querido diário sujeito a interpretações,
abordo-te aqui de uma maneira um pouco formal embora de formalista só me considere na medida do minimamente experimental. neste momento desconheço-te as linhas que podemos chamar de força em termos de definição. enfim... deixemos estas coisas de lado, estou-te a escrever a ti, estou-te a escrever uma espécie de carta a ti, que és uma espécie de diário, e é assim que se começam os textos diarísticos no imaginário universal. querido diário. querido diário. estou com o cabelo maior em alguns sítios e cada vez mais nulo em alguns outros. as marcas do tempo são assim, infiltram-se e simplesmente passam, não querem voltar atrás, as porcas, não há nada a fazer em relação a isso. pois a verdade, uma delas, e mesmo assim pode ser uma verdade mentira ou ilusória, mas a verdade é que a pele muda realmente com este assunto do tempo, a pele e o cabelo, maldita carequice, mas capachinhos são horríveis e as carecas não se podem enganar e toda a gente tem medo que a descubram e eu já tenho medos que me bastem para saber que não a devo esconder. onde é que eu ia? ó diário, tu vai-me lembrando que eu às vezes perco-me em frases, acontece-me perder em frases, hei-de fazer o quê? mas olha, a falar sou um desastre, a falar e muitas vezes a viver, sou terrível a falar, a escrever esqueço-me disso, é mais fácil, sabes que a história do cu... que quem tem cu tem medo... é verdadeira e o meu cu que o diga que já muitas vezes sentiu medo. diário, chega de paleio. vou recomeçar.
querido diário sujeito a interpretações,
estou careca e embora pareça cansado, sei muito bem que hão-de vir bombas, autênticas bombas incendiárias, que hão-de ser vomitadas convulsivamente até ferir a garganta e sair sangue. estou a ficar careca e embora pareça que também estou a ficar morto ainda tenho aqui mão para me defender de um que não seja muito forte!!! diário, sei que sou muitas vezes bananasentimentalóidedepreaborrecidomedricascobardolasmerdasetcetc mas ando a tentar mudar isso, e ao menos seja dito esse facto, batem-me mas também levam. alguém vai ganhar e não vou ser eu, mas é mesmo assim, não somos todos feitos para ganhar. querido diário. hoje estou perdido no meio delas. das frases. mas não me apetece recomeçar.
sigo. não sei em que sentido ou linha de discurso. há um bloqueio com as palavras e os sonhos últimos apresentam um lado expressivamente freudiano, que sempre me enervou, mas realmente andam a pairar nas minhas noites imagens que me aborrecem, as famílias, deve ser da idade, cartas que escrevo ao dormir, é insuportável. sempre detestei Freud e a maldita escola da psicanálise, aliás, escolas no sentido de linhas... incómodo absoluto na minha cabeça. enfim... estava a falar dos sonhos que me andam a atarantar a mona ao dormir. de serem sonhos demasiado freudianos na formatação interpretativa da treta que nos impuseram no caneco do imaginário universal, e é a segunda vez que falo dele. imaginário universal. tenho visto um lado da família em incêndios do mundo, é estranho porque é o lado fraco familiar da vida, deve ser disso, com a tomada da consciência do caminho talvez se percebam melhor os obstáculos e nunca hei-de usar esse argumento para me defender, sou burro porque sou burro, a palmada que o médico me deu quando nasci para que chorasse tem pouco a ver com esse facto. sou burro e pronto. tudo a declarar. nada a desculpar. sou um burro com ânsias. e como tudo ajuda o pobre... sou muito burro e tenho muitas ânsias. o Freud é chato. estar careca deve ser mau em alguns dias de verão. o sol na cabeça é perigoso e o perigo, embora muitas vezes excitante, não é aqui agradável, saltar a pele na cabeça, arrancar bocados dela, uma seca que os protectores só ajudam muito minimamente e eu não os sei usar. sonhos atormentam-me. atormentam-me porque vejo coisas que não quero e espeto-lhes com a treta da formatação.
querido diário. tenho de ter cuidado. há coisas que mordem os calcanhares. a vida morde-se a ela própria. injecta-se veneno. é animal. detesta solidões. altera-se. quer subir sempre. diário. lembrei-me de um texto que escrevi quando tinha vinte e cinco anos que era sobre o facto de ter vinte e cinco anos. estou agora pior. menos ilusões e com visitas freudianas a atormentar o sono. não me apetece gritar mas apetece-me fumar. só me apetece fumar. já não tenho lata. só me apetece rir. mas rir à gargalhada, é o melhor. diário de interpretações. tem calma. escrevo-te a ti mas falo para mim. muitas vezes escrevo para lavar. não estou preocupado com exigências de leitores. isto vem assim. detestaria escrever estilos. gosto de escrever livre. prefiro não meter os meus textos em prateleiras. prefiro parti-los como pedras. sacar-lhes a forma. se só escrevesse o que interessasse aos leitores estaria tramado. não iria escrever quase nada e acabaria por deixar mesmo de escrever. isto é uma necessidade. não dá para orientar. isto não é um trabalho. ó diário. tu vê se percebes isto.
estás sempre a mandar-me à merda. depois os sonhos insistem. a saudade aperta mas a voz não soa. há a altura. lá está o pobre a ser ajudado. diário. hoje acabamos aqui.
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2 comentários:
bombas, sonhos, freud, ser burro depende da palha, pq qd falas dos carecas entras na personagem da cristininha do ilhas...? ai o Carretas!...
assim resumi o q queria rever no comentario! hoje sinto-me quase como qd escrves-te isto! mas mesmo assim respondo sujeito a interpretações!
1 - bombas é perigoso! eu queria assim aalgo tipo entifada mas utilizando a pedra de Estremoz!
2 - sonhos... hoje sonhei a noite toda q estava a beber agua! o Freud explica isso?
3 - ser burro!?!?!?!? acho q a palavra é asno!
4 - exacto!? pq qd falas dos carecas entrqas na personagem da isabelinha(?) do ilhas? é o ser tuga q é mais forte! (reclama baixinho com tudo) e aqui ate eu te entendo e ao Carretas.
5 - deixa-te de queixar! PODIA SER SEMPRE PIOR!
Ass: o diario
Se calhar, caro Pedro Filipe, podias experimentar um "orgone accumulator" de Wilhelm Reich (aluno de Freud "but with some crazy ideas of his own").
Google "wikipedia wilhelm reich" ou "youtube kate bush cloudbuster" (com Donald Sutherland, surpreendentemente!)
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