domingo, 12 de abril de 2009

há pessoas no mundo que nos ficam atravessadas na garganta como se fossem espinhas. ficam até que se fique com a garganta ferida. depois ou o corpo as cospe ou o corpo as envolve, começam a fazer parte da carne, tornam-se no eu que as acolhe. tudo isto é ridículo. coisas atravessadas são sempre coisas por resolver. são silêncios impostos pelo desenrolar das coisas. a verdade é que é como se tivesses morrido. não me sinto como se tivesse acabado nada. morreste de uma forma brutal. poderia comparar o peso disto com a última cena da Castro. chega o mensageiro e diz a Pedro que ele acaba de perder tudo. como é que ele fica? um vagabundo pedinte no meio dos destroços da gente. sem respostas. com a voz perdida no vento. quando a única coisa que te responde é o silêncio ensurdecedor do nada que te ocupa. tudo isto é demasiado triste. não há nada pior do que isso. podem fazer-se trinta mil coisas. inventar fugas. desenhar corpos. meter conversas em sítios. olhar para as paredes. beber de mais. cair no chão. nada faz passar o estar triste. é uma condição revoltante. tenho pensado demasiado neste tempo e não consigo chegar a conclusão nenhuma. são caminhos opostos. uau. que beleza há então no tempo? o que terá sido tudo isto? enganos da vida? uma cegueira qualquer? já não consigo dormir facilmente. ali fico na cama, de olhos abertos, evito deitar-me, durmo pouco, antes tinha o adormecer mais simples do mundo, agora custa-me. o que é que interessa isso? já nem tenho voz. já nem sei se tenho vida. sinto-me demasiado vulnerável, frágil, desconectado, saturado. mas o que raio importará isso?

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