sábado, 20 de setembro de 2008
um texto sem palavrões pode ser muito giro... mas não se pode dizer que sirva de limpeza ao dentro. ando a perceber que já não sei escrever sem palavrões. há as coisas institucionais, claro, mas isso não conta. estou a falar dos textos individuais. textos meus. textos exorcistas. por exemplo: ando enervado, seria normal escrever um palavrão ou outro, seria normal chegar aqui e exorcizar o que me desse na gana da maneira que me apetecesse, mas não, chego aqui e falo da ausência dessa concretização, não escrevo palavrões!!! o que me apetece escrever não importa. importa é que não o posso escrever como tiver vontade. o tempo passa. é normal. as pessoas enfiam-se nas coisas. é normal. há coisas e há coisas. é assim. vai-se para a rua ver os restos porque se esteve a viver um resto também. pensam-se palavrões durante o resto. apanha-se seca. quer-se respirar um bocadinho. quer-se fazer amor. é normal. tudo isto é normal. tudo isto é tão demasiado normal que enerva. mas por que raio é que eu não posso estar com quem quero? mas por que raio de raio é que as coisas se têm de desenrolar assim??? pesadas, cheias de engonhanço, com esquemas e mentirinhas e enfim... cenas!!! não escrevo palavrões, é certo, mas penso-os. digo-os!!! digo-os tantas vezes quando falo sozinho que já me custa não os dizer quando estou a falar com pessoas!!! juro!!! até em família!!! é verdade. ó pá puseram-me no mundo e não me impediram de aprender certas palavras... podiam era ter-me ensinado coisas mais simples: como ser uma pessoa perfeita, como não ter escolhido teatro, como ter-me tornado um gajo possível para uma relação a dois, como não ter de fugir de problemas parvos criados por mim... tantas coisas que me podiam ter ensinado que, enfim... agora espero que não seja tarde para as resolver dentro de mim e na vida com o mundo. mas eu estou a falar mas isto não é nenhum problema, eu não quero ser um problema, isto é tempo. tempo. é só tempo. mas a vida não se resolve a parar. a velhaca da vida não se resolve a parar, tanto jeito que dava se ela parasse e se se pudesse respirar para pensar bem nas coisas. ainda hoje me lembro de quando desci as escadas da escola secundária no primeiro dia de aulas e pensei: "estou a descer isto para passar tempo, o que eu quero é estudar teatro!", passei esse ano a ver coisas e a fazer coisas, acabou o ao lectivo e fiz as provas para a escola de teatro, a minha escolinha mais linda, entrei, tirei o curso, tenho um curso de teatro, é o que eu sei fazer, é o que eu quero fazer, fiz uns bons espectáculos, fiz umas banhadas de uns espectáculos, é normal. eu e o teatro andamos agora chateados um com o outro. é normal, as relações gastam-se, mas há marcas que deixam cravadas no corpo. quero ser pai, preciso de ser pai, é uma coisa que sinto necessidade, mas onde raio é que tenho condições na vida para ser pai? para ter uma mãe? isto é uma cosa que me bate na cabeça muitas vezes. com tudo o que já fiz o que é que tenho? resposta: nada. nada não, tenho o amor e tenho o corpo alterado. mas concretamente: nicles, continuo sem ser respeitado profissionalmente na minha área, ninguém me leva a sério, sou uma nulidade autêntica em diversas coisas, falho redondamente em outras, o que terei eu para dar? boa-vontade??? que vá passear a boa-vontade!!! ando pela rua a inventar histórias e a adivinhar a vida das pessoas, ando com sonhos estranhos, fumo demasiado, desligo a cabeça frequentemente. é que passados uns tempos uma pessoa já se pergunta: "então? mas serves ou não?" e a resposta mais óbvia é sempre o não, não sirvo, sei lá se sirvo, já fiz tanta porcaria na vida, não tenho medalhas nenhumas, vou para um restaurante cheio de medo e a pensar no que terei feito mal só para aliviar o que irei ouvir depois porque sei que vou ouvir alguma coisa!!! porque talvez só tenha mesmo essa boa-vontade para dar!!! e é bem possível que a verdade seja bem dura e eu tenha feito mesmo algumas coisas bastante mal. é possível. uma coisa vos digo: ando mesmo mesmo mesmo com vontade de fazer teatro. a minha vida pode correr toda ao contrário mas eu preciso de fazer teatro, preciso do amor, preciso dos amigos. todo o resto é conversa. quero lá eu saber quando é que virá o papão para me chatear os sonhos...
colocado aqui por
Pedro Fiuza
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1 comentário:
Aguenta, aguenta, caro Pedro, só faltam três semanas até a reabertura das portas da tua "represa linguística" auto-imposta.
Depois deixa outra vez correr livremente e com toda a força o teu fluxo palavrónico, fecundando terras ainda estéreis desta blogosfera...
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