terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
é a voz que te diz a verdade. estás morto. distante e morto. pior do que ela não te amar é não fazeres parte da sua vida. os teus olhos têm ferrugem. andam constantemente húmidos. sentes-te insuportavelmente surdo ou mudo ou cego, não interessa, sentes-te como te sentes. afastado da casa. a ver a casa na distância dos dias e levemente possuído por pesadelos autistas. andas na rua sem tocar no chão como se estivesses com uma ressaca fodida. ela não te quer para si. não lhe pertences. não és seu. tens uma língua estrangeira possuída por demónios. já não podes falar sem raiva e sem ressentimento. não perdoas nada. um mar de vazio. olhar de vidro. a casa vermelha tornou-se numa casa incendiada. negra de fumo. bem me quer, mal me quer, não me quer. falta-me o quê para ser possível? não tenho o quê para ser humano? cria-se a bola no estômago que procura o rebentamento precoce das manhãs. as manhãs solitárias. envenenadas. se fossem lágrimas de fogo as que escorrem neste rosto marcado do tempo atiraria-as contra os teus cabelos. chorar-te-ia mais do que mereces. já não sei o que mereces. choro porque não o mereces. vomito porque não o mereces. sofro porque não o mereces. sempre foste virado para dentro. estou a falar para mim. possibilidade esmagada e esventrada. estatuto estranho. decomposto. descomposto. vergonha viva nas horas e nos dias. no cimo da montanha gritaria a todo o mundo para me sentir vivo. atirem-me com toda a treta aos colhões e não me cantem canções de embalar que eu estou farto de dormir. insuportavelmente raivoso. cão. lixo. ferrugem. vazio. cheio de merda na cabeça. deitem fogo ao desabafo enquanto ele está vivo. assim apaga-se o menino. já não há menino. o menino foi-se embora. desnasceu. rasgar a carne com as unhas. arranhar-se enquanto se toma banho para tentar limpar este vazio. chora cabrão chora. chora mais. chora que isso limpa. chora que isso limpa. sai. vá. sai de dentro. escorre. arde. sai. desaparece. eclipsa. apaga. segue. as marcas são o que são. ficam como ficam. valem o que valem. há razões que valem menos que os despojos de um combate, é que por muita glória que se procure, há muitas maneiras de chegar à paz, ou à segurança, ou à estabilidade. estás na hora de saltar. não pertences ao seu mundo.
colocado aqui por
Pedro Fiuza
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