segunda-feira, 2 de junho de 2008

teatro 1

já ando a meditar crimes. como sempre fui conservador a nível de teatro, houve coisas que nunca tive a coragem de experimentar, sempre achei que fosse demasiada exposição, que seria uma espécie de choque para o qual eu enquanto público não teria paciência, que fosse portanto um exagero. hoje em dia acredito precisamente no contrário, o público está de tal forma habituado à banalidade, ao mesmo registo, demasiado conformado com o seu papel, demasiado preparado para a teoria conspirativa, que já não consegue olhar nem para si nem para o mundo real. o público habituou-se a gerir a sua própria ficção do nada, a sua leitura orientada do espectáculo. o problema não é do público, o problema é do público e dos criadores da orientação, o problema é que o realismo perdeu o sentido quando o novo-realismo lhe acrescentou a codificação. uma coisa codificada implica um problema para ela mesma, o definir do código, é como uma língua. o público, com a efervescência do novo realismo e com a evolução absoluta e demasiado rápida da tecnologia e da circulação da informação, da fusão do novo realismo com o mundo que era agora virtual e ficcionado e não real físico, tornou-se insensível a todas as formas de violência exercida, excepto quando lhe toca. não quero perder a codificação do novo realismo. quero antes parti-la. o teatro pode não agredir o público no corpo mas pode agredi-lo no conceito, obrigando-o a questionar o que é real e o que é ficção, o que é simples leitura do acontecimento na ideia. ora, como a nossa vida já é apenas um feixe de luz impossível de fixar, excepto quando buscamos a força do segundo e do instante ou quando somos confrontados e violentados, mesmo que com flores, pelo espelho da nossa violência ou pela presença dela na verdade, a única alternativa que procuramos é a da força. precisamos de força e de potência. daqui vem a ideia do choque, do regresso ao choque, já não é a teoria do bicho, nem a da necessidade, nem a da vontade, nem a da urgência, é uma nova teoria para o teatro, feita com base na sua insuficiência e no seu desligar. trata-se de uma correspondência entre uma teoria e uma tentativa de prática que tem a base comum na exposição do indivíduo, na sua dúvida de si, na sua própria confrontação com o problema. o actor deve ser então alguém que se confronta com o problema, alguém que o expande, que o descontrola. o espectáculo deve ser então uma zona de guerra. ainda não há nada mais subversivo do que o amor.

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