quinta-feira, 8 de maio de 2008

ficções da vida 2

desde que o meu novo clube perdeu de uma forma brutal com o meu novo anti-clube que nada disto tem sido o mesmo, até o tempo mudou, as ruas estão desertas, as pessoas quase tristes (com uma tristeza que é sempre um pouco alegre porque afinal de contas isto é Barcelona), os cafés e os restaurante vazios... enfim... merda para o Futebol, bem, e já agora, merda também para o kebab, que não me ligaram os sacanas!!! mas onde é que eu ia? ah, já sei, que as ruas estão desertas e não se passa quase nada... pois, mas estava eu a sair do meu restaurante mais giro quando me deparo com um daqueles fenómenos italianos que já muitos de nós temos consciência, não se trata de nenhum carro, trata-se de uma fenómena com um metro e oitenta de altura, pele clara, cabelo castanho um pouco abaixo dos ombros, vestida de uma forma ligeira, nem desportiva nem clássica. penso, porra, que meu deus!!! não estou preparado para isto. há fenómenos que não deveriam ser permitidos, ou então permitidos mas às escondidas, isto não é vida... começa a chover... o destino prega a rasteira de nos metermos os dois debaixo do mesmo alpendre, repito, debaixo do mesmo alpendre!!! chove como o caneco!!! porra. saco de um cigarrito Fortuna, acendo-o, ela olha para o meu cigarro, pede-me um, pede-me fogo, eu dou-lhe. ali ficamos uns segundos de respiração pausada, de suspensão no tempo. os dois debaixo do mesmo alpendre, o vosso narrador farrapo e o fenómeno italiano!!! a língua italiana não me excita minimamente, não vejo particular interessa, acho-a demasiado geométrica cantada, enfim... mas não é que o fenómeno me trauteia um como te chamas? lá lhe digo Pedro, porque é como me chamam aqui, o Fiuza foi-se. ela, Sílvia. as apresentações estão feitas. assim é que é, temos desenvoltura!!! lá continuamos na cigarrada mas meio em silêncio, cortado por uns risos tensos que se soltam de vez em quando para aliviar. acabamos o cigarro quase ao mesmo tempo. continua a chover. eu pergunto-lhe se ela quer um café. ela diz-me que sim. eu digo-lhe que o meu patrão tem um café ali perto que até é giro e tal... ela, altamente, lá vamos arranhando uma conversa em castelhano, vamos rindo, chegamos ao café, ocupamos uma mesa. eu peço um solo, ela pede um curto com água quente à parte para misturar, diz que gosta de café fraco, falamos um pouco sobre a merda do café de Espanha, somos os dois de países onde há o culto do café, Portugal e Itália!!! ali estamos, falamos de música e da vida, ela diz-me que é arquitecta mas que está a fazer uma pausa, que precisava de pensar na vida, que precisava de viver, eu digo-lhe que estou mais ou menos nas mesmas condições. os olhos dela deixam-me nervoso e não deixo de olhar para a sua boca. começo a sentir-me parvo. Sílvia Sílvia, quem és tu??? o diabo feito gente!!! já não chove, vamos para a rua, pergunto-lhe o que quer fazer, ela quer passear, encontramos os paquistaneses com a inevitável cervezabeer, zumba, cervejas na mão, Barcelona fora, descemos o Passeig de Gracia, comentamos as montras, as casas do Gaudi, as cenas que para ali há. chegamos à Praça da Catalunha, pergunto-lhe onde vive, ela diz-me que vive no Raval, eu digo-lhe que vivo no Arco do Triunfo, ela diz-me que a casa dela é mais perto e que tem uma garrafa de vinho tinto... devo ter rezado uns padres nossos porque fiquei bastante nervoso, já estava a ver o que estava para acontecer!!! qual quê??? nem metade imaginei!!! chegamos a casa dela, é num último andar e tem uma terrassa altamente, casa com pouca coisa, tons claros, móveis IKEA, como toda a gente nova... diz-me para eu me sentar, eu sento-me, ela abre o vinho, ri-se sozinha, serve os dois copos, brindamos, ela bebe, eu bebo, toque para aqui, toque para ali, ela diz que há uma maneira de ver se o vinho é bom, eu pergunto que maneira é essa, ela beija-me de uma maneira que me deixa quase zonzo... tens razão, o vinho é mesmo bom, penso eu... ela diz que sim, que o vinho é bom, espectacular, estamos em sintonia. passamos da mesa para o sofá, pergunta-me se gosto de jazz, digo-lhe que nem por isso mas que não me faz doer a cabeça!!! mandei uma piada má... enfim... faz parte... ela agarra num Chet Baker, toca a tocar, senta-se ao meu lado, agarra-me no copo, põe o copo ao lado do copo dela em cima da mesa de vidro, beija-me, ri-se, beija-me, ri-se mais, faz-me festas no cabelo, fala-me baixinho, falamos devagar, damos beijos cada vez maiores, tiramos as roupas, fazemos amor no sofá ao som do My Funny Valentine, foi bonito, ela vai buscar uma manta, ali ficamos os dois. liga a televisão e vemos o Buenafuente e o Chiki Chiki. fazemos amor outra vez. e ali ficamos acordados a trocar carícias. acordamos cedo com a luz do Sol a bater na cara. abraçamo-nos. pergunto-lhe se posso fazer o pequeno-almoço, ela diz que sim. faço. ela tem uma cafeteira das que eu gosto, dá para fazer um daqueles cafés de casa, que bom, mais umas torradas... ai... que boas vidas... olhamos um para o outro, nem acreditamos, rimos, voltamos a beijar-nos, voltamos a fazer amor, iluminados pelo dia, com uma luz disfarçada de dia de névoa, gritamo-nos juntos. caímos para o lado. digo-lhe para ir tomar banho, que vamos passear, lavo a loiça, ela volta já pronta, dá-me um beijo na parte de trás do pescoço, gosto, vamos para a rua, ela trás uma máquina, tiramos fotografias um ao outro. parecemos crianças apaixonadas. tenho de ir a casa. tomar banho, vestir roupa lavada, tenho trabalho à noite, vou, ela dá-me o número para eu lhe ligar... a ver... não pode ir depressa de mais e em alhadas não me quero meter, mas depois do trabalho vou ter com ela.

já sabem que tudo isto é uma aldrabada ficcional e que nada disto é verdade. ainda que experimente usar-me como personagem nestas aventuras, posso garantir mesmo que nada disto é real. a tal de Sílvia é uma peta. isto são só historias parvas.

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