quarta-feira, 14 de maio de 2008

desabafo exorcista

nunca falei nisto, mas há uma coisa que me aflige muito mais do que: a Câmara do Fundão, a Estação, o Teleguine, o Gil (menos no dia em que resolver fazer o Hamlet porque nesse dia mato-o), a Moagem, a programação parva, o PSD, o PS, o PCP, o PNR, o Sócrates, o Cavaco, os políticos em geral, alguns bastante em particular, o Lobo Antunes, o Paulo Coelho, a internet lenta, pisar merda, pão seco, televisão dobrada, ter feito o Ubelhas sem dar um tiro na cabeça, o Sporting ter perdido a final da UEFA em casa, Portugal ter perdido a final do Euro em casa, entornarem-me cerveja para cima nas discotecas, a Rebelo Pinto, a Nogueira Pinto, o Pinto da Costa, a fraude do 25 de Abril, os neo-fascistas, os ex-comunistas, a violência policial, a violência social, os tremores de terra, não ter bicicleta disponível no Bicing, cheirar a suor, estar mau tempo, ameaças no mail, comentários anónimos no blog, ter de emigrar, estar exilado, carregar tijolo, ter insónia, jazz mais de duas horas, não ter o meu computador comigo, não ter os meus livros comigo, ter contas como o caneco para pagar, ter de as pagar, ter de morrer, a minha gravidez, a possibilidade de não voltar ao palco depois da próxima vez, passar a ferro, ir na rua e levar com cagadelas de pomba ou gaivota, ser ultrapassado por outra bicicleta, perder nos matraquilhos, saber quando tenho razão e isso não importa, café queimado, leite com nata, bacalhau com muito sal, arroz com pouco sal, estar a ficar careca, receber newsletter's sem interesse nenhum, não poder encenar todos os clássicos do mundo, não poder nem sequer lê-los, resumos, escrever sinopses, as Finanças, a Segurança Social de Portugal, o desemprego, a cerveja morta, a água espanhola, o homem do talho, homem do gás, as obras na parede ao lado, o roer as unhas, o estalar os dedos, o arrastar os pés, o Nuno Cardoso, o José Couceiro, o Maniche, o Alberto Caeiro, a editora Quasi, as sessões de poesia com vinho tinto, os diversos ministérios da Cultura depois do Carrilho, a vontade de fazer xixi e não poder fazer, as viagens longas, as digressões longas, os hotéis, o meu olho direito, mulheres muito novas com homens muito velhos, cidades feias, restaurantes maus, pensões com os quartos sujos e sem comando para a televisão, o não ter um estilo próprio quando escrevo, o não conseguir estar calado em relação a certas coisas, a minha burrice em relação à maior parte dos assuntos, o dizerem-me que eu devia ter ido para contabilista, o chamarem-me constantemente egoísta, o chamarem-me quase sempre cobarde, o quente exagerado do Verão, a fome, as saudades, o Benfica, a ressaca depois de uma noite daquelas, mau whisky, os programas da manhã e da tarde em Portugal todos iguais, o patrão Belmiro de Azevedo, a cerveja Mahou e a San Miguel, fazer festas em rastas, tatuagens naquele sítio entre as costas e o rabo, tangas e fios, apanhar seca, tomate cru, a nossa senhora de Fátima, aquele burro nacionalista que está preso por causa das armas, racismos, nacionalismos e outras palermices do estilo, a violência no desporto, a bananice do teatro, os pseudo importantes do teatro que mereciam era uma lambada, os subsídios mal distribuídos, a máfia das companhias de teatro em Portugal, máfia, nem máfia é, é um jogo de poupança!!!, pessoas que fazem das outras burras e que pensam que ningém vê, as touradas abjectas, os universitários burros, os betos do PP, a Zara, estar doente, acordar estupidamente cedo, o Natal, a pedofilia, o país de merda em que Portugal se está a transformar, o silêncio das pessoas, o carneirismo pamonha panhonha patego, os que são contra quem fala porque estão bem instalados, descascar fruta, não ter um grelhador, fazer realmente maus espectáculos, conversa de circunstância com quem não apetece, entrevistas de emprego, a TVI, o pessoal que só falta lamber o chão dos outros para ficar bem na vida, a onda das tasquinhas para encher o olho, os incêndios florestais, os Estados Unidos, Israel... enfim muita coisa me aflige mas nada nada nada como ter de escrever para não pensar na verdadeira angústia que é a de eu não ter tabaco. e de estar nervoso por não ter tabaco. porque se há coisa que eu odeio é não ter tabaco. detesto não ter tabaco. e sinto mais a falta se não tiver. e isso enerva-me. e como estou enervado só me apetece dizer mal de tudo. mas é por causa do tabaco. do maldito tabaco. do fumo quente do tabaco a passar na boca, a preencher-me por dentro, a espalhar o seu veneno mortal... tão bom... caneco para o tabaco... maldito tabaco, vou tentar esquecer que ele existe... nos meus lábios... nos meus dedos... o fumo quente, quase que dança, e o papel arde devagar e parece que dá pequenos estalos... que raiva... fuge... fuge... shttt, sai de mim, vontade maldita de trepar paredes de me roer de me arranhar... raiva. raiva. raiva.

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