quinta-feira, 4 de setembro de 2008

o actor no além

não é o actor do além, é o actor no além. o actor em suspenso, suprimido da respiração, entregue ao peso. é o actor que tenta com as unhas escarafunchar o ar que o agarra, que entra por si a dentro e se apodera do corpo inútil. o corpo do actor no além é inútil. o corpo que carrega a vontade necessária de voar ou de ter sentido. há um sonho estranho que o actor tem, o já não actor, o cada vez menos actor, os textos desapareceram, não há nada a dizer, é preciso inventar frases mas já ninguém as quer ouvir. o actor que não pode gritar-se, que não pode ter a sua rotina louca de falhar, de atingir por momentos a chave da vida, a mera possibilidade, mesmo não existente nunca. o actor no vazio que não tem máscara, que é máquina. que tenta dentro de si procurar algo que não é. actor. actor de quê? nisto a vida tem muito pouco a dizer. o actor não quer nada com a vida. quer mas outra. algures. um espaço gigante. um lugar de brilho de intensidade louca. o actor já pouco actor que quer voltar a tentar mas que cada vez está mais longe. distante de si. corpo revoltado. máquina assumida.

3 comentários:

Rini Luyks disse...

Que raiva, Pedro, não consigo lembrar-me do nome do actor (conhecidíssimo) na primeira foto...

Pedro Fiuza disse...

David Thewlis, imagem do filme Naked, de Mike Leigh, um dos filmes da minha vida.

Anónimo disse...

Ofcourse, mas afinal era mais o filme que conhecia do que o actor...
Já viste o último de Leigh: "Happy go lucky" (passou na Indie Lisboa, São Jorge em Abril)? Magnífico jogo entre a professora despreocupada Poppy (Sally Hawkins) e o instrutor de condução tarado, recalcado, etc. Scott (brilhante Eddie Marsan).