segunda-feira, 9 de novembro de 2009

- pensava que tinha perdido tudo, meu caro.
- e perdi, não sei porquê o tom de dúvida.
- vejo-o de pé. parece saudável.
- a doença que tenho é invisível.
- e que lhe faz ela, a doença?
- come a minha vida devagar.
- como assim, come?
- é uma espécie de cancro no espírito que me puxa para baixo. uma doença explosiva. não me larga, a doença, obriga-me a viver.
- nada o pode obrigar a viver.
- há uma coisa que sim.
- o quê?
- a cobardia.
- costuma pensar muito em suicídio?
- constantemente. não em suicídio rápido. antes esta forma de morte prolongada. perpetuar o sofrimento para chegar à explosão.
- a sua doença caminha intensificando-se...
- claro, é uma doença progressiva, hei-de ficar tão frágil que terei de rastejar.
- e a cura?
- já lhe disse, sou cobarde.

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