terça-feira, 20 de maio de 2008

A Última Carta do Exílio

nem tudo são dias. também há noites. também há escuros. também há caminhos turvos. vozes distantes que te empurram para um limite da cabeça. vozes presentes. vozes que são o que tu és. dão-te o lugar, tiram-te o chão. voas agora? não voas? problema da tua consciência. é tudo um problema dos teus pés. um problema da tua vidinha de insecto sem nada, mínimo, insignificante, que mergulha nos seus pequenos jogos de pessoa, jogos escondidinhos de possibilidades nulas. claro que podes falar! então se não perdes nada!? estás encostado numa parede que te vai cortando as costas e tens bichos pela frente que te empurram, tu queres os bichos mas eles empurram-te, as costas que vão ficando dilaceradas com a tua deserção, com a tua fuga aos bichos numerosos, que te comem o cérebro enquanto te beijam os ossos. estás vazio agora. distante. mesmo a voar levarias tempo. parece que desapareceu a voz. vives com o silêncio que é o pior que pode acontecer a quem está fora. batalhas mais uma vez. dentro de ti há um outro corpo que se consome de uma forma sanguinária, que se te consome. ele és tu. os zumbidos dos bichos. as costas. olhos fora. vazios. chora cão. chora cão. chora cão que te faz bem. para a próxima não sejas egoísta. para a próxima não centres o mundo nesse meio dos olhos para dentro. tudo o que fizeste foi merda. nada mais. merda pura. e agora como é? agora estás longe e não há nada a fazer... mas isto é tempo!!! mas não me interessa a mim. corto-te carne e esmago-te os ossos com a maior facilidade do mundo. sei como te atingir. és um alvo fácil. quero ter direito a tudo aquilo a que tenho direito. mas eu agora. tu não existes. tu és uma referência algures, em algum lugar desconhecido. ninguém sabe a tua vida. antes estavas presente. nada servia. a casa era deitada abaixo. reconstruída sobre a ruína. limpeza nenhuma. venenos no corpo e andar. acordar e ser diferente. a noite oculta-se enquanto se dorme. as histórias percorrem-te as veias. apertam-te. sufocam-te. passas a ser outro na distância. atinges o impossível e não podes descer ou subir mais. o que tiveste de fazer não importa. o que fizeste não importa. passa a haver apenas a medida do impossível. a referência do nada. o insecto reles e rasteiro na sua pior forma é o que ocupa a memória. metem-te as armas na mão e dizem dispara. não te dizem para onde nem como. dizem que não te empurram mas a marca da mão no corpo não engana. mas a verdade é que é o corpo que se anula. é o corpo que foge. é o corpo que se enfrenta. tens de lutar??? tens de lutar se tiveres dúvidas. vais dormir se conseguires.

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