quarta-feira, 18 de novembro de 2009
a mudança do rosto. flores que nascem sobre a terra. húmida. planícies de batalhas. campos em que a morte se espalha. o rosto desfigurado da guerra. depois da guerra. o rosto quebrado da desolação. era um homem e uma mulher. um dia os abismos cairam na terra. entre eles. os sonhos desfeitos. a consciência eterna do fim. e o rosto. esse na sua apresentação funesta. desconectando realidades. outras falcatruas. outras feridas. e ele dança sobre a vida como se o amanhã fosse irreal. e ela que chama a realidade palpável das coisas. ele que não escuta. são corpos cicatrizes. aberturas profundas na terra. caminhos. sulcos. erupções. era um homem e uma mulher. eram o quê? o vento sobre o pó. cinzas. animais em chamas correndo por montanhas de chuva. líquida a terra. líquido o corpo. desfeitas as conjunções. pecado. crime. mentira. a loucura da impossibilidade tocando as mãos religiosamente brancas. pára com os advérbios. que fazes tu agora? mero corpo incolor nas ruas de ninguém. quem te toca? quem te embala? hás-de vir depois do vento e sobre a tempestade como se viesses da guerra. já não te reconheço e tu és eu. quem és tu? estás como que deitado numa caixa obscura. casulos da vida. larvas da vida. sem alimento nos dias e nas noites. onde te encontras? corpo. onde estás? para que lado? qual a saída? a guerra fechou a porta e já não podes subir ao branco. à luz. depois da cinza a água que limpará o segredo. o túnel aí tão perto que lhe podes tocar. mas cuidado. ele faz com que a matéria desapareça. como se fosse um crime sentir o sangue derrotado. como se fosse um crime abjecto entregar as mãos. como se fosse um erro despedir-me do que não quero. há-de vir o tempo. espera-se a um canto até que a voz me chame. a minha voz me chame.
colocado aqui por
Pedro Fiuza
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