era uma vez um rapazinho
que só tinha um colhão
era giro e atiladinho
e chamava-se Agrião
um dia houve em que Agrião
foi para a rua passear
ficou a olhar para as miúdas
com o rabinho a dar a dar
uma houve que lhe disse
"mas p'ra onde estás a olhar?"
Agrião ficou corado
e passou a olhar p'ró ar
ela disse-lhe "olha, olha
que me estás a enervar"
Agrião ignorou-a
e continuou a passear
nesse preciso momento
estava um pássaro a avoar
o pássaro fez-lhe piu
e piu lhe fez Agrião
o pássaro cagou-lhe em cima
ele limpou-se com a mão
à miúda que se tinha enervado
deu-lhe um aperto no coração
levou Agrião para casa
lavou-o bem lavadinho
apalpou o pobre moço
e vislumbrou um colhãozinho
um bocadinho ela se riu
mas logo Agrião se empinou
"ora deixa-te de coisas
um dois três que aqui vou"
e foi-lhe com toda a força
toda a que tinha acumulada
que o seu colhão sozinho
era doido por marmelada
deixaram-se dormir juntinhos
pareciam dois anjinhos
Agrião acordou cedo
e foi buscar outros caminhos
que aquilo fazia-lhe confusão
não se pedem sorrisos
a quem só tem um colhão
na rua andava ele
todo contente a passear
isto porque não estava à espera
do que se ia passar
porque o mundo prega partidas
a quem se deixa enganar
então não é que dum canto
lhe aparecem uns rufias
com uma navalha ao alto
para lhe fazerem patifarias
Agrião Agrião
tem calma neste momento
não te ponhas com manias
não te armes em jumento
fala com eles com calma
abre-lhes o coração
que eles com aquilo
cortam-te o último colhão
ficas a falar à esquilo
sempre a tapar com a mão
passas a ter vergonha de usar
calções justos na natação
Agrião olhou para eles
muito tempo sem falar
se fosse um cão vadio
estava com o rabo a dar a dar
um pediu-lhe o relógio
ele disse que não tinha
outro "dá-me tudo
ou também ficas sem pilinha"
Agrião sacou dos bolsos
o que tinha lá escondido
e sacou de uma pistola
e deu um tiro num bandido
os outros acagaçados
desataram a correr
Agrião gritou de longe
"acabei de vos foder"
e ali estava ele
com um bandido morto no chão
ligou para a polícia
para contar a situação
a policia veio logo
tomar conta da ocorrência
pediu a arma ao rapaz
pediu-lhe a identificação
ele disse "Satanás
o meu nome é Agrião"
o policia enervou-se
com o que lhe tinham chamado
perguntou a Agrião
se o conhecia de algum lado
mas Agrião já estava
com a garimpa a levantar
com a sua arma na mão
desatou a disparar
dois policias abateu
o outro bem não ficou
mas a sua consciência disse
ainda bem que disparou
porque eles lá na esquadra
logo o iram apalpar
e tinha acontecido
que o iriam gozar
por o pobre Agrião
ter menos um colhão
para lhes poder mostrar
desatou a correr louco
nem sabia para onde
atravessou montes e serras
lugares onde ninguém se esconde
passou por terras e terras
era um pobre fugitivo
mas a culpa era sua
nada tinha acontecido
se tivesse ficado
com a mulher despedida
toda nua
com ele deitado a seu lado
mas ele nunca pensava
no que poderia acontecer
o sacana do rapaz
nisso encontrava prazer
ora zumba zás trás pás
acabou por se foder
toda a gente andava em busca de Agrião
e ele coitadito
procurava uma pensão
para poder dormir
e pensar no que fizera
tomar um banho relaxante
meter desodorizante
deixar de ser arrogante
inventar uma identidade
procurar uma cidade
procurar um trabalho
mandar o passado para o barralho
esquecer tudo
ficar como surdo mudo
não se meter em aventuras
não pensar em diabruras
nem sequer em travessuras
só dormir e descansar
o colhão a dar a dar
procurar alguém para se casar
um berlinde para enfiar
para do monocolhão ninguém desconfiar
e foi o que fez
uma coisa de cada vez
um trabalho arranjou
um berlinde se enfiou
com uma miúda se casou
ora andava tudo bem
até andava bem de mais
a miúda quis ser mãe
ele quis brincar aos pais
um garoto lhe saiu
e saiu só com um mal
só tinha um colhão
tudo se riu no hospital
a mãe perguntou-se
a quem o filho saiu
Agrião corou e disse
"se calhar foi o médico que não viu
acontecem coisas assim
mas eu tenho cá os dois
podem apalpar-me a mim"
estava lá uma enfermeira
que já estava a magicar
que era tudo uma falcatrua
porque o pai estava a corar
"ora baixe lá as calças
baixe as calças por favor
que o só ter um tomate
pode ser culpa do senhor"
Agrião ficou nervoso
com a reputação a fragilizar
e o caneco da enfermeira
que o estava ali a provocar
começou com suores frios
e com tremuras na mão
baixou as calças à bruta
"ora ponha aqui a mão"
a enfermeira viu aquilo
e não se fez nada rogada
apertou com tanta força
que lhe rebentou a colhoada
um berlinde ao chão caiu
toda a gente a boca abriu
Agrião a janela olhou
e a ela se encostou
"se dizem mais alguma coisa
eu cometo uma loucura
atiro-me desta janela agora
e morro com esta altura"
olhou para a mulher
olhou para o filho mais uma vez
ela disse "atira-te"
ele contou até três
abriu a janela
e lá foi ele a voar
como é que o raio da vida
lhe pregaria tal partida
que o havia de desmascarar
a queda foi tão rápida
que bateu no chão sem sentir
deixou no mundo um filho
com um colhão só a existir
ainda hoje há quem diga
que Agrião era o maior
que só com um colhãozinho
conseguiu ser um senhor
mas de nada lhe serviu
o senhor que se tornou
porque quando o descobriram
de uma janela se atirou
esta história sem moral
não tem nada para dizer
nunca vás ao hospital
se sofreres deste mal
porque podes padecer
mas andam por aí tantos
que nem um nem dois
têm três
e com tanta tomatada
não fazem o que este fez
sábado, 30 de agosto de 2008
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2 comentários:
Coitado Agrião, porque ele não experimentou uma terapia freudiana tipo "Tomatina" de Buñol (Valencia)? Acho que foi na quarta feira passada, uma guerra de rua com 115 toneladas de tomates!
Não foste lá, Pedro?
Um pequeno aparte, mas se calhar nem tanto: reparando com agrado que neste blogue não se evita o uso explícito da língua, tenho coragem de abordar aqui uma pequena questão, uma dúvida linguística de um estrangeiro em Portugal.
Na RTP 1 aparece todos os dias o spot: "Lição de bom português", na semana passada aprendi por exemplo que além de "calçar sapatos, calçar meias" também se diz "calçar luvas". Ou seja, o verbo "calçar" é usado sempre quando se trata de "cobrir as extremidades do corpo".
Agora a minha dúvida: deve-se ou não se deve dizer: "Calçar o preservativo"? Pode parecer uma insignificância, mas estou a imaginar uma cena quase a chegar ao rubro e de repente um dos intervenientes: "Espera aí, espera aí, ainda não calcei o Durex!".
O efeito psicológico de um verbo mal empregado podia estragar uma noite, não!?
hehehe, e calçar o barrete, descalçar o preservativo!!!
à tomatina não fui ainda... mas gostava de ir. mas no caso de Agrião, talvez ele se sentisse mal no meio de tanta tomatada, havia de dizer "uns com tanto e outros com tão pouco!!!".
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