domingo, 1 de junho de 2008

pensa-se sensível. despido. não se olha para trás. há um registo algures que se procura em silêncio. no silêncio. uma dança nas ruas. gente. passar por entre os corpos e tentar não tocar. como se chovesse e se fugisse da chuva. as vozes. os olhares. os percursos. dançar pela rua com a chuva na boca que cai louca. que molha o corpo frenético. resiste-se. um cai. outro levanta-se. repetem-se coisas. frases. olhos que saltam do anonimato. das formas. fantasmas que te perguntam o nome mas não te vêem. caminhos irreais. sonhos dispersos. anatomias distintas que se encaixam mas sem se absorverem no infinito. no infinito onde as coisas se encontram realmente. tens uma sombra que te acompanha. se te dispararem com vários feixes de luz tens várias sombras. é uma espécie de regresso. origens nenhumas. é então preciso queimar as bandeiras do medo para começar a agir. apagar coisas que não se apagam. mas que precisam de ser enterradas para poderem viver. coisas que são escolhas. escolhas que são coisas. corpos. distintos. imagens que se projectam na carne. a verdade é que só há um sangue. independentemente das vozes que te chamam. só há um sangue. uma forma. brilham as crianças com o seu sentido disperso e carnal. textos queimados. alguns por nascer. alguns que não nascerão nunca. ficaram em estradas. viagens. pessoas. casas. textos solidões. textos fogo. textos frio. textos alimento. textos alguém. que se emancipam para te fugirem. deitas-te. dormes no branco. não ouves nada. acordas. quem és? quem te acordou? quem te leva para o lado outro do mundo? dormes com outros braços. outras pernas que são outras outros. dormem. outras outros o mesmo em volta do mesmo os dois são um. o amor. andar nas ruas. andar pelas ruas e assobiar uma música qualquer. não importa qual. chegas a casa. bebes. dormes. levantas-te. o dia. o brilho do dia. ou o cinza do dia. já ninguém te lê como te escreves. já não te escreves. já só te lês. estás como que fora de ti. projectas-te. és a sombra ou o corpo? qual é o verdadeiro? os dois? nenhum? qual? a vulnerabilidade das situações. a dança parva na chuva. os beijos na água. as palavras sussurradas. as distâncias que te atiram contra as paredes como se estivesses com álcool a ocupar-te. as conversas que te sugam. exteriores. as possibilidades abstractas. são fantasmas. não passam de fantasmas. são fantasmas. agora é diferente. não é o mesmo. é outro lugar. são outros braços. precisas de vozes que te embalem. da voz. do calor branco. gritas merda. merda. merda. merda. cospes o vazio que te aperta. o silêncio que te invade. o tempo que passa. pensas quando. como. tens de esperar. detestas a espera. detestas a merda da espera. tomas um banho. rasgas-te. limpas o nunca que te suja. lá fora o silêncio é exageradamente sólido.

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