segunda-feira, 9 de junho de 2008

ficções da vida 6

para Nela estava ser um dia perfeitamente normal. sentada em casa, na sua espera regular por alguma luz que viesse da janela e lhe desse força às plantas que tinha na sala. tinha andado num taxi nesse dia, tinha comido fruta fresca roubada directamente à árvore, tinha estado com a sua namorada Dora, tinha passado a ferro, feito uma passagem ranhosa por todos os canais da sua televisão, tinha ido ao trabalho olhar para a caixa de mails, tinha comido o seu iogurte do costume na hora do almoço, enfim, tinha gasto mais um dia, há quem diga vivido, para Nela era gasto, menos um dia a contar do fim. tinha deixado a carreira de sonho como repórter desportiva, tinha-se dedicado a uma regular criação de acontecimentos, o seu trabalho não é para aqui chamado ainda. nesse dia normal, enquanto estava Nela em casa, toca a campainha, alguém, abrir, os senhores da luz, para fazer a contagem, era só um senhor da luz, chamava-se Raul. Raul entra em casa de Nela. cumprimentam-se com a banalidade dos costumes. Raul saca do bloco enquanto Nela o controla com os olhares nada fora do normal deste tipo de coisas. até vai com a cara de Raul. há uma empatia. a contagem é feita. Raul sai. vai-se. Nela volta para a sua sala. fuma para passar o tempo. passado um pouco Dora liga. a conversa do hábito. as combinações parvas do inevitável. Nela está aborrecida. parece um animal de apartamento. fuma mais. vai à janela. volta para o sofá. faz um charro. fuma-o. abre uma cerveja. bebe a cerveja na varanda. colhe uma laranja do cimo do cimo da árvore da casa de baixo. tira-lhe a casca, come-a, o sumo escorre-lhe pelo queixo. volta para casa e deita a casca no lixo orgânico. a campainha toca outra vez. Nela espreita pela porta e é outra vez Raul. Raul entra. beijam-se. Raul despe Nela e fazem amor no chão. Raul vai-se embora. Nela fuma um cigarro. vai tomar banho. veste-se. faz um chá. toca a campainha. é Dora. entra e beijam-se.

Sem comentários: