terça-feira, 13 de maio de 2008

ficções da vida 5

já tinha mandado o kebab para o caneco, não me tinham ligado a dizer nada, já estava de volta à grande saga do curriculum, eis que me toca o telefone para marcar mais uma entrevista, lá vou eu, feito velho gaiteiro, armado aos cucos para a tal entrevista, já sem medo nenhum, nem nervos nem nada, tal é o hábito... chego, preencho o formulário com as questões já conhecidas, até vou bem disposto, embora tenha dormido pouco. chego lá, tudo muito simpático, papel para a mão, caneta para escrever, vai de preencher as questões colocadas. entro para a sala do entrevistador, tipo simpático, pergunta-me se sei que estilo de empresa é aquela, eu respondo que sim, pergunta-me se eu tenho disponibilidade para sair de casa uma semana por mês, torço um bocado o nariz... esta de sair de casa... então no estado em que está o mundo, ainda me levam aí para uma casa no campo das que tem uma clínica montada na cave e me tiram os orgãos, ou me dão a comer aos crocodilos dos esgotos, este tipo de mitos urbanos de que eu tenho uma cagufa tremenda... mas enfim, lá lhe digo que até pode ser, que sim, que até sou capaz de sair de casa. fala-me um bocado das cenas, pergunta-me se eu estou a trabalhar, eu digo que sim, se eu quero deixar o emprego, eu digo que por enquanto não, o gajo pergunta-me se no emprego que tenho tenho a Segurança Social em dia... eu digo que sim. torce ele o nariz... diz-me que sendo assim que não dá... houve um clarão na minha cabeça! será que todas as portas que se me têm batido na cara têm essa reacção por causa da Segurança Social??? cum catano!!! preciso de reflectir... dizemos adeus com toda a simpatia do mundo, saio, saco do cartão do Bicing, que foi das poucas coisas com que fiquei depois daquela história com a holandesa e com o pai, agarro numa bicla e pedalo para reflectir e para ir para outro lugar. passo em frente à Sagrada Família, está um sol altamente, bom tempo. preciso de reflectir. reflectir é muitas vezes uma forma escondida de fazer nenhum, o pessoal reflecte quando está de ressaca ou depois de ter feito cagada da grossa ou depois de ter sofrido cagada da grossa ou de vez em quando... eu detesto reflectir. mas neste momento precisava mesmo de fechar a cabeça para balanço. será que tinha de optar? mas eu gosto tanto do restaurante onde trabalho. para resolver questões na cabeça e não cair no meu vício de avestruz que é enfiar a cabeça na areia nas alturas decisivas, fui até à praia levar com sol nas ventas e fumar uns cigarros, tudo isto era o cenário perfeito para reflectir. lá ia eu na bicicleta a falar com os botões e com o ar. não estava mesmo nada preparado para essa revelação... eu nunca tive jeito nem paciência para essas coisas das Finanças e leis do trabalho e Seguranças Sociais... mas aquilo foi um treco lareco na minha cabeça... porra, se tivesse sido contabilista com esta não me apanhavam desprevenido!!! essa é que é essa!!! lá fui eu reflectir até à praia. montado na bicla, vento na cara, sol na cabeça, deixo a bicla numa paragem, a inevitável cervezabeer, tiro as chinelas, ando pela areia, sento-me de frente para o mar, lá estou eu a reflectir. ao lado uns putos brincam feitos papalvos. ali estou eu, feito papalvo também, na minha reflexão, quando dou de caras com a porca da Rita que me tinha surripiado o cervejum no balcão no fim de semana!!! tinha na minha cabeça que eu e essa Rita cá havíamos de ajustar as nossas contas, arregaço as mangas, chego ao pé dela, digo-lhe então, lembras-te de mim sua grande estrunfa?, ela diz que não, claro, deve sacar o cervejum a tantos que já deve ser tudo igual! bem, ali estou eu com conversa para aqui, conversa para ali, quando penso porra, tenho de reflectir e não posso estar aqui a gastar o meu tempo com esta estrunfina, passo imediatamente à acção, dou-lhe uma surra nas ventas, deixo-a estendida sem sentidos, tapo-a com a toalha de praia porque não quero que ela apanhe nenhum escaldão, vou para outro lado com o sentimento de dever cumprido, cervejum nunca mais sacas sua estrunfa!!! lá me sento um pouco mais longe, a reflectir, que era para isso que ali estava. ouço uma ambulância ao longe, olho, estão a levar a Ritinha, coitadinha... se eu bebesse Coca-Cola de certeza que não tinha sido assim... enfim... que tenha umas melhoras rápidas e, já agora, que corte aquele cabelo ensevelado. bem, reflicto, penso um bocadinho, começo a deitar fumo porque a falta de hábito e a capacidade não ajudam, penso, penso, cervezabeer, penso mais, penso ainda mais, cervezabeer, cervezabeer, penso, cervezabeer, cervezabeer, cervezabeer, cervezabeer, cervezabeer, cervezabeer, o sol nas ventas, cervezabeer, esqueci-me de pensar mais, deixei-me dormir ali. acordo com um chuto nos tomates, mando um ai jesus fininho, estou bem tramado, é o namorado da Rita... agora não por favor, digo-lhe eu, deixa-me dormir só mais um bocadinho... ele deixa. acordo mais calmamente e ele ali está a dar na cervezabeer e a chorar como um desalmado!!! eu que detesto ver pessoas a chorar, dou-lhe umas palmadas nas costas e digo-lhe o nosso habitual pronto já passou, quando a verdade é que na maior parte das vezes não passou coisa nenhuma. bem, se o gajo não tivesse sido compreensivo e não me tivesse deixado dormir... se tivesse entrado numa de violência... eu estava bem tramado, o gajo era o porteiro da disco onde a Ritinha trabalhava... ui ui ui, que malha que eu levava... mas por sorte calhou-me um musculado sensível... não foi mau... levantamos o rabo da areia, digo-lhe que a melhor maneira de aliviar o stress, uma delas, é andar de bicicleta!!! ele também acha. lá vou eu cambaleante para o Bicing, atordoado, o músculo andante despede-se de mim, chama uns nomes feios à sua Ritinha, que eu nem percebi, era na língua deles, monta-se na bicla, ele era tão forte que os pneus vão um bocado abaixo!!! é para verem a malha que eu podia ter levado!!! lá me monto eu na bicla e vou a fazer s's pelo caminho. não reflecti muito nessa tarde, mas de qualquer maneira... não é coisa que goste muito... bem, a conclusão a que chego é que tenho de continuar a entregar o caneco do curriculum... é assim... algum há-de vir... e se a Ritinha não melhorar sempre posso oferecer-me para sacar as garrafas cheias de cervejum. sempre é uma maneira de fazer os clientes beber mais... há uns que bebem tantas que já nem se lembram do que aconteceu à garrafa!!! esse é um bom trabalho. se me perguntassem então o que fazes? eu diria triunfalmente saco cervejum!!!, isto tinha uma pinta do caraças, acho eu, tinha ou não tinha?

1 comentário:

G. disse...

Lol estive em barcelona a semana passada e nós grizavamo-nos com a cena do cervezabeer lol
Tá porreiro, o texto.