E crescem as unhas do tempo sobre corpos falantes
Paisagens
Textos invisíveis escritos com o olhar
Era uma vez...
Em busca do passo seguinte da história
História pessoal
História do mundo
Depois do incêndio
Da peste
Da fome
Da guerra
Dos gritos e das lágrimas
Das revoluções
Voltar ao passo embrionário
Era uma vez...
Três
Mosqueteiros
Armados até aos dentes para combater a doença
Infiltrada nos corpos autistas das coisas
Que lutavam para impor a realidade
O crescimento das unhas
Do cabelo
A transformação da pele
Metamorfose
Envelhecimento
Desaparecimento
Luta
Lunar
Lacunar
Sujeito da história
Nulo no mundo mudo
Cinemático
Cantante surdo
Um sussurro esperado para continuar com ritmo
Sem o corpo desolado
Desamoroso
Desamado
Perdido
Encontrado
À deriva nos seus nadas
Em câmaras de eco
Câmaras escuras
Silêncio-silenciadas
Sem palavras novas
Sem paredes pintadas
Ou riscadas
Ou sacudidas
Elas
Despidas
Com as mão nos ferros
Com o ar quente na boca
No chão
Na água
Os anzóis
No ar
Os pardais
Os aviões
As nuvens
Os palavrões
As unhas crescidas na carne
Da carne
Regressam à carne
Outra
Ferida
Esta mais ligeiramente ácida
Fotografia de dedos molhados
Em busca de amor
Que é como quem diz casa
Que é como quem diz mundo
Que é como quem diz vida
Que é como quem diz sentido
Certeiro
O tiro
Matou o porteiro
A porta fechou-se
Ninguém mais entrou
Depois chegou o ladrão
Com os seus olhos no chão
A porta abriu
O ladrão entrou
A cantora cantou
E a mulher tossiu
Tossiu porque não quis o ladrão
Tossiu porque o ladrão era da droga
Tossiu porque o ladrão era um ladrão
Um ladrãozeco
Um meia leca
Desapossado
Despessoado
Desajustado
De auto-estradas
Linhas curvas
Como lágrimas
Intermitentes
Impressas
De fome e saturação
Em estado de vigília
Sem sorrisos oferecidos
De chaminé em chaminé
Em cima do fogo e do perigo
Chamem outra vez a realidade
A maldita realidade
Quero falar com ela
Quero puxar-lhe pelos cabelos e gritar-lhe aos ouvidos
Que apanhe com a saliva do grito
Que apanhe com a surdez
Com a nudez
Chamem-na outra vez
À realidade fugitiva
Cheia de nicotina
Alcatrão
Palavras
Desejos
Tudo por fazer
Uma casa vermelha fogo no bosque
Café quente de manhã
Sorrisos
Era uma vez um corpo
Com a sua história normal de corpo
Nasceu e morreu
Com um pequeno instante entre o nascimento e a morte
A que muitos chamam vida
Uma viagem entre dois pontos
Que pode ser mais cheia
Que pode ser mais vazia
Que pode ser assim assim
É o corpo
Ou a cabeça
Seja o que for
Seja o que a realidade quiser
Quando corres pela rua
E a chuva te cai na cara
Sabes sempre que a realidade te visita
Se ficas fechado em casa
Protegido do tempo
É a ilusão quem te acompanha
Se a mulher te chega das nuvens
Cai-te nos braços
Deita-te ao chão
Só estás seguro numa prisão
Não olhes para trás
Nunca digas não
Que os fantasmas que não queres ver sempre lá estão
E um dia é tão pequeno como uma mão
Ou um dedo
Ou uma unha
Ou uma vida
Ou uma noite
Já vês as costas
Não tens perdão
Já vês as coisas
Com os olhos no chão
Solta-se o grito
Só dizes que não
Andam as coisas ao contrário
São avarias no cérebro
Aventuras no corpo
Nada te toca
Nem choca
Cabeça oca
Difusa
Di fiúza
Cala-te boca
Que o teu pai morreu
Indo eu a caminho de Viseu
Ai Jesus que lá vou eu
Três vezes eu
Por isso é que te chamam egoísta meu cabrão
Mereces cair redondo no chão
Com textos pacóvios
Sem nenhum palavrão
Pois quem me dera
Ser só amor
Mas as malditas ânsias
Os gritos da guerra
A insatisfação
A penúria
A garganta
O fumo
O ritmo que cresce dentro e que pede para sair
Que é incontrolável
Que é insuportável
Que não consegue ficar
É a cabeça que se coça
São os nervos
As campaínhas
As não-razões
O medo que morreu de velho
Porque envelheceu novo
Avenidas de árvores infantis
Nas quintas distantes
Outono
Tons vermelhos no chão que se pisa
Matéria decomposta origina vida inimaginável
Montanha
Raios de luz por entre as árvores
Uma avenida brilhante e vermelha no meio do nada
Que só os teus olhos comem
Sôfregos
Solitários
Um prazer vazio
Combina-se que não se olha para trás
Mas os olhos nunca olham para a frente
Estão fixos
Palavras inquietas
Um sobressalto constante
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5 comentários:
Olá Pedro?, Filipe?, Diablo en el ojo? Bom regresso à blogosfera!
Estás sempre a mudar de nome, isto é para desviar, iludir, enganar as autoridades à perna!? (haha).
Neste fim de semana vai ser então: "A vida privada de Salazar" na SIC (hoje making of, amanhã e segunda feira os dois episódios).
Lembrei-me do teu post magistral sobe o nariz de Diogo Morgado em Agosto passado.
Isto vai ser para não perder!
Também vou estar muito atento às mulheres que entram: Soraia Chaves, Cláudia Vieira e uma luso-belga Helena Noguerra a fazer de Christine Garnier (será ela mais bela do que a "nossa" Eva há dois anos!!??) Acho que vou fazer um post nostálgico sobre a peça.
Aliás, já sabes que aparentemente as manifestações de desagrado de Manuel Martinez Mediero ainda tiveram um papel no despedimento de Fragateiro? (ver o interessante blogue "(Mono)cultura em Portugal", post 29 de Agosto 2008)
Correcção (post sobre Fragateiro): 29 de NOVEMBRO 2008
pois vou ver isso sim senhor. e pronto, caro Rini, lá voltei eu aos assuntos da blogaria... hahaha
e acho que mais bela que a NOSSA Eva... é difícil...
Pois, a SIC foi o que esperava, mesmo assim, "irritação agradável" como costumo dizer.
Agradável também quando há comentários irritados no blogue por eu escrever sobre isso.
Como uma senhora a dar-me o conselho: "Faça o desmame" em relação à má televisão portuguesa! Haha, há vida na blogosfera.
Claro que a "nossa" Eva é imbatível, mas a luso-belga é encantadora, também canta, vi uns youtubinhos, no início parece Carla Bruni, mas não, ver por exemplo o video (Google): Helena Noguerra-youtube-Je t'aime salaud (nomeadamente o final!).
Pas mal du tout, dis donc!
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