terça-feira, 27 de maio de 2008

o poema escrito com o outro lado

a sorte está lançada, nada nos abandona
seguem-se os riscos e os caminhos
lançam-se redes
fazem-se viagens dentro de viagens
terra
pessoas
água
coisas mais ou menos invisíveis
estás no abismo mas suspenso por uma corda
uma corda que é a tua história
a tua história
tens alturas em que fixas o olhar no que vem
incha-se o corpo de uma maneira insatisfeita
o sangue ferve na sua imensidão de energia
na tua frente pode estar o silêncio
a escuridão
a luz da cegueira
a luz da vontade
pode estar um deserto absoluto do sentir
a guerra sem tréguas
o ser prisioneiro
estar na sombra debaixo de uma árvore
ou projectado nos ecrãs
com segredos
a vida é uma roda que o tempo te traz
ou vai trazendo
uma escolha constante nos confins da cabeça
do corpo
do mundo
acumulas coisas que te aquecem
que te esquecem
que se vão
mesmo as que se vão te ocupam
tudo permanece
caminhas
cospes no chão que pisas
saltas em cima das rasteiras do senhor do lado
não saltas
estatelas-te no chão de pedra
fazes feridas nas mãos
cicatrizas
segues o caminho
a andar no ritmo
voas
dormes
cais
andas
amas
vives
dizes
fazes
estás aí
mordes um cão
passa-te um carro por cima
cai-te um meteorito na cabeça
marcas um golo num estádio cheio
vais ao espaço
morres
não morres nunca e se sim não importa
porque tens de continuar
continuar
insistir nisso
nessa coisa que vês sabe-se lá onde
nesse objectivo
sentido
treta
ilusão
certeza
nessa merda que tens diante dos olhos
e te obriga a andar permanentemente com a porcaria da corda no pescoço
com o sorriso na boca

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