segunda-feira, 6 de julho de 2009

diziam-se únicos no seu caminho dourado
era o tempo da ilusão
ainda o corpo se sentia criança
não havia olhar
não havia nada
depois o tempo corrosivo da carne
a distância animal
uma espécie de separação na origem
uma queda
uma quebra
uma espécie de corda que aperta o pescoço
até que a respiração seja cortada
silêncio
é a morte do que foi
ou do que é
ou do que importará isso agora
eram janelas abertas sobre os desfiladeiros da vida
era uma vida partilhada
diziam que era belo isso
diziam que havia inveja
que os tremores eram inacessíveis
que a carne era inquebrável
que o outro estava religiosamente guardado
prova de fogo
chama
calor expansivo
medo em combustão lenta
demasiado fugaz
atrocidade nas mãos
falta de esperança na boca
conjugações milimétricas de obscuridade
falta de tempo
falta de vida
sonhos por terra
enterrados
soterrados
esquecidos
diziam que tinham uma luz que era a sua luz
e que essa luz que era a sua
era uma luz que não se apagaria nunca
porque eles não se apagariam nunca
manteriam a sua luz única
como uma luz primordial
que luz?
onde está a luz da visita?
onde está a luz da voz?
a luz da vida?
a luz cabelos na boca?
a luz pele?
a luz quente dos dias?
sim
é verdade
algo houve que morreu em mim
algo houve que me apagou sentidos
algo houve que me sacou o tal futuro de sol e de chuva
a minha pele já não é minha
perdi o dentro
perdi o fora
perdi o céu e o chão
evito a queda como quem evita a água das tempestades
olho à minha volta
estou farto do vazio
morro demasiado lentamente

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