quarta-feira, 8 de abril de 2009

já não sei o que é. havia uma casa que era vermelha. ficava num cimo de um monte e era rodeada de árvores. corriam crianças à porta. todos eram demasiado felizes. era um sonho filme. com a luz certa do sol. as crianças com a roupa clara. uma que era menina tinha um vestido branco e corria à minha volta. atirava-me ao chão. e depois vinha um menino e começava a fazer-me cócegas até me deixar metido para dentro. e depois vinhas tu. e eu puxava-te. estavas estranhamente brilhante nesse dia. eras uma espécie de ponto luminoso que entrava nos meus olhos. de repente estávamos os quatro no chão e ríamos abraçados. todos nos abraçávamos. éramos todos o mesmo. não tínhamos muito, bastávamo-nos. cada um de nós tinha a sua vida que era única mas ali juntos não precisávamos de mais nada.
este espécie de fragmento de película é uma referência nos meus sonhos. ora, como fazer com que uma referência se evapore? se torne de repente pó, cinza, algo menos do que o mero nada? é fazer com que tudo se torne numa inversão estranha das coisas, tudo do avesso, sem nenhum direito que se consiga vislumbrar, ou imaginar, ou mesmo sonhar, é impossível quando já tens a referência, não há nada melhor do que a referência. e nem se trata de referência, trata-se de ser corpo já, de ser sangue, de ser dentro, de ser vida. de ser história.
é obrigar a cabeça a uma forma de solidão. é tornar o dia de cada vez num suicídio lento, difícil, custoso, sem objectivo, sem finalidade. comer respirar com umas evasões pelo meio que se focam nesse mesmo suicídio lento. no queimar da cabeça. quanto mais depressa se queimar a cabeça mais o corpo só tem que aguentar. e um dia está uma chuva terrível e está-se numa cidade qualquer cheia de ladrões algures em África, é-se um vagabundo da vida. tem-se uma mochila com uns cadernos e a roupa que se traz vestida. a fome já aqui deixou de existir. já todos se esqueceram. já tu te esqueceste.
há uma casa que é já azul ou verde ou outra cor qualquer num monte qualquer. e haverá os monstros obscuros da vida que não se souberam colocar nas coisas e que deixaram de lutar porque não queriam lutar, eram monstros que pensavam que se alimentavam de ilusões. o mundo está cheio de histórias assim. da luz à obscuridade. de pessoas que se tornam fugitivas da vida que não podem ter. enfim... já nem sei o que diga. é aguentar. é aguentar.

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