios. que eu não quero que evapore.

sábado, 13 de dezembro de 2008

pois, meus santos, nem sei o que vos diga, o Barça lá ganhou... são as novidades nada novas que tenho. de resto... se passasse menos tempo na internet à espera de coisas já tinha mais amigos e amigas. uma seca. espero não me enervar este natal. ainda que me enerve sempre... mas pronto... espero não me enervar. pelo menos que não me enerve muito. não ando com espírito para me enervar. estou demasiado solto. muita coisa mudou. sinto-me eléctrico. com umas ânsias. até tenho medo. até tenho medo. é que se elas aumentam... é uma seca. é mesmo uma seca. hoje no metro decidi começar a fazer exercício, vou começar a correr. é que sinto os músculos tensos. cheios de energia para explodir. a precisar de guerra. foda-se. não me lixem. que não me lixem desta vez. sei lá eu o que é voltar.

Cadernos de Barcelona

já dormi. o corpo pronto para mais. é o entorpecimento. as questões. o teatro mental que parece não querer ser mais físico. a capacidade de resistir. de desistir. de existir. de insistir. a casa que não vem. a terra longe que cada vez é menos terra e mais bichos.

ontem no restaurante estive a falar com uma família. o pai disse que ia passar uns meses a Portugal. falámos de música. ele conhecia-os todos menos o José Mário Branco. apontei-lhe o nome num papel. saíram encantados e a dizerem obrigado. muitos saem dali a dizer obrigado. é importante servir bem. a mãe perguntou-me o que tinha eu feito no Porto. eu disse teatro. o filho espantou-se. o pai disse é o mesmo que aqui estás a fazer. eu ri-me. eu disse que ficava mais um bocadinho a falar mas não podia que tinha gente a olhar para mim.

estou mais velho. é normal. desde que se nasce que se começa a envelhecer.

faço disparates infantis. digo muitos palavrões. falo sozinho. canto.

quero ter uma banda. tenho saudades da minha música e dos meus livros.

gostava de eliminar tudo o que fiz até hoje a nível artístico e ando a meditar possibilidades para apagar essa história. gostava de ter sido nada. não me orgulho propriamente de nada. só de algumas participações.

vou acabar o ano em modo balanço e isso enerva-me.

estou mais magro. estou mais magro. estou mais magro porque como pouco. como pouco porque tenho preguiça de comer.

tenho cada vez menos coisas para dizer. muita gente achará isso fantástico. eu não acho nada.

merda para o inverno, esse velhaco.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

morreu o Alçada Baptista.
final do espectáculo Quadros do Interior:
"Agora só quero ficar de bem comigo mesmo. Até amanhã. Talvez!?"
nada mais a dizer. a luz apagava-se assim. serenamente.

domingo, 7 de dezembro de 2008

já que é a puxá-la... aqui vai mais uma, esta é brutal!!!


