sábado, 14 de março de 2009
março... ontem ao abrir o mail lá vinha uma publicidade a um espectáculo de teatro, tudo isto porque se aproxima o dia mundial do teatro... o tão famoso dia mundial do teatro... em blogs amigos já se fala nisso e já vem o texto oficial deste ano, aquele texto que é lido em todos os espectáculos nesse tão famoso dia mundial do teatro. o dia mundial do teatro é irónico. os dias mundiais são sempre irónicos. claro que a ironia deste aqui me toca particularmente por razões óbvias, é do teatro, e o teatro... o teatro... o teatro... raios partam o teatro. a teatralhada viciante que circula no sangue e que se aguenta por enquanto até que sinta a necessidade de explodir. hei-de voltar ao teatro quando estiver quase a rebentar. explico esta situação: não sou propriamente um especialista da paciência e o meu nervoso miudinho anda-me muitas vezes nas veias a sacudir-se em convulsões, não é que me aborreça e detesto pessoas que se entediam facilmente, nisso sou como os gatos, uma bola já me chega, mas o teatro... dois minutos de mau teatro conseguem deixar-me num ponto em que os nervos me controlam, posso tornar-me facilmente insuportável quando me aborreço, detesto tédio, hei-de fazer o quê??? o teatro é realmente uma coisa gira e ser actor é realmente engraçado, é tudo muito bonito, é tudo como nos sonhos, viver aquelas cenas, a ilusão da classe, o ser quase diva, andar pelos escaparates como quem anda à chuva, tudo muito belo e amarelo. mas depois há os outros... aqueles que se estão nas tintas para a classe e para o escaparate e para o lado belo e amarelo, aqueles que o são por uma necessidade interna de explosão do eu para o outro, aqueles que estão desentranhados, desterrados, sacudidos por bombas atómicas, esquecidos pelo mundo, que passam fome, que vivem na guerra constante dos dias, que procuram comida no lixo, que procuram ombros. uns fazem teatro, outros são teatro. é normal. quase todos os espectáculos que se fazem neste momento são sobre a angústia, quase todos os filmes, quase todas as obras criativas desta nossa sociedade contemporânea sem ismos e chata são sobre a angústia. é um vício religioso. é uma necessidade estranha de mostrar preocupações teóricas em relação ao mundo. note-se: falo de preocupações TEÓRICAS em relação ao mundo. ultimamente nota-se sempre quando a teoria que sustenta um espectáculo é uma treta, geralmente fala da informação e da linguagem, isto são conceitos apanhados nos sociólogos/filósofos da elite burguesalhona dos 70's ou 80's que neste momento estão completamente ultrapassados. conceitos-chave da treta: manipulação da informação, orientação das massas, desintegração dos sistemas sociais, desintegração do eu, solidão acompanhada, individualismo exacerbado da sociedade moderna, fim do indivíduo, etc... etc... é talvez um vício deste novo já não novo século, mas ainda vem do século anterior. este século ainda não criou uma estética própria, tem umas preocupações, ambientais, económicas, pseudo-revolucionárias, etc... etc... mas a verdade é que o Ocidente ainda está demasiado seguro no seu aguentar do barco. de vez em quando surgem uns escândalos que provocam uns safanões mas que depressa se esquecem com a troca de cadeiras, nunca com um anular das posições. neste momento em Barcelona há uma inundação de cartazes com o tema SERÁ POSSÍVEL UMA REVOLUÇÃO NO SÉC. XXI? ora, é uma pergunta com uma resposta óbvia, uma revolução é possível em qualquer altura, a pergunta que se coloca a esta pergunta é: que revolução é que precisamos no séc XXI? e sinceramente, acho que o problema principal do teatro neste momento não deveria ser uma análise dos fenómenos, o problema principal do teatro neste momento deveria ser como tornar-se activo na transformação, que propostas têm os criadores de espectáculos, que se colocam fora do mundo para poderem analisá-lo com a sua intelectualidade superior, que propostas terão para o mundo? é que o teatro ensaio filosófico é muito giro e eu também gosto muito, mas há punhais que devem ser espetados até quebrarem os ossos. tudo isto por causa do dia mundial do teatro, esse dia em que as salas estão cheias e todos são amigos e participativos e todos se sentem estranhamente úteis. a mim o dia do teatro parece-me tão absurdo que não tenho intensões de lhe dar importância nenhuma nunca mais. o dia do teatro é todos os dias, quando se fazem espectáculos bons e maus, quando os actores são bons ou quando os actores são um desastre, quando as companhias fazem alianças e quando as companhias se dão facadas nas costas, quando se mendiga dinheiro para se fazerem espectáculos terríveis, quando actores saídos da escola do meio palmo de cara reclamam o teatro para si, quando os espectáculos são completamente vazios de sentido, tudo isso é dia mundial do teatro.
colocado aqui por
Pedro Fiuza
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1 comentário:
Olha Pedro Filipe, falas de "punhais ESPETADOS" e muito a proposito: no nosso blogue Anacruses Rui Rebelo reproduziu hoje o texto de Augusto Boal (ia escrever por engano "Bola", explicação despues) para o Dia Mundial do Teatro 2009. Neste texto reparei numa incongruência: ele fala de "ESPETÁculos" e "atores", mas também de "espectadores" ou seja o Acordo Ortográfico entra outra vez em cena, estou farto dessa merda (post "Aborto Ortográfico", Anacruses 15 de Abril 2008).
Uma boa notícia (ref. "Boal - Bola") para o sportinguista: o Benfica perdeu hoje à noite em casa (pela primeira vez nesta época) contra Vitória de Guimarães, afastando-se assim da corrida, um dia depois de uma reportagem no DN sobre Quique Flores, apanhado a viver "dias de paixão" em Lisboa com uma jovem nórdica qualquer que não é de certeza a mãe dos seus quatro filhos. Pobre Rui Costa também, mais uma temporada para o galheiro.
Pronto, já aviei...(para já, ainda falta fazer um post sobre Quique, o benfiquista de gema não perdoa).
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