domingo, 21 de fevereiro de 2010

era um homem era o nada - carta aberta ao senhor manuel frexes

caro senhor,
por um acaso qualquer na envolvência do espaço e do tempo, este mundo faz com que exista uma coisa chamada nascimento, nada de especial, também existe uma coisa chamada morte, tal como existe uma coisa chamada vida. por um acaso qualquer, numa conjugação de forças do acaso, nasceu o senhor, num dia que nada de abençoado teve para a linha do mundo, ou para a salvação da espécie, ou para o que quer que seja. o senhor não é sagrado. o senhor é um homem de carne e osso e pele e músculos e sangue, o senhor como homem que é, apresenta uma grande probabilidade de vir a falhar, isto é o mais normal em todos os sistemas, o ser humano é passível de falhar, aliás até nem acredito que o senhor alguma vez se assuma como perfeito, já que corria o risco de cair num ponto de ridículo de tal maneira ingrato que lhe faria corar o rosto. o senhor falha. não se assuste. o senhor falha, eu falho, os seus adversários falham, o ser humano falha, é uma das leis da vida. o problema é que eu quero falar para si, só por isso é que insisto mais no seu ponto do que no meu, ou do que no de qualquer outro.
caro senhor,
o senhor não só falha como também se coloca num ponto em que as falhas passam a ser consideradas graves, acho que neste assunto estaremos de acordo. o senhor pode controlar destinos, não, eu não lhe estou a chamar deus nem a atribuir nenhuma posição divina, o senhor não merece esse título. o senhor colocou-se num ponto em que, não só se ofereceu para controlar destinos, como também se ofereceu para resolver esses mesmos destinos. o senhor está numa posição que lhe permite, infelizmente, controlar a vida de muitas pessoas. pode dizer que foram as pessoas que o elegeram e essa será a sua eterna mentira democrática. não foram as pessoas que o elegeram, foram algumas pessoas que o elegeram, foi uma pseudo-maioria de pessoas que o elegeu, que o colocou na coisa mais abjecta que esta sociedade criou, o poder.
caro senhor,
o senhor, num ritual social em que as pessoas desenham uma cruz num papel, ritual este chamado democracia, o senhor venceu uma batalha politicamente importante. isto nada tem de extraordinário. o senhor humanamente nada venceu. o senhor não pode subir a um pedestal de glória por ter tido mais votos, a política não é uma guerra de audiências televisiva, a política é uma forma de acção directa que se tornou num jogo baixo em que a maior parte dos analfabetos dão a vitória quase sempre ao menos eficaz. o senhor foi eleito porquê? alguma vez terá pensado nisso? alguma vez terá o senhor pensado no facto de ter sido eleito apesar de ter sentenciado mortalmente toda uma cidade? pior, de ter eliminado para sempre um sonho de jovens e jovens, que desistiram de uma cidade que já não lhes pertence? de uma cidade que de o que foi um dia já só lhe resta o nome?
caro senhor,
o senhor fez uma obra grandiosa, é verdade, que caiam as pessoas e lhe beijem os pés, mas alguma vez falou das falhas constantes dessa sua obra grandiosa? alguma vez pensou nas consequências sociais que provocou desde que chegou ao controlo do município? não. e sabe porquê? porque o senhor é um fantasma. o senhor é um mero fantoche político, vulgo político profissional, o senhor foi um rosto dado a uma jogada partidária, o senhor é um cartaz, o senhor é pior do que isso, o senhor é uma fraude, o senhor colocou o seu pé em cima de gerações e gerações de sonhadores, o senhor atirou a terra para cima de uma cidade que tinha possibilidades de salvação. o senhor é um criminoso. o senhor é um criminoso desculpado pela sua farda de político, porque essa sua maldita farda permite-lhe o falhanço desculpável, permite-lhe criar fórmulas de engano, permite-lhe criar empresas municipais, permite-lhe colocar um grande número de pessoas a trabalhar para o que o seu rosto significa.
caro senhor,
falemos de qualidade. tem o fundão qualidade suficiente para que os seus habitantes cresçam como pessoas, ou se fixem, ou se sintam felizes? serão as pessoas felizes nessa cidade chamada fundão? onde é que o senhor vive? porque é que não há pessoas na rua? o senhor conseguiu acabar com o mercado, agora recuperou o lugar, mas o mercado está morto. o senhor pode dizer
que foi para fazer obras de reabilitação naquela zona, mas que obras são aquelas? que centro cívico é aquele? o senhor anda a atirar areia para os olhos de quem? que praça é aquela? uma praça em que os vendedores e os compradores quase têm de baixar a cabeça para não raspar no tecto. ah, claro, pode falar da biblioteca, de uma biblioteca que não tem condições para que sejam vistos filmes ou ouvir música sem que os outros se queixem, ou decidam o que querem ver, pode falar de uma biblioteca que mais parece uma central de tempos livres, que já abriu demasiado pequena, chamada hipocritamente de eugénio de andrade. mas em relação ao centro cívico também podemos falar do mamarracho megalómano da fonte das bolas!!! o que é aquilo? o senhor gostou da obra? não acredito que tenha gostado, afinal de contas o senhor é um homem de bom gosto, acreditam alguns...
caro senhor,
a cultura foi uma das suas bandeiras mais acesas. um desastre total e sem precedentes. deixe que lhe diga, acho que antes era melhor, perdemos festivais marcantes, perdemos diversidade e, mais uma vez o pior, perdemos possibilidades. a moagem é a maior falcatrua cultural deste país. a menina dos olhos que os senhores tanto apregoaram aos ventos todos. uma treta. não tem outro nome. treta. um auditório que não serve para mais de metade dos espectáculos que se fazem neste país, com uma fila de autocarro ou opção fila dos casais, com um palco mínimo, com um estrangulamento medíocre na arquitectura e nos despojos. aquele museu com os objectos que sobraram da moagem dá-me para chorar, principalmente depois de ter visto o grau de destruição levado a cabo na limpeza... é inútil fazer um museu arqueológico de fachada depois de ter destruído todo o recheio da moagem. eu acuso-o de destruição do património. eu acuso-o de destruição do património e de fraude social.
caro senhor,
a sua única desculpa para o estrangulamento dos lugares da cultura é, de facto, o carácter fragmentário da sua política cultural. na verdade, o seu vereador da cultura é sempre o presidente em exercício, o seu sucessor... dizem... o seu vereador da cultura presidente em exercício entregou os destinos da cultura a um senhor programador que é a nulidade absoluta da cultura neste país. qual é a linha, a política cultural que o senhor defende? ninguém sabe. não há uma corrente de público, não há uma perspectiva, há uns espectáculos dispersos, incrivelmente elitistas quase todos, há uma falta de objectivo e de responsabilidade social e educativa. senhor presidente, eu acuso-o de deseducar as pessoas, eu acuso-o de estrangulador de valores. o fundão tinha um grupo de pessoas com uma imensidão de possibilidades criativas. onde estão?
senhor presidente,
eu acuso-o de ter acabado com o casino fundanense. eu acuso-o de, com a criação da moagem, ter acabado com o sonho do cine-gardunha.
senhor presidente,
eu acuso-o de ter acabado com o parque das tílias, de ter ali feito uma rodela de cimento tão inútil como a agenda cultural que já não existe.
eu acuso-o de responsável pelo deserto de gente e de ideias a que o fundão parece estar condenado.
eu acuso-o de responsável pelo endividamento em que o fundão está enterrado.
eu acuso-o de assassino. eu acuso-o de pária. eu acuso-o de receber um ordenado que não merece.
eu acuso-o de não estar nunca numa cidade pela qual deu a cara.
eu acuso-o de traição.
eu acuso-o por o senhor ter falhado redondamente nos objectivos de uma cidade por se estar nas tintas.
eu acuso-o de ser presidente da câmara de silvares.
eu acuso-o de propagandista.
eu acuso-o de político.
eu acuso-o por ser responsável pela maior rebaldaria camarária de todos os tempos.
eu acuso-o de manipulador de resultados.
eu acuso-o por o senhor saber que as pessoas só votaram em si porque tinham medo que os que viessem não soubessem tratar do buraco profundo em que o senhor deixou cair as coisas.
eu acuso-o de cobardia.
caro senhor,
posso chamar-lhe todos os nomes feios que sei e posso inventar alguns novos para si e nunca vai ser suficiente, o senhor vai desculpar-se com conjunturas, o senhor vai desculpar erros graves que foram feitos com outros não tão graves, o senhor vai acabar por ir-se embora, o senhor vai acabar por ir-se embora de um sítio em que nunca esteve.
caro senhor,
aposto que o senhor dorme tranquilamente. aposto que o senhor não tem preocupações. aposto que o senhor ganha mais em ajudas de custo do que a maior parte das famílias portuguesas tem para sustentar os filhos.
caro senhor,
quero acreditar muito que o senhor não existe.
da próxima vez que estiver na varanda do seu gabinete e olhar para o jardim pense numa coisa: a cidade que o senhor vê já foi uma cidade mais viva. que essa imagem lhe persiga os sonhos e não o deixe dormir durante muito tempo.

1 comentário:

Rini Luyks disse...

Obviamente o comentário que escrevi no post anterior devia estar aqui...