realmente há coisas... que meu deus... eu já sei que sou intempestivo, intempestivo é uma palavra horrível, mas quero que se lixe, apetece-me escrever mal e porcamente. há coisas que nem sei como acontecem e nem me quero debruçar muito sobre elas. ando facilmente enervável. vou fazer o quê? nada. enervo-me e pronto, já está, estou enervado, nada a fazer, sou um choninhas. um choninhas enervado. quem me dera ter a capacidade de mandar basófias, seria muito mais feliz, chegava e basofiava, tinha o rei na barriga e vomitava-o de vez em quando. este texto não tem tema. é apenas um rol de fonfonfon pseudo-velhaco. apetece-me dizer mal de coisas. eu tenho estas ânsias e estes apetites. engalfinho-os num caldeirão e zungas cá para fora como uma cuspidela azeda e amarga no formato que assume. ó pá, vou fazer o quê??? sou tonhé!!! sou tónhó!!! sou o que sou, uma treta. olhem, porras para a auto-estima. hei-de fazer o quê? não há retorno. andava aí no fonfonfon do teatro e o caneco, ah e tal e sou o maiór e o diabo a quatro... nada de respostas nem de propostas nem de promessas, eu sou um gajo que precisa de promessas, eu sou um paspalho com a vida ao contrário que precisa de promessas. promessas nada, aceitação. eu não gosto de guardar muito as coisas parvas. eu não tenho medo de carregar nada. só me apetece é ganir, mas ganir alto. um dia meto uma anilha daquelas no nariz, hei-de parecer um porco. juro. é uma tatuagem e um arganel. tatuagens não, tatuagens dão-me seca. só me apetece dizer mal de mim. hoje o Miguel Rainha e a sua malta Pinos Custódios e o caneco que estejam descansados, depois continuaremos nesse programa, hoje quero dizer mal de mim. fónix. é um direito que me assiste. caloteiro, chóninhas, cobardolas, tretinhas, merdicinha, é ganir que me apetece, enfiar uns não sei quantos copos de cianeto e zungas, acordar depois!!! acordar? nicles!!! quero lá eu acordar!!! ontem houve um rapaz que disse que não gostava de me ver no cimo da varanda na posição em que eu estava, claro, estava na posição ideal para o suicídio!!! mas eu quero lá agora suicidar-me??? era o que mais faltava!!! então depois como é que me ria da desgraça??? o suicídio é um aborrecimento e só dá trabalho!!! alguém tem de devolver os livros, pagar as contas, contar à namorada, só chatices, eu não quero morrer. no fundo eu curto este estado de coisas, para já, gosto de trabalhar. e até aqui vou ser lamechas, mas gosto de trabalhar com as pessoas que trabalho. e tenho as minhas falhas, claro. olhem, hoje só quero é ganir. estive um bocadinho no Raval e ainda estava mais aborrecido que eu. seca das secas. é fugir para casa e esperar um mail no computador... mas nada. já ninguém escreve a ninguém. é uma seca. raios partam o messenger. cá fumo uns Fortunas, a puxá-la, daqui a pouco vou temperar um conejo e está a andar. eu, ao fim e ao cabo, gosto de dias em que estou enervado, fico mais desperto. estar desperto é bom. acorda-se enervado. anda-se enervado. ri-se enervado. olhem, tudo nos enerva!!! hahahaha tudo nos mete fastio!!! e está a chegar o Natal, menos mal, o pior para mim sempre foi a Páscoa!!! com as amêndoas e o coelhinho!!! e é daquelas alturas do ano em que tudo me corre mal, antes da Primavera. a Primavera sim, a Primavera é a puxá-la toda. o Verão... eu não gosto do Inverno. preciso de sol. sol é fixe. ahhh e deixem que vos conte, ando com o vício da simpatia!!! ando simpático!!! detesto. ajudo pessoas no metro a carregar malas e tudo!!! que banana!!! é para colmatar as falhas, dirão alguns!! mas desde quando as minhas falhas têm possibilidades de ser colmatadas??? não têm!!! eu sou um rato, esta roubei ao Dostoiévsky, um insecto!!! e mesmo não gostando de o ser, ainda me consigo divertir no meio da minha treta!!! mas hei-de fazer o quê??? as contas vão-se pagando... a da segurança social não, nem quero pensar nisso e quero que esses senhores se lixem que é o melhor que fazem, a segurança social não pago, nem pensar, era o que mais faltava. eu qualquer dia quero ser é espanhol!!! isto de ter fronteiras... a fronteira é a comida, os amigos, a família e a selecção de futebol!!! depois disso tudo é história. a língua... a língua é uma coisa que não tem terra. bem, já desabafei hoje. mando aqui abraços mais uma vez aos que contam.
só me apetece ouvir The Smiths!!! nunca o tal!!! até estou a escrever um post sobre isto, imaginem lá o nível em que esta questão se põe!!! ando pelo metro a cantarolar na cabeça, é na rua, é em todo o lado, não me largam. ontem estava cheio de vontade de ir a um qualquer lugar em que pudesse dançar, apetece-me dançar The Smiths, que nervos... é aquela voz de angústia e de raiva e de sensibilidade que atinge a cabeça, sacana do Morrissey, o gajo é que a sabe toda. The Smiths era a banda perfeita, a música deles tem uma classe do caraças, é altamente. mas é que não me saem da cabeça. aqui vai mais uma e não me levem a mal:


sábado, 6 de dezembro de 2008


desabafo hermético

este mundo tem coisas que não deixam de surpreender. pior que as falsas modéstias só mesmo a arrogância inconsciente. falsas modéstias, pronto, um gajo sente-se pouco solto e cora um bocadinho e faz-se pequeno, a arrogância inconsciente é muito pior, é de uma tontice que vai lá vai. vou aqui roubar uma coisa ao Dostoiévsky, a basófia, os gajos que enchem a boca para dizer os maiores disparates como se fossem verdades absolutas, eu até me passo. até admito que sou um bocadito burro e fragmentado mas não me atirem areia tão grossa para os olhos. é que até me deixam sem saber o que dizer, fico digamos que encavacado. ontem deixaram-me assim, até me encolhi, olhei para o tecto e contei candeeiros. um objecto artístico não tem limites no desenvolvimento. tem limitações de tempo e de espaço que lhe dão a sua resolução final. essa resolução será sempre a sua forma mais perto da forma ideal. ora bem, no meu trabalho como criador acontece-me sempre não ficar contente com nada e até me acompanha sempre uma certa frustração porque há sempre fragilidades que tomam um grau de preocupação muito maior que o lado positivo. por muitas conquistas que se tenham as pequenas derrotas custarão sempre mais. é assim. quando me perguntam como está o espectáculo eu ganho sempre uma vergonha qualquer nessa altura, é como a minha vergonha nos agradecimentos, não tenho jeito nenhum para a parte dos agradecimentos. enfim... mas não quero falar disto. aqui fica este desabafo que não diz nada. só não quero é que me fodam a cabeça com palermices si us plau.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008


quarta-feira, 3 de dezembro de 2